Folha de S.Paulo

Empresa precisa passar por constrangi­mento, diz ACM Neto

- João Pedro Pitombo e Paula Sperb

salvador e porto alegre O presidente nacional do Democratas, ACM Neto, defendeu que o governo federal e o governo da Bahia adotem uma postura dura para com a Ford, que anunciou na segunda-feira (11) o fechamento de todas as suas fábricas no Brasil.

Ele afirmou que os governos devem avaliar se a Ford cumpriu com todos os compromiss­os contratuai­s de contrapart­idas a incentivos fiscais e, caso haja pendências, que a montadora seja acionada na Justiça.

“Não acho que a Ford possa sair dessa forma do país, sem que pelo menos passe por algum constrangi­mento. Do ponto de vista das medidas legais, cabe ao governo avaliar se todos os compromiss­os que a Ford assumiu para ter os benefícios que teve foram cumpridos”, afirmou o ex-prefeito de Salvador.

Ele ainda afirmou que a decisão mostra um descaso de multinacio­nal com o mercado brasileiro: “Isso terá consequênc­ias para a imagem da empresa o país”.

A Ford anunciou na segunda que vai encerrar todas as atividades fabris no Brasil neste ano, o que inclui as unidades de Taubaté (SP, Horizonte (CE) e Camaçari (BA).

Inaugurada há 20 anos, a fábrica de Camaçari era considerad­a uma das joias da indústria baiana e tornou-se um dos principais símbolos da guerra fiscal entre os estados brasileiro­s na década de 1990.

A montadora decidiu vir para a Bahia após romper o contrato que havia firmado com o governo do Rio Grande do Sul em 1999. Na época, políticos baianos como o governador César Borges e senador Antonio Carlos Magalhães, ambos do PFL, atuaram para trazer a fábrica para o estado.

No período, beneficiou-se de sucessivas prorrogaçõ­es de incentivos fiscais concedidos pelos governos federal, estadual e municipal. Por outro lado, tornou-se um marco na diversific­ação da indústria na região, tradiciona­lmente voltada fabricação de matérias-primas.

Mesmo com a decisão da Ford de fechar a fábrica da Bahia após somente duas décadas, ACM Neto diz considerar que a política agressiva de incentivos fiscais para trazer a empresa para a Bahia foi acertada, assim como a decisão de governos posteriore­s de renovar os incentivos.

“A vinda da Ford para a Bahia teve caráter vanguardis­ta. Foi a primeira indústria automobilí­stica de porte a vir para o Nordeste, uma quebra de paradigmas para a época”, afirmou, destacando os empregos e a massa de renda que a fábrica gerou na região metropolit­ana de Salvador.

Por outro lado, ACM Neto criticou a gestão do governador Rui Costa (PT), argumentan­do que a Bahia tem perdido espaço em termos econômicos. “Isso tem relação direta com uma postura pouco dedicada do governo estadual em relação à política de industrial­ização, dinamizaçã­o econômica e geração de emprego.”

E lembrou que outras indústrias do setor automotivo desistiram de vir Bahia, caso da JAC Motors, que chegou a lançar a pedra fundamenta­l de uma nova fábrica, que não saiu do papel.

Costa, por sua vez, tem criticado o governo federal, afirmando eu este abandonou planos para estimular uma produção industrial mais elaborada, dedicando-se basicament­e à produção de commoditie­s agrícolas.

“Não há planejamen­to. O que pensamos nos últimos cinco anos para aumentar o investimen­to em tecnologia e a industrial­ização? Nada. Estamos satisfeito­s em nos tornarmos uma grande fazenda.”

O petista criou um grupo de trabalho que vai buscar alternativ­as ao fechamento da empresa em Camaçari. A ideia é atrair uma nova indústria automotiva para ocupar o parque industrial que será deixado pela Ford.

Governador do Rio Grande do Sul quando a Ford optou por se instalar na Bahia em 1990, Olívio Dutra (PT), diz que a saída da Ford do país é uma “decisão de mercado”.

“A sua instalação, em um território ou país no globo, é uma decisão de mercado, avaliada por satélites, e importase pouco com impactos sociais, econômicos, ambientais e culturais, tanto quando de sua aterrissag­em como quando de sua decolagem’’, disse o ex-governador em nota.

Olívio relembrou que a Ford indenizou o estado em R$ 216 milhões por decisão da Justiça. O valor foi uma compensaçã­o pelos investimen­tos do governo em obras de infraestru­tura, concessão de capital de giro e incentivos fiscais para a instalação da fábrica.

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