Folha de S.Paulo

Lojas de veículos ameaçam ir à Justiça contra alta do ICMS

Revendedor­es de usados são os mais revoltados; imposto sobe nesta sexta

- Eduardo Sodré

são paulo Entidades ligadas à distribuiç­ão de veículos entraram na guerra contra o aumento do ICMS no estado de São Paulo. Nesta quartafeir­a (13), os representa­ntes do setor confirmara­m que podem judicializ­ar a questão e afirmaram que os reajustes no tributo irão gerar desemprego, evasão fiscal e fechamento de lojas.

Em reunião marcada para esta quinta (14) com a Secretaria da Fazenda, os empresário­s tentam pela última vez modificar as novas regras antes que entrem em vigor.

“Os mais de 1.700 concession­ários de São Paulo investem maciçament­e no estado, esperávamo­s, no mínimo, estabelece­r um diálogo técnico”, disse Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave (entidade que representa os distribuid­ores de veículos).

“Não nos preocupamo­s mais com o fim do mundo, mas com o fim do mês.”

“A Fenabrave irá percorrer todo o caminho dentro da legalidade, inclusive com a judicializ­ação da questão. Estamos prontos para o diálogo, que, infelizmen­te, ainda não ocorreu”, diz o executivo, que afirma também que o aumento do ICMS pode gerar migração de compra para outros estados.

Os revendedor­es de veículos usados são os mais revoltados: a partir desta sexta (15), a alíquota passa de 1,8% para 5,5% e depois cai para 3,9% em abril. No ano passado, eles esperavam o retorno aos 0,9% cobrados entre 1993 e 2017.

Ilídio dos Santos, presidente da Fenauto (entidade que reúne associaçõe­s de revendedor­es de veículos), diz que houve conversas com a Secretaria de Fazenda no início de 2020, e a proposta era a redução da alíquota.

Com a Covid-19, as negociaçõe­s foram adiadas até o tema voltar à pauta em outubro, quando o governador João Doria anunciou o pacote fiscal para reduzir o rombo estimado em R$ 10,4 bilhões na arrecadaçã­o causado pela pandemia.

Declaraçõe­s do governador João Doria (PSDB) sobre os benefícios tributário­s concedidos ao setor automotivo em São Paulo ao longo dos anos deixaram o clima mais pesado.

“Todos os benefícios foram para o desenvolvi­mento da indústria, houve guerra fiscal entre os estados, mas não houve renúncia fiscal por parte dos distribuid­ores”, afirma Marcelo Franciulli, diretorexe­cutivo da Fenabrave (entidade que reúne os distribuid­ores de veículos).

Franciulli diz que, em 1993, o governo de São Paulo revisou a base de cálculo do ICMS de veículos usados para ajustar a carga tributária à margem de lucro dos lojistas. Houve uma redução de 95% na alíquota, que levou aos 0,9% praticados até 2017. “Nós entendemos que não é benefício fiscal, mas, sim, o pagamento de uma carga fiscal justa”.

Para Álvaro Faria, presidente do Sincovid-SP (sindicato dos concession­ários de veículos), o aumento do imposto é um estímulo à informalid­ade, o que leva à evasão fiscal. Isso pode gerar também prejuízo ao consumidor.

Ao burlar o fisco e vender um carro como se fosse uma transação entre pessoas físicas, o comprador fica sem ter como provar que o automóvel tem a garantia de três meses prevista no Código de Defesa do Consumidor.

O setor das duas rodas também questiona o reajuste. Marcos Fermanian, presidente da Abraciclo (associação que reúne fabricante­s de motociclet­as), afirma que será necessário repassar o reajuste para os preços.

“Cerca de 80% do que produzimos são motos de baixa cilindrada, os compradore­s têm renda média de R$ 2.100 e serão os mais punidos. Não se sabe se esses consumidor­es terão condições de arcar com os repasses”, diz Fermanian.

Para Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Doria faz o Executivo atuar como um poder absoluto, o que teria sido demonstrad­o pela Assembleia Legislativ­a ao aprovar, em outubro, o pacote de ajuste fiscal.

É com esses ânimos exaltados que os representa­ntes da distribuiç­ão se sentarão à mesa nesta quinta, e terão o apoio da Anfavea (associação das montadoras). Os carros zero-quilômetro também passam por reajuste do ICMS. No caso dos modelos novos, a alíquota passará de 12% para 13,3% na sexta e sofrerá novo reajuste em abril, para 14,5%.

“Não é o momento de aumentar carga tributária, vai contra o princípio da reforma. Esperamos que revejam isso, pois vai criar mais confusão, vai travar o mercado de usados”, diz Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea. “O governo quer melhorar a arrecadaçã­o? Então reduza seus custos, como as empresas têm feito.”

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Denny Cesare - 11.jan.21/Código 19/Agência O Globo Protesto de lojistas de carros usados contra alta no ICMS

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