Folha de S.Paulo

Mourão rebate críticas de Macron sobre soja

Ele não está bem, diz o vice, em francês, sobre o presidente do país europeu, que associara grão a desmate da Amazônia

- Daniel Carvalho e Ricardo Della Coletta

brasília O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) rebateu nesta quarta-feira (13) as críticas do presidente da França, Emmanuel Macron, que, no dia anterior, associou a soja brasileira ao desmatamen­to da floresta amazônica e defendeu como alternativ­a a produção na Europa.

Abordado por jornalista­s, Mourão disse, em francês, que o mandatário francês não está bem. “Monsieur Macron n’est pas bien”, afirmou.

“Monsieur Macron desconhece a produção de soja do Brasil, nossa produção de soja é feita no cerrado e no sul do país. A produção agrícola na Amazônia é ínfima. Por outro lado, nossa capacidade de produção é imbatível, vamos colocar assim, nossa competição nesse ramo aí, ela está muito acima dos demais concorrent­es”, disse o vice-presidente, responsáve­l pelo Conselho da Amazônia.

Na terça-feira (12), Macron escreveu em uma rede social que “continuar a depender da soja brasileira seria endossar o desmatamen­to da Amazônia”.

“Somos coerentes com as nossas ambições ecológicas, lutamos para produzir soja na Europa!”, escreveu o presidente francês.

“Quando importamos a soja que é produzida na floresta destruída do Brasil, nós não estamos sendo coerentes”, disse Macron em vídeo, que foi publicado com a mensagem escrita. “Podem nos dizer: vocês são contra que se queime, que se destrua a floresta amazônica, mas vocês vivem das consequênc­ias disso.”

Mourão reagiu dizendo que a França não tem condições de produzir mais soja que o Brasil e que a manifestaç­ão de Macron apenas externou interesses protecioni­stas dos agricultor­es de seu país.

“[Produzir] Mais que o Brasil? Nada! Ele não tem condições de competir com a gente. A mesma coisa, em outros aspectos, onde a indústria francesa, por exemplo, é melhor. Agora, nesse aspecto aí, na questão da produção agrícola, nós damos de 10 a 0 neles”, afirmou o vice-presidente, para quem o discurso de Macron não tem poder de influencia­r outros líderes mundiais. “É um discurso interno.”

O Ministério da Agricultur­a também reagiu e, em nota, disse que a declaração de Macron mostra “completo desconheci­mento sobre o processo de cultivo do produto importado pelos franceses e leva desinforma­ção a seus compatriot­as”.

“O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo, abastecend­o mais de 50 países com grãos, farelo e óleo. Detém domínio tecnológic­o para dobrar a atual produção com sustentabi­lidade, seja em áreas já utilizadas, seja recuperand­o pastagens degradadas, não necessitan­do de novas áreas. Toda a produção nacional tem controle de origem”, disse a pasta.

Embora esperadas, as falas de Macron geraram preocupaçã­o tanto no Ministério da Economia quanto no Itamaraty. A avaliação é que o francês quer aproveitar a imagem internacio­nal negativa do Brasil em temas ambientais para impulsiona­r o plano de diminuir a dependênci­a do país europeu da proteína vegetal brasileira e americana.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil