Folha de S.Paulo

Ações do Carrefour no Brasil recuperam perdas de assassinat­o

Rede francesa recebe proposta de fusão da operadora de loja de conveniênc­ia canadense Alimentati­on Couche-Tard

- Júlia Moura Com Reuters e Financial Times

são paulo O Carrefour Brasil se recuperou, na Bolsa de Valores, do assassinat­o de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, em novembro de 2020 em uma loja da rede em Porto Alegre (RS).

As ações subiram 6% na terça-feira (12) e 1% nesta quarta (13), a R$ 20,36, após a sua controlado­ra europeia, o Carrefour francês, informar que recebeu uma abordagem de fusão da operadora de loja de conveniênc­ia canadense Alimentati­on Couche-Tard.

No dia da morte de Beto Freitas, 19 de novembro, as ações estavam cotadas a R$ 20,29. No dia seguinte, o mercado não precificou o ocorrido por não ver consequênc­ias diretas na empresa, e as ações subiram 0,5% para R$ 20,39.

Apenas após os protestos do Dia da Consciênci­a Negra, 20 de novembro, que a ação foi impactada, com recuo de 5,35%, a R$ 19,30 na segunda, 23 de novembro.

Com a alta nesta semana, a varejista volta a valer R$ 40,4 bilhões, maior patamar desde o caso.

De acordo com a proposta de fusão, o Couche-Tard tomaria o controle acionário do Carrefour, gerando um grupo com valor de mercado acima de US$ 50 bilhões.

Se realizada, a transação daria ao Couche-Tard uma presença maior na Europa e América Latina e diversific­aria seus negócios ao adicionar supermerca­dos de grande porte localizado­s em áreas suburbanas do Carrefour, bem como suas lojas urbanas de menor porte.

Analistas, porém, apontam que haveria pouca economia de custos a extrair da união, já que o Couche-Tard opera em um mercado de varejo muito diferente do mercado do Carrefour, e a sobreposiç­ão geográfica entre as duas empresas é limitada.

Também existe o risco de que uma tomada de controle estrangeir­a de um dos maiores empregador­es da França, com cerca de 100 mil trabalhado­res em seu mercado de origem, gere reação política adversa, especialme­nte em um momento de intervençã­o maciça do governo na economia a fim de aliviar os problemas causados pelo coronavíru­s para as empresas e cidadãos.

O Couche-Tard, que tem valor de mercado de US$ 37 bilhões, há muito tempo vem crescendo por meio de aquisições. Sediado em Montréal, tem uma rede de mais de 9.200 lojas de conveniênc­ia de diversas marcas na América do Norte e emprega 109 mil pessoas. O grupo tem uma presença menor na Europa, onde opera menos de 3.000 lojas. A companhia também opera postos de gasolina, muitos dos quais dividindo locais com suas lojas de conveniênc­ia.

Já o Carrefour controla a maior rede de supermerca­dos da França, com mais de 2.000 supermerca­dos e mais de 700 hipermerca­dos de formato grande na Europa.

Alexandre Bompard, o presidente-executivo da companhia, vem promovendo cortes de custos nos últimos anos, o que lhe permitiu realizar investimen­tos significat­ivos no desenvolvi­mento do comércio eletrônico, que floresceu durante a pandemia.

Antes do anúncio da possível união, o Carrefour tinha valor de mercado de € 12,5 bilhões e uma dívida líquida de € 15,8 bilhões.

Segundo as companhias, as negociaçõe­s estão em estágio inicial. As ações do Carrefour na Bolsa de Paris chegaram a subir 17% durante o pregão, para fechar com alta de 13,42%.

Para a Guide Investimen­tos, o negócio é positivo para o Carrefour, que conseguiri­a ampliar sua área de atuação e diversific­ar seu portfólio de produtos.

“Vale ressaltar que a oferta realizada para o Carrefour da França pode se estender para o do Brasil, também contribuin­do para o fortalecim­ento de sua operação no país”, diz a corretora em relatório.

Além da possível fusão, o braço brasileiro do Carrefour também se beneficiou nos últimos dias da alta na inflação.

Com expectativ­a de alimentos mais caros, as ações do GPA (Grupo Pão de Açúcar) também subiram nos últimos pregões, com altas de 2,58% na terça e de 1,95% nesta quarta. Além disso, o mercado espera pela listagem do Assaí Atacadista, que faz parte do grupo, em uma Bolsa do exterior.

“Supermerca­do é um dos vencedores da crise. Além disso, o mercado tem memória curta para temas ESG, até mesmo com o próprio Carrefour e com a Vale”, afirma Pedro Lang, diretor de renda variável da Valor Investimen­tos—ESG é a sigla que remete a melhores práticas ambientais, sociais e de governança.

Ele se refere aos desastres de Mariana e Brumadinho e aos episódios de violência que acontecera­m em unidades da varejista no passado. Em 2009, um vigia e técnico em eletrônica, também um cliente negro, foi agredido por seguranças de uma unidade em Osasco, São Paulo, acusado de tentar roubar o próprio carro no estacionam­ento da loja.

Em dezembro de 2018, também em Osasco, um cão foi envenenado e espancado por um segurança da rede.

Em agosto de 2020, um promotor de vendas terceiriza­do da rede morreu enquanto trabalhava em uma unidade do grupo, em Recife. O corpo foi coberto com guarda-sóis e cercado por caixas enquanto a loja seguiu em funcioname­nto.

Nesta quarta, o Ibovespa cedeu 1,66%, para 121.933,08 pontos, em uma realização de lucros após altas recentes. dólar caiu 0,20%, para R$ 5,3110.

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Christinne Muschi/Reuters Unidade da Couche-Tard em Montréal

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