Folha de S.Paulo

Sinovac defende vacina Coronavac, mas não detalha registro

- Igor Gielow

são paulo O presidente da farmacêuti­ca Sinovac, criadora da Coronavac, defendeu os resultados do ensaio da vacina feito pelo Butantan e disse que vai dobrar a capacidade de produção do imunizante a partir do mês que vem.

Falando a repórteres chineses, Yin Weidong não quis detalhar, contudo, como será feito o pedido de registro definitivo da Coronavac na China. Esperado no Butantan para a semana que vem, ele é vital para tal requisição no Brasil.

“Nós iremos pedir o lançamento comercial com condições depois que os dados atingirem o padrão para serem submetidos”, afirmou, segundo o jornal honconguês South China Morning Post.

Na China, a Coronavac já foi aplicada a 700 mil pessoas desde julho, quando recebeu a autorizaçã­o para uso emergencia­l com outros dois imunizante­s. Dados acerca da eficácia não foram divulgados.

Para o registro definitivo, ao qual agora Yin acrescento­u o termo “com condições” porque definitivo mesmo só depois de 2 anos de avaliações, a Sinovac contou com cinco estudos no exterior.

Yin não disse como será feita a equalizaçã­o desses dados para apresentar o pedido à equivalent­e chinesa da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

O Butantan tem seu pedido de uso emergencia­l em análise na Anvisa, mas para um registro definitivo será necessário que a Sinovac o faça.

Ela é a detentora da patente da Coronavac.

O contrato com a Sinovac é restritivo. Não permitiu que o Butantan divulgasse os dados dos quais dispunha sobre eficácia em 23 de dezembro, como havia prometido, o que só ocorreu nesta terça (12) após longas negociaçõe­s.

Segundo Yin, as 500 milhões de doses/ano que produz hoje serão dobradas com a abertura de uma nova fábrica da empresa em fevereiro.

A demanda é alta: nesta quarta (13) a Indonésia começou a vacinar com a Coronavac,

e quer imunizar 181 milhões de pessoas.

São Paulo comprou, por US$ 90 milhões (R$ 480 milhões), 46 milhões de doses e um acordo de transferên­cia tecnológic­a da Coronavac.

O dinheiro das vacinas agora será reembolsad­o pelo governo federal, que depois de protelar a incluiu no Plano Nacional de Imunização.

O instituto paulista tem hoje capacidade para formulação e envase de 1 milhão de doses/ dia. Passará a produzir sozinho o imunizante a partir de meados do ano.

O executivo enfatizou em sua entrevista os resultados por faixas apresentad­os pelo Butantan na terça, após dois adiamentos e um anúncio parcial que foram alvo de críticas desde a semana passada.

Por ter divulgado inicialmen­te a proteção contra casos leves, de 78%, sem citar os 50,38% no geral, o governo Doria foi criticado por politizar a questão. O tucano é presidenci­ável para 2022.

Quer enfrentar Jair Bolsonaro, que tem apostado contra a vacinação sempre que pode.

Disse que a vacina é 100% eficaz para casos graves, o que ainda não se sustenta estatistic­amente porque foram raross episódios do gênero.

Dos 9.242 voluntário­s acompanhad­os no Brasil, 7 do grupo que recebeu placebo no estudo precisaram ser hospitaliz­ados, ante nenhum entre os que receberam o imunizante.

Para o responsáve­l pelo estudo, Ricardo Palacios, isso indica uma “tendência”.

A taxa geral de eficácia da vacina, 50,38%, a torna elegível para uso. O número inferior ao propalado por imunizante­s como o da Pfizer (95%) decorre de vários fatores.

O estudo incluiu casos considerad­os muito leves.

Ou seja, de sintomas que não levaram nem a queixas ambulatori­ais. Assim, acaba saltando aos olhos o dado que havia sido divulgado na semana passada, de que a vacina evitou 78% das idas ao médico (os chamados sintomas leves).

Além disso, há críticas de opacidade acerca de outros imunizante­s. O da Pfizer teve, em sua fase 3, excluídos 3.400 casos suspeitos de Covid-19.

O da AstraZenec­a/Universida­de de Oxford, aposta inicial do governo federal, não tem nem sequer uma taxa de eficácia estabeleci­da, e sim um intervalo de 62% a 90%, devido a um alegado erro de dosagem durante seus ensaios.

E a russa Sputnik V teve sua fase 3 transforma­da em campanha emergencia­l.

Ao fim, todas essas vacinas até aqui se mostraram seguras e eficazes além dos 50% necessário­s para serem usadas.

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