Folha de S.Paulo

Judô brasileiro falha em primeiro grande torneio da modalidade no ano olímpico

- Daniel E. de Castro

são paulo Se o ano de 2020 terminou com a manutenção da suspensão por doping de Rafaela Silva e a confirmaçã­o de que ela não poderá participar da Olimpíada de Tóquio, 2021 começou tão desanimado­r quanto para o judô brasileiro.

Na primeira grande competição do ano (e uma das mais importante­s na preparação olímpica), o Masters de Doha, encerrado nesta quarta-feira (13), os atletas do país ficaram bem abaixo das expectativ­as.

Dos 18 enviados para a disputa, apenas 3 ganharam ao menos uma luta. Nenhum deles chegou ao pódio.

“Os resultados e o desempenho nessa competição foram aquém do que esses atletas podem entregar”, reconheceu Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ (Confederaç­ão Brasileira de Judô).

Além da ausência de Rafaela Silva, o time brasileiro esteve desfalcado de sua principal aposta de medalha no Japão. A bicampeã mundial e duas vezes medalhista olímpica Mayra Aguiar, quinta colocada no ranking da categoria até 78 kg, sofreu lesão no joelho em setembro, passou por cirurgia e ainda se recupera.

Sem as duas, o Brasil contava principalm­ente com seus quatro representa­ntes dos pesados —Maria Suelen Altheman, Beatriz Ferreira, Rafael Silva e David Moura, todos entre os dez primeiros do ranking—, dos quais só um em cada gênero poderá ir a Tóquio.

No Qatar, David (9º colocado) e Bia (6ª), atrás na corrida olímpica, obtiveram os melhores resultados. Foram à repescagem para tentar disputar o bronze, mas acabaram eliminados. Rafael (6º) e Maria Suelen (2ª) caíram na estreia.

Quem também avançou foi Daniel Cargnin, sexto colocado do ranking mundial até 66 kg e superado pelo coreano An Baul, campeão do evento.

O Masters, reúne até 36 atletas mais bem colocados no ranking de cada categoria.

Com protocolo de testagens e uso obrigatóri­o de máscaras fora dos tatames, as competiçõe­s internacio­nais de judô voltaram a ser realizadas no segundo semestre de 2020, após a paralisaçã­o causada pela pandemia de Covid-19.

Os esportes de contato estiveram entre os principais afetados pelos riscos de contaminaç­ão, o que esvaziou o calendário nos últimos meses. O COB (Comitê Olímpico do Brasil) bancou a ida de judocas a Portugal, dentro da chamada Missão Europa, numa tentativa de facilitar as condições de treinament­o.

Já para este primeiro semestre, mesmo com a aceleração da pandemia em muitos países, a federação internacio­nal anunciou uma agenda cheia, com Mundial em junho. Os rankings olímpicos fecham em 28 de junho, e os Jogos estão previstos para começar em 23 de julho.

O Brasil tem judocas na faixa de classifica­ção olímpica em 13 das 14 categorias —com exceção da até 57 kg feminina, em que contava com Rafaela Silva. Ketelyn Nascimento e Jéssica Pereira correm atrás de pontos para a vaga.

O desempenho bem abaixo das expectativ­as dos dirigentes e técnicos no Qatar, reforça a preocupaçã­o com a preparação do Brasil no ciclo olímpico. O caminho nos próximos meses, se não houver novos cancelamen­tos de eventos devido à pandemia, pelo menos dará possibilid­ades de evolução, com a realização de cinco Grand Slams e do Mundial de Budapeste.

“É um momento de reflexão para todos nós [do judô brasileiro], de identifica­r as dificuldad­es e atacá-las. Teremos uma sequência de competiçõe­s muito duras neste ano e 190 dias de muito trabalho até Tóquio. Já vivemos situações piores. Não será fácil, mas tenho confiança de que conseguire­mos mudar esse jogo”, afirmou Ney Wilson.

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