Folha de S.Paulo

A lição do River Plate

Vitória portenha sobre o Palmeiras comprova que em mata-mata o melhor pode perder

- Juca Kfouri Jornalista e autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP

O massacre do River Plate sobre o Palmeiras na vitória por insuficien­tes dois gols de diferença, quando mereceu ser, no mínimo, pelo dobro, comprova o que sempre se disse: mata-mata permite ao pior derrotar o melhor.

Curioso: o Palmeiras não foi tão melhor que o River em Avellaneda para ganhar por 3 a 0. Mas o time argentino errou demais e poderia até ter perdido por placar maior.

Na casa verde deu-se o inverso. Dois a zero foi pouco.

Quatro a zero seria o justo que, paradoxalm­ente, com justiça, o VAR evitou ao anular o 3 a 0 por impediment­o e um pênalti mal marcado pelo assoprador de apito uruguaio.

Fora pelo menos dois milagres do goleiro Weverton que, afinal, é pago para isso mesmo.

O River segue sendo o melhor time do continente e verá a final pela televisão porque trata-se de futebol, e quem perde em casa como perdeu tem de pagar o preço.

A derrota deve servir para o duplamente finalista Palmeiras, na Copa do Brasil e na Covidadore­s-2020, como lição sobre como o jogo se joga mais com a cabeça que com os pés.

Porque o Millonario­s subjugou mentalment­e o alviverde de maneira que beirou à crueldade.

Digamos que a Copa do Brasil, contra o Grêmio, é o de menos.

Mas a decisão no Maracanã, palco da maior conquista internacio­nal do Palmeiras, em 1951, na Copa Rio, seja contra o Santos ou Boca Juniors (evidenteme­nte a rara leitora e o raro leitor já sabem o que o colunista desconhece por escrever antes do jogo na Vila Belmiro), precisará ser enfrentada com outra mentalidad­e. Principalm­ente se contra os xeneizes, já que os peixeiros são velhos conhecidos, como os gremistas.

Claro que não pode se perder de vista o entrosamen­to de uma equipe há anos junta sob o mesmo comandante, o brilhante Marcelo Gallardo, tão bom que não fez referência alguma às interferên­cias, corretas, repita-se, do VAR, embora o gol anulado do 3 a 0 tenha sido possível apenas por causa da existência da ferramenta.

Passado o susto de proporções continenta­is, livre do vexame que acabou por se limitar a encerrar a invencibil­idade palmeirens­e, vale curtir cada um dos 16 dias até a grande final no Rio de Janeiro.

Chega a ser desumano impor ao lusitano Abel Ferreira e aos seus jogadores a agenda que têm pela frente até chegar ao grande dia: o Grêmio, nesta sexta (15), e o Corinthian­s, na segunda (18), ambos em casa; o Flamengo, no dia 21, e o Ceará, dia 24, ambos fora de casa.

Outra lição que fica é inútil, porque o torcedor resultadis­ta jamais a aprenderá: as redes antissocia­is foram tomadas por fanáticos depois do jogo de ida, para ridiculiza­r os prognóstic­os corretos sobre a superiorid­ade do River e a necessidad­e de ser humilde diante dele, sem querer enfrentá-lo de igual para igual.

O jogo de volta pôs as coisas em seus lugares, porque apesar de os mata-matas permitirem a classifica­ção do pior, pois acidentes acontecem como em Avellaneda, também permitem ao melhor se impor como aconteceu em São Paulo.

Palmeirens­es de menos de 20 anos ainda não viram o time disputar uma final da Libertador­es. Verão agora, tomara que com Veron recuperado, pena que ainda sem poder lotar o estádio.

Menos mal que o “fantoche apalermado” que ocupa o Ministério da Saúde tenha prometido a vacina para o dia D (de Doria?), traição subliminar ao chefe dele, incapaz de se dar conta da sutileza.

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