Folha de S.Paulo

Dizer não ao sexo é uma nova revolução das mulheres?

- Mirian Goldenberg Antropólog­a, professora da UFRJ e autora de “Liberdade, felicidade e foda-se!”

Parece até que virou moda. Quase todos os dias alguma mulher famosa confessa publicamen­te que não faz sexo há anos. Algumas dizem que nunca tiveram prazer no sexo, mas que faziam por obrigação ou para se sentirem desejáveis. Outras afirmam que sempre gostaram de sexo, mas que, com o avanço da idade, descobrira­m interesses mais prazerosos.

Jane Fonda, aos 82 anos, foi questionad­a se “ainda estava fazendo sexo”. Ela riu e respondeu: “Não, não, zero. Não tenho tempo. Estou velha e já fiz muito sexo. Eu não preciso disso agora porque estou muito ocupada. Não tenho mais interesse. Tenho uma vida bem completa, com filhos, netos e amigos. Não quero mais saber de romances. Não tenho tempo para isso.”

Ela brincou que havia um desencontr­o de desejos em seu último relacionam­ento: enquanto o namorado tomava Viagra, ela preferia um remédio para dormir. Os dois se separaram em 2017.

Jane Fonda usou o mesmo argumento de Rita Lee, de 72 anos, para explicar porque se aposentou do sexo. Disse que já fez muito sexo no passado e que hoje prefere investir seu tempo, foco e energia em outros prazeres e propósitos mais significat­ivos.

Elas não estão defendendo que a negação do sexo é a melhor escolha para todas as mulheres. Estão apenas dizendo que, para algumas, outros desejos e interesses podem ser mais prazerosos. Para elas, a ausência de sexo não é uma falta, uma perda ou um fracasso feminino. É simplesmen­te uma escolha.

Se no século passado as mulheres foram protagonis­tas de uma revolução em que a liberdade sexual era central, hoje elas mostram que não fazer sexo pode ser um dos caminhos de libertação das pressões sociais que determinam o que é certo, legítimo e saudável. Reconhecem que existem diferentes formas de amar e de ser feliz, e que é preciso lutar corajosame­nte contra os rótulos, estigmas e preconceit­os que aprisionam as mulheres.

Já ouvi de inúmeras mulheres a mesma ideia: “Aprender a dizer não foi a maior libertação da minha vida. Desperdice­i muito tempo tentando agradar os outros e deixando de fazer o que eu realmente preciso para ser feliz. Hoje tenho a coragem de ser eu mesma, e foda-se o que os outros pensam. Nunca fui tão livre e feliz. Pena que descobri tão tarde que dizer não é uma verdadeira revolução”.

Será que uma nova revolução das mulheres é dizer não para o sexo?

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