Folha de S.Paulo

Recuperaçã­o da economia depende de imunização rápida

- Gabriel Barros sócio e economista-chefe da RPS Capital

A recuperaçã­o cíclica da economia, com seus efeitos positivos sobre o nível de emprego, renda e desigualda­de, depende necessaria­mente do delivery do Plano Nacional de Vacinação. Sem ele, não apenas a ponte oferecida pelo benefício emergencia­l (BEm) —que preservou quase 10 milhões de empregos formais ao custo de R$33,5 bilhões—será perdida mas também pode haver importante desorganiz­ação da economia.

Sem a perspectiv­a concreta de retorno à normalidad­e, será muito difícil não haver nova prorrogaçã­o do auxílio emergencia­l, pressão sobre a atual e única âncora fiscal, atraso ou abandono da agenda de reformas e forte deterioraç­ão da percepção de risco de crédito do país.

Esse não é o caminho. A decisão mais racional, social e economicam­ente, é garantir os insumos para o início, meio e fim do processo de vacinação.

Previsibil­idade e timing são fundamenta­is. Levando em conta que o BEm garantiu o emprego pelo período equivalent­e ao acordado para sua redução ou suspensão, há uma (curta) janela de oportunida­de disponível para evitar nova rodada de piora nos indicadore­s do mercado de trabalho. Para tanto, é crucial que a vacinação se inicie o mais rápido possível e tenha previsibil­idade, ainda que a imunidade coletiva seja atingida apenas no terceiro ou quarto trimestre.

O efeito sobre a confiança do retorno gradual e coerente com a abertura econômica, associado ao interregno benigno do BEm e acúmulo de poupança adicional na caderneta de pouco mais de R$ 200 bilhões entre fevereiro e dezembro —influencia­do pelo auxílio emergencia­l—, se explorados a contento, podem dar fôlego a recuperaçã­o cíclica da economia.

Esse é o desafio mais imediato e cuja superação depende umbilicalm­ente do sucesso do fator vacina.

O segundo e iminente desafio é conciliar a responsabi­lidade fiscal com a social, o que é possível de ser feito de forma harmoniosa com base no atual conjunto de regras fiscais e orçamentár­ias.

Através dessa agenda mínima, é razoavelme­nte possível superar as limitações atuais e escapar de uma nova e indesejáve­l desorganiz­ação socioeconô­mica.

Superadas essas dificuldad­es mais imediatas, pós-Covid-19, ainda legaremos um país com desafios macroeconô­micos relevantes, como: déficit e dívida pública elevados e superior aos países emergentes e de renda média, elevada informalid­ade do trabalho, sistema tributário e ambiente de negócios dos mais complexos do mundo, infraestru­tura deficiente.

Não há mais tempo a perder.

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