Sob pressão de Bolsonaro, BB pode rever cortes
Presidente sinaliza que vai manter André Brandão após ameaça de demissão
Após Jair Bolsonaro ameaçar demitir o presidente do BB, André Brandão, o banco avalia revisar o plano de demissão voluntária e fechamento de agências. O Planalto quer ao menos adiar parte do pacote, e a instituição vê riscos na interferência.
Pressionado pelo presidente Jair Bolsonaro, o Banco do Brasil avalia revisar o plano de enxugamento da instituição, que prevê um programa de demissão voluntária e o fechamento de agências.
Segundo interlocutores, a ideia é tratada como uma hipótese, já que Bolsonaro ainda não havia apresentado exigências à instituição e buscava a via mais radical, da demissão do presidente do banco, André Brandão. Ministros trabalharam para reverter essa ideia.
De acordo com integrantes do BB, eventuais ajustes no plano de reestruturação precisariam ser compensados por cortes de despesas em outras áreas. De qualquer maneira, a avaliação é que um movimento desse tipo, caso concretizado, seria interpretado pelos agentes de mercado como uma interferência política grave do governo sobre o banco.
Na quarta (14), Bolsonaro ameaçou demitir Brandão do comando do BB. Desde então, o ministro Paulo Guedes (Economia) tentava evitar o desligamento. Também entraram nessa operação o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a ministra Tereza Cristina (Agricultura).
Após apelos da equipe econômica, o presidente sinalizou a aliados que aceitaria manter Brandão no cargo.
O motivo da fúria de Bolsonaro foi o anúncio da reestruturação do banco, feito na segunda-feira (11). O plano levará ao fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, além de prever um programa de desligamento voluntário que pode provocar a saída de 5.000 funcionários.
Apesar da sinalização de que Brandão pode permanecer no posto, interlocutores no Palácio do Planalto querem que o banco adie ao menos parte do plano de reestruturação.
No Planalto, aliados dizem que havia uma forte determinação pela demissão, pois o presidente estaria preocupado com as repercussões negativas sobre o desemprego.
Nas negociações pela manutenção de Brandão, interlocutores de Bolsonaro têm cobrado de Guedes que ao menos parte do plano seja postergada para depois das eleições para o comando da Câmara e do Senado (em fevereiro).
O objetivo também é atender à insatisfação de parlamentares e prefeitos preocupados com o fechamento das agências em cidades do interior do país.
Um deputado da base governista relatou à Folha ter recebido reclamações de prefeitos contra o encerramento de atividades de agências do BB em suas cidades. Esse tipo de queixa, afirma, foi determinante para que o Planalto considerasse o anúncio do plano um erro.
Um membro do banco que acompanha o embate afirma que é possível que seja negociada uma saída que faça o programa de enxugamento ficar mais palatável para o governo, desde que seja mantida a essência de ajuste do banco.
A avaliação é que não faria sentido alterar o plano de demissão, embora não seja impossível mudar prazos e reduzir o escopo do programa. Isso porque os desligamentos seriam voluntários, voltados especialmente a pessoas que estão perto de se aposentar e com benefícios —as indenizações chegam a R$ 450 mil por funcionário, além de outros direitos.
Parte da reestruturação que teria uma chance maior de ser flexibilizada é o fechamento de agências. O banco poderia rever postos incluídos no enxugamento e buscar outras medidas para compensar.
Ainda assim, internamente, há a percepção de que o plano é criterioso e foi pensado para não prejudicar os correntistas. Segundo uma fonte, o banco segue o movimento do mercado no sentido de reduzir estruturas físicas e ampliar os canais digitais.
Até o momento, não há mudança oficial no plano apresentado pelo BB. O site interno do programa de demissão de funcionários continua disponível.
A tentativa de interferência de Bolsonaro é vista com preocupação no banco, que, diferentemente da Caixa, é uma instituição de mercado, tem ações na Bolsa e recebe cobrança para dar rentabilidade aos acionistas e ter nível de eficiência similar aos seus pares no sistema financeiro.
Alvo da fritura no governo, Brandão está despachando desde quarta-feira de São Paulo e afirmou que está à disposição para fazer contato com o governo.
Segundo relatos de pessoas próximas, o presidente do BB é convicto sobre a importância do programa de reestruturação, está tranquilo e não tem apego ao cargo. Ele afirmou a interlocutores que deixará para Guedes e Bolsonaro a decisão final sobre sua situação e que poderá sair do posto, se necessário.
Um auxiliar de Brandão afirma que ele já esperava o descontentamento político e reconhece que o momento da medida foi ruim porque a decisão deu munição contra o governo nas negociações para a eleição da cúpula do Congresso.
Antes do lançamento da reestruturação, Guedes foi informado sobre as medidas que seriam adotadas. O ministro apoia o plano.
É comentado fora do Planalto que eventual reação mais extrema do governo ao plano do BB poderia gerar acusação de abuso de poder de controle. O banco é controlado pela União, mas 49,6% das ações estão na mão de investidores minoritários.