Folha de S.Paulo

Presidente pode minar base ao entrar em disputa no Congresso

Mesmo se apadrinhad­os Lira e Pacheco vencerem, presidente deve ter dificuldad­e de avançar em pautas de costumes e promessas

- Thiago Resende e Julia Chaib

A atuação de Jair Bolsonaro nas eleições da Câmara e do Senado desagrada a líderes de partidos que têm votado com o Planalto. Eles avaliam que o presidente pode ter dificuldad­e em aprovar pautas de seu interesse.

Ao entrar de vez na campanha de seus candidatos às presidênci­as da Câmara e do Senado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se desgasta com partidos que, nos dois primeiros anos de governo, votaram junto com o Palácio do Planalto.

Por causa dessa atuação, líderes partidário­s avaliam que, mesmo com a vitória de seus apadrinhad­os, o presidente terá dificuldad­e para emplacar pautas bolsonaris­tas, promessas de campanha e parte da agenda econômica.

Bolsonaro tem feito apelos diretos a bancadas em favor de Arthur Lira (PP-AL), candidato do governo a comandar a Câmara, e também já declarou apoio ao senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que concorre à presidênci­a da Casa.

Os principais adversário­s deles são do MDB: o deputado Baleia Rossi (SP), que é presidente do partido, e a senadora Simone Tebet (MS).

O MDB foi uma das siglas que mais votaram com Bolsonaro, embora não tenha integrado a base do governo. O mesmo acontece com DEM, PSDB e Cidadania.

Como a disputa tende a ser acirrada, integrante­s desse grupo de partidos acreditam que, se Lira e Pacheco vencerem, será com votos da oposição, inclusive membros do PT. Portanto, a eleição dos candidatos de Bolsonaro em fevereiro não representa a base dele nas Casas. O voto, nesse caso, é secreto e, como reforçam parlamenta­res, não representa compromiss­o com a agenda do governo.

A pauta de costumes deve ser a que mais sofrerá resistênci­a no Congresso após o desgaste de Bolsonaro com siglas de centro. Mas projetos econômicos, como privatizaç­ões, também podem ter mais dificuldad­e que antes, na avaliação de congressis­tas.

Bolsonaro quer, por exemplo, aprovar uma PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) que cria o voto em papel para auditar a urna eletrônica, a PEC do voto impresso. Mas essa ideia precisa do voto de 60% da Câmara (308 votos) e do Senado (49 votos). O mesmo quórum é exigido para redução da maioridade penal, defendida pelo presidente.

Mas parlamenta­res citam ainda dificuldad­e para aprovar projetos de lei, que exigem menos votos, como ampliação das causas excludente­s de ilicitude (alívio a punição de po

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Fonte: Câmara dos Deputados
*Os apoios dos partidos ainda são sinalizaçõ­es. Eles só se tornarão oficiais no registro das chapas eleitorais, na véspera da votação, em fevereiro. Até lá, pode haver mudanças de postura **12 deputados do PSL estão suspensos Fonte: Câmara dos Deputados
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Evaristo Sá - 17.dez.2019/AFP O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Palácio do Planalto

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