Folha de S.Paulo

Sigla de Merkel escolhe centrista como novo líder

Aliado da chanceler, Armin Laschet assume a chefia do principal partido alemão após vencer candidato mais à direita

- Ana Estela de Sousa Pinto

Armin Laschet, 59, foi eleito neste sábado o novo líder do principal partido da Alemanha, a CDU (União Democrata Cristã), da atual premiê, Angela Merkel.

O resultado mostra que o a sigla quer seguir os rumos impostos pela chanceler, de centro, com eventuais concessões aos mais conservado­res ou aos mais progressis­tas.

Atual primeiro-ministro do mais populoso estado alemão, a Renânia do Norte-Vestfália (que tem cerca de 17 milhões de habitantes), Laschet não era o candidato preferido dos 1.001 delegados do partido, de acordo com pesquisas recentes, mas foi beneficiad­o pelo sistema de dois turnos.

Ele derrotou o conservado­r Friedrich Merz por 521 votos a 466, em votação online e secreta. No primeiro turno, ele havia ficado em segundo lugar, com 380 votos, logo atrás de Merz, com 385.

O outro candidato era o exministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, que defendia uma linha relativame­nte mais progressis­ta para o partido liberal de centro-direita. Ele ficou em terceiro lugar, com 224 votos.

A disputa interna ganhou importânci­a neste ano porque afeta não só os rumos do partido como também os da própria política da Alemanha. Após 16 anos no poder, Merkel não concorrerá a novo mandato, e o que está em jogo agora é a disputa pela sua sucessão, nas eleições parlamenta­res de setembro.

Ser escolhido líder do partido costuma garantir cacife para a indicação como candidato, mas, neste ano, a situação está bastante indefinida. Nem Laschet nem seus outros dois concorrent­es pela liderança da CDU são populares entre o eleitorado, o que pode colocar no páreo dois outros concorrent­es.

O mais próximo de Laschet é o atual ministro da Saúde, Jens Spahn, que o apoiou na eleição interna. O preferido dos eleitores é o premiê da Baviera, Markus Söder, que assistiu à disputa deste sábado da arquibanca­da: ele é líder de outro partido, a CSU, irmã menor da CDU —desde 1949 as duas siglas sempre formam uma aliança na disputa nacional. Os dois nomes também seguiram uma política mais próxima da da atual chanceler se forem escolhidos para o seu lugar.

A CDU, que até hoje governou o país em 24 dos 31 anos desde a unificação alemã, é um partido guarda-chuva, sob o qual se abrigam liberais, cristãos conservado­res, conservado­res radicais e centristas urbanos mais progressis­tas.

A dúvida agora é se um sucessor de Merkel terá sua mesma habilidade para atuar como uma liga entre as diferentes facções e como um imã para eleitores de todas essas matizes. Nas eleições de 2013, quase obteve a maioria dos votos no país, que lhe permitiria governar até mesmo sem uma coalização.

O estilo da atual chanceler, de adiar decisões até que um consenso se forme, foi importante para mantê-la numa posição de centro sem desgastar demais as alas mais conservado­ras ou progressis­tas do seu partido.

Se Merz tivesse sido o escolhido, isso ficaria para trás. Ele defendia uma guinada da CDU à direita, o que empurraria parte do eleitorado para o Partido Verde, o segundo em intenções de voto na Alemanha atualmente (20%, contra 37% da CDU, segundo as pesquisas mais recentes).

Merz também poderia afastar as eleitoras, pois é visto como excessivam­ente conservado­r e seus comentário­s já foram tachados de sexistas.

Jornalista, Laschet é um católico de centro que sempre apoiou as políticas de Merkel, inclusive a que abriu as portas da Alemanha a centenas de milhares de refugiados na crise de 2015.

No contexto da União Europeia, o novo líder da CDU é visto como alguém que tende a manter a política de Merkel de integração do continente. Ele também é próximo da França e inclusive fala o idioma do país vizinho.

À frente da Renânia do Norte-Vestfália, ele assumiu a proteção da indústria como prioridade. Mas sua gestão da pandemia —que na Alemanha é competênci­a estadual— foi mal avaliada pelos residentes do estado.

As chances do candidato na disputa interna da CDU foram ajudadas nesta semana pelo endosso de cinco líderes partidário­s das regiões leste e oeste do país.

No congresso deste sábado, Laschet se apresentou com um político com “a capacidade de unificar”.

Em pronunciam­ento pela internet, —o evento foi online por causa da pandemia—disse que permanecer no centro da sociedade era o único caminho para manter a força. “Devemos garantir que este centro continue a ter fé em nós”, afirmou ele aos delegados.

Com Merz —um advogado corporativ­o milionário— como seu principal adversário, Laschet também ressaltou em seu discurso sua origem trabalhado­ra: seu pai trabalhava em minas de carvão.

Ele agora testará suas forças para a indicação como candidato a chanceler: a CDU disputa quatro eleições estaduais nos próximos meses, duas delas em março, nos estados de Baden-Württember­g e Renânia-Palatinado.

Não há prazo definido ainda para a escolha que quem concorrerá ao lugar de Merkel, mas o mais provável é que isso aconteça até o final de março, seis meses antes das eleições federais.

 ?? Odd Andersen/AFP ?? Acompanhad­o de outras lideranças da CDU, Armin Laschet (centro) discursa em Berlim após ter sido escolhido como novo chefe do partido
Odd Andersen/AFP Acompanhad­o de outras lideranças da CDU, Armin Laschet (centro) discursa em Berlim após ter sido escolhido como novo chefe do partido

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