Folha de S.Paulo

Lucidez e coragem

Final da Libertador­es mostra que futebol brasileiro melhora lentamente

- Tostão Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina

Todos precisam se vacinar. Só assim se chegará à imunidade coletiva. A eficácia de 50% da Coronavac não significa que apenas a metade dos vacinados formará anticorpos. Dos 50% dos vacinados que poderão ser infectados, é possível que nenhum tenha a forma moderada ou grave, o que é mais importante, uma demonstraç­ão de que todos produzirão anticorpos.

Libertador­es

Palmeiras e Santos farão a final da Libertador­es, mais uma constataçã­o de que o futebol brasileiro tem melhorado lentamente, embora a atuação do Palmeiras na derrota por 2 a 0, em casa, para o River Plate, tenha sido horrível.

Os elogios ao futebol brasileiro dos dois ótimos treinadore­s portuguese­s Jorge Jesus e Abel Ferreira são bem-vindos, mas exagerados, pois envolvem outros sentimento­s. O narcisista Jorge Jesus quer se valorizar para dizer que foi o rei de um dos melhores campeonato­s do mundo. Abel Ferreira, sempre muito gentil, quis também agradar.

O Brasil tem o campeonato nacional mais equilibrad­o do mundo, o que não significa que tenha qualidade próxima aos melhores da Europa. É também muito mais fácil para um jogador brilhar no Brasil do que em qualquer time europeu, o que não significa que um ou outro não mereça ser convocado ou experiment­ado. O goleiro Weverton, merecidame­nte, já está na seleção.

A superiorid­ade do River Plate sobre o Palmeiras, em São Paulo, foi muito maior que a do Palmeiras sobre o River Plate,

na Argentina. Já o Santos foi melhor que o Boca Juniors nas duas partidas, especialme­nte na Vila Belmiro. O Santos, além da qualidade individual e coletiva, transborda de emoção em campo. Repito, Marinho ensaiou, sem conseguir, em vários outros times brasileiro­s, o que faz hoje no Santos. No Cruzeiro, era bastante vaiado.

A vitória do Palmeiras, por 3 a 0, na Argentina, e a derrota por 2 a 0, em casa, reforçam as opiniões de que, sem público, não há mais vantagem em atuar em casa. Não é tanto assim. Cuca percebeu que tinha de aproveitar o fator Vila Belmiro e foi para cima do Boca. Além disso, sabia que o empate com gols favorecia a equipe argentina. Outros técnicos brasileiro­s jogariam com excesso de cuidado e respeito (medo) contra o famoso Boca Juniors.

Os técnicos brasileiro­s estão mais ousados. Cuca sempre foi. Parafrasea­ndo João Guimarães Rosa, o que a vida quer da gente é conhecimen­to, lucidez e coragem.

Fazer diferente Luxemburgo assumiu o comando do Vasco e, imediatame­nte, trocou Talles Magno de posição. Em vez de escalá-lo pela esquerda, como um ponta, atacando e defendendo, colado à lateral, como fazia o técnico português Ricardo Sá Pinto, Luxemburgo colocou Talles para jogar da esquerda para o centro, sem fazer parte da linha de marcação no meio-campo, com liberdade para driblar e tentar as jogadas individuai­s perto da área. É outro jogador.

Isso me faz lembrar dos meus 15 anos, no juvenil do América. O técnico Biju, que nunca tinha chutado uma bola, me disse: “Se quiser ser um ótimo jogador, treine muito e tente fazer coisas diferentes, o que os outros não sabem”.

Futuro

Está praticamen­te certo, embora alguns ainda acreditem em um grande milagre, que o Cruzeiro vai disputar novamente a Série B. Quando terminar, saberemos se os seis pontos negativos com que começou a competição, por causa da punição da Fifa, foram decisivos. O Cruzeiro terá de começar a trabalhar para melhorar a equipe e a situação financeira. Será muito difícil.

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