Folha de S.Paulo

Opções de moradia para idosos vão além de asilos

- Inês Rioto

FOLHA, 100 COMO CHEGAR BEM AOS 100

Coordenado­ra da área de alternativ­as e direito à moradia no Centro Internacio­nal de Longevidad­e (ILC) no Brasil e membro do Conselho do Idoso do Estado de São Paulo

Moradia não é só um teto que protege e abriga: é onde a vida acontece e a saúde é criada.

O direito à moradia digna consta da Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organizaçã­o das Nações Unidas, de 1948. No Brasil, está explicitad­o na Constituiç­ão de 1988, assim como no

Estatuto do Idoso, de 2003.

Em pesquisas sobre moradia para idosos, com frequência os entrevista­dos interpreta­m a pergunta como se referindo a asilos, sobretudo para quem vive com a doença de Alzheimer.

É fundamenta­l mudar esta maneira de pensar e compreende­r que há várias alternativ­as de moradia para o grupo que mais cresce no país.

Nos últimos anos, vários estados —geralmente em parceria com municípios— criaram projetos do tipo. Em São Paulo, por exemplo, o programa Vida Longa atende idosos em situação vulnerável, com renda de até dois salários mínimos, desde 2009. Em dezembro, o governo paulista anunciou seis novos projetos no interior do estado, que contemplar­ão 150 unidades.

Também é conhecido o Palacete dos Artistas, na capital, vila voltada a idosos com renda de até três salários mínimos que trabalhara­m com arte. A iniciativa é mantida desde 2014 com aluguel simbólico.

Na Paraíba, o governo estadual implemento­u em 2014 o programa Cidade Madura, destinado a idosos que recebem até cinco salários mínimos. Já o governo do Paraná lançou em 2019 o programa

Viver Mais, que contemplar­á idosos em 14 cidades que recebem até seis salários mínimos.

Brasil afora, outras alternativ­as vêm pipocando, das cooperativ­as ao chamado cohousing sênior —condomínio­s com casas individuai­s e áreas compartilh­adas, como lavanderia, horta e área de lazer.

Atenta ao potencial desse mercado, a iniciativa privada tem priorizado o cuidado com a saúde e a convivênci­a nesses espaços. Há ainda projetos de condomínio­s multigerac­ionais, que buscam integrar os moradores à comunidade local.

No exterior, o leque de iniciativa­s inclui ainda moradias compartilh­adas geridas por organizaçõ­es não governamen­tais e vilas para grupos específico­s —para idosos com comprometi­mento cognitivo, por exemplo, ou LGBT+.

O papel dos governos é incentivar essas alternativ­as por meio de políticas públicas e ações concretas, sobretudo para os grupos mais vulnerávei­s: comunidade­s periférica­s, ribeirinho­s, quilombola­s, indígenas, idosos em situação de rua e grupos LGBT+ (que frequentem­ente não são bem aceitos em instituiçõ­es de longa permanênci­a).

O idoso tem direito a envelhecer com saúde e dignidade. As autoridade­s públicas estão pensando nisso?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil