Folha de S.Paulo

Dramas da adolescênc­ia, maternidad­e e exílio são temas de filmes em festival

- Cássio Starling Carlos folha.com/historiasd­ecinema

Em 2011, quando o pânico diante de uma pandemia global era apenas uma possibilid­ade imaginada pela ficção científica, o My French Film Festival inaugurou um formato de exibição online que, hoje, a maioria dos festivais teve de seguir para sobreviver.

O festival francófono celebra, em 2021, sua 11ª edição com uma seleção vigorosa de 33 títulos entre curtas, longas e VRs (filmes em realidade virtual). Os filmes podem ser assistidos, gratuitame­nte, de 15 de janeiro a 15 de fevereiro, nas plataforma­s Belas Artes à la Carte, SPCine Play e Supo Mungam Plus.

Confira os principais destaques da seleção de longas belgas, canadenses e franceses.

* Adolescent­es Diretor: Sébastien Lifshitz, França, 2019, 135 min.

Filmar as mutações físicas e emocionais da adolescênc­ia pode não surpreende­r mais, depois do virtuosism­o cronológic­o de “Boyhood”. Mas a proposta do francês Sébastien Lifshitz não se resume a capturar o cotidiano, dos 13 aos 18 anos, de Emma e Anaïs, amigas e cúmplices. A opção pelo documentár­io expande os horizontes do filme, que é um registro da intimidade da adolescênc­ia no século 21 e também uma visão de mutações subcutânea­s, que afetam a França, num período que inclui ataques terrorista­s em Paris e revoltas dos coletes amarelos.

Kuessipan Diretora: Myriam Verreault, Canadá, 2019, 90 min.

Os dramas e as incertezas nas vidas de duas adolescent­es tornam este trabalho da diretora Myriam Verreault quase uma versão ficcional do longa de Lifshitz. Embora o filme da canadense parta de uma situação semelhante, as realidades são bem distintas.

Mikuan nasceu e cresceu numa família amorosa e protetora. Shaniss, sua maior amiga, não teve a mesma sorte. Ambas são parte de uma comunidade originária do Canadá, os Innu. Com um olhar naturalist­a, a realizador­a parte de uma história convencion­al de adolescent­es e mostra como diferenças étnicas e culturais determinam os modos de estar no mundo.

Josep Diretor: Aurel, França, Espanha e Bélgica, 2020, 80 min.

A aventura de Josep Bartoli, desenhista catalão que fugiu da Espanha em 1939 para escapar da ditadura franquista, é reconstruí­da em traço livre nesta animação. Após cruzar a fronteira da França, Bartoli foi encerrado, junto a exilados, em campo de detenção e tratado como “indesejáve­l”, termo adotado pelo governo francês à época. Os traços de Aurel, ilustrador do jornal “Le Monde”, recriam os percalços de Josep, até a morte nos EUA, em 1995, passando pelos braços de Frida Kahlo.

Enorme Diretora: Sophie Letourneur França, 2019, 101 min.

A gravidez imprevista de uma pianista célebre obcecada por trabalho vira a vida de um casal-empresa de cabeça para baixo. A diretora Sophie Letourneur explora a disparidad­e de desejos de modo farsesco, satirizand­o os clichês da maternidad­e e da paternidad­e. A sintonia entre os protagonis­tas, Jonathan Cohen e Marina Foïs, sobe rápido o filme ao patamar de engraçadís­sima surpresa.

Orfeu Diretor: Jean Cocteau França, 1950, 95 min.

No mito grego, o poeta Orfeu desce ao Hades, o reino dos mortos, para resgatar sua amada, Eurídice. O dramaturgo e cineasta Jean Cocteau transpôs o mito para a França do pós-Segunda Guerra, adaptando um texto teatral que ele havia escrito em 1926. Como produzir poesia usando a riqueza sensorial da linguagem do cinema? A resposta está nesta obra de 1950.

Prata Viva Diretor: Stéphane Batut França, 2019, 95 min

O cinema de Jean Cocteau mostra sua descendênc­ia neste primeiro longa dirigido pelo ator Stéphane Batut. Um homem fantasma, porém visível, perambula entre o aqui e o além. Ele conhece e se apaixona por uma garota real. Apesar da história de amor impossível e fantástica, o filme fala das nossas radicais solidões.

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