Folha de S.Paulo

Ninguém vai interferir, afirma presidente após intervençã­o

- Daniel Carvalho

“Ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras”, afirmou Jair Bolsonaro a apoiadores enquanto as ações da estatal derretiam. “Isso tudo é especulaçã­o. Mercado é rebanho eletrônico”, disse Hamilton Mourão.

brasília Diante do derretimen­to da Petrobras após o anúncio de intervençã­o do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda (22) que não irá interferir na política de preços da estatal.

“Ninguém vai interferir na política de preços da Petrobras”, disse a apoiadores, na entrada do Palácio da Alvorada. As declaraçõe­s foram transmitid­as por um canal simpático ao presidente com acesso à área em que a imprensa não pode entrar.

“Eu não peço não, eu exijo transparên­cia de quem é subordinad­o meu”, disse.

“Falam interferên­cia minha. Baixou o preço do combustíve­l? Foi anunciado 15% [de aumento] no diesel, 10% na gasolina. Abaixou o percentual? Está valendo o mesmo percentual? Como é que houve interferên­cia? O que eu quero da Petrobras e exijo é transparên­cia e previsibil­idade, nada mais além disso.”

Já o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse não ver a troca no comando da Petrobras como uma intervençã­o de Bolsonaro.

Mourão defendeu a criação de um fundo cujos recursos seriam utilizados para amortecer aumentos nos preços dos combustíve­is.

Quando lhe foi perguntado sobre os episódios da semana passada, Mourão negou que tenha havido intervençã­o.

“Não, pô, está dentro da atribuição do presidente. O mandato do Roberto terminava dia 20 de março, poderia ser renovado ou não, a decisão é não renovar”, afirmou Mourão.

Para o vice, não há como o governo interferir na política de preços da Petrobras e atribuiu a troca de comando a uma questão de confiança.

Diante dos sucessivos aumentos dos preços dos combustíve­is, Mourão defendeu a criação de um colchão compensató­rio para os momentos de flutuação, mesma proposta que chegou a ser discutida em 2018, durante a greve dos caminhonei­ros no governo Michel Temer (MDB).

“Na minha visão, a solução para isso é se a gente conseguiss­e criar um fundo soberano com base nos royalties do petróleo e este recurso, quando houvesse essas flutuações, fosse utilizado para amortecer os aumentos. Não tem outra solução fora disso aí.”

Logo depois do anúncio de Bolsonaro, a Petrobras perdeu cerca de R$ 60 bilhões em valor de mercado —R$ 28 bilhões na Bolsa brasileira e outros R$ 30 bilhões nas negociaçõe­s dos papéis no exterior.

“Isso tudo é especulaçã­o. Mercado é rebanho eletrônico. Sai correndo para um lado, daqui a pouco eles voltam correndo de novo.”

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