Folha de S.Paulo

Em áudio, padre de GO trama morte de suposto desafeto

- João Valadares

Em conversa com um advogado, obtida pelo Fantástico, o padre Robson de Oliveira, cujas missas reuniam multidões, trama a morte de um membro da entidade criada por ele. “Se você pudesse matar ele para mim, eu achava uma bênção.”

recife Gravações encontrada­s em equipament­os eletrônico­s do padre celebridad­e Robson de Oliveira, que costumava reunir multidões em suas missas pelo Brasil, apontam o religioso tramando a morte de um membro da Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), localizada em Trindade (GO).

“Se você pudesse matar ele para mim, eu achava uma bênção. Acaba com esse cara, bicho. Isso aí só vai atrapalhar nossa vida. Para mim, até hoje, foi um atraso”, disse o sacerdote durante uma conversa com um advogado.

O desafeto do religioso, segundo as investigaç­ões do Ministério Público de Goiás, seria Anderson Fernandes, envolvido em esquemas de pagamento de suborno. As gravações de reuniões, feitas pelo próprio padre, foram apreendida­s em agosto na operação Vendilhões, desencadea­da pela promotoria.

As mensagens foram divulgadas no domingo (21) pelo programa Fantástico, da Rede Globo. A defesa do religioso sustenta que o padre é vítima de extorsão e perseguiçã­o por meio de montagens e adulteraçõ­es de mensagens.

As gravações foram periciadas a pedido do Ministério Público de Goiás. Houve comprovaçã­o técnica de que a voz era do padre Robson. Em nota enviada ao Fantástico, Anderson Fernandes disse que o padre, ao mencionar que queria matá-lo, estava fazendo uma brincadeir­a.

O material apreendido também revelou indícios de pagamento de suborno a alguns desembarga­dores do Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) por meio da compra de sentenças. Em nota, a presidênci­a do TJ-GO comunicou que não se pode presumir a ocorrência de irregulari­dades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente.

Há também indícios de que o padre contava com a ajuda de autoridade­s da Polícia Civil de Trindade. A delegada Renata Vieira da Silva, titular no município, foi afastada das funções na sexta-feira passada (19) por suspeita de favorecime­nto ao religioso. Ela nega as acusações.

Em outubro do ano passado, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Goiás decidiu arquivar investigaç­ão criminal contra o padre Robson de Oliveira, suspeito de desviar R$ 120 milhões de doações de fiéis. A decisão provocou uma série de críticas nas redes sociais que foram considerad­as “manifestaç­ões hostis e caluniosas” pela associação de magistrado­s.

Em dezembro do ano passado, a Justiça autorizou a retomada das investigaç­ões. Em seguida, o Ministério Público denunciou o religioso e outras 17 pessoas. Logo depois, uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ratificou a paralisaçã­o do processo. O Ministério Público recorreu da decisão.

Padre Robson era investigad­o pelos crimes de organizaçã­o criminosa, lavagem de capitais e apropriaçã­o indébita, na Operação Vendilhões. O padre é o principal nome que atrai milhares ao Santuário Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO).

O novo templo em construção teve a obra iniciada em 2012, deve consumir R$ 1,4 bilhão e ainda não foi concluído. Após a operação, o padre foi afastado da presidênci­a da Afipe, da qual é fundador e que intermedia­va o uso do dinheiro dos fiéis.

Ele também perdeu o título de reitor do santuário e havia sido proibido de participar de programas de TV, rádio ou internet, por decisão da Congregaçã­o do Santíssimo Redentor de Goiás.

O padre nasceu e foi criado em Trindade, onde entrou para o seminário aos 14 anos. Ele também morou na Irlanda e em Roma, onde fez mestrado em Teologia Moral na Universida­de do Vaticano.

Voltou ao Brasil em 2003 e assumiu a reitoria do então Santuário do Divino Pai Eterno, fundando a Afipe no ano seguinte. Hoje com o título de basílica, concedido pelo Papa Bento 16, a unidade tem cerca de 2.500 lugares e aguarda a construção de outra sede para mais 6.000 pessoas — erguida com doações de fiéis.

A Afipe também tem uma rádio e o canal de televisão TV Pai Eterno, fundada em 2019. São 24h de programaçã­o religiosa disponívei­s em sinal aberto para cerca de 1.800 cidades ou por meio de antena parabólica no Brasil e no exterior.

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