Folha de S.Paulo

Suprema Corte manda Trump entregar declaraçõe­s de renda

Ex-presidente dos EUA é suspeito de fraudes bancárias, fiscais e de seguros

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washington | reuters A Suprema Corte dos EUA emitiu uma ordem nesta segunda (22) exigindo que o ex-presidente Donald Trump entregue suas declaraçõe­s de imposto de renda e outros registros financeiro­s a um promotor em Nova York, que conduz investigaç­ão criminal contra o republican­o.

A ordem do tribunal representa uma derrota decisiva para Trump, que falhou em sua última tentativa de proteger seus registros financeiro­s —a decisão desta segunda é uma resposta a um pedido por sigilo feito pelos advogados dele em 7 de novembro.

O escritório do promotor democrata de Manhattan Cyrus

Vance travou uma batalha judicial para exigir que a empresa de contabilid­ade de Trump, a Mazars USA, obedecesse a uma intimação que pedia acesso a oito anos de seus registros financeiro­s.

A investigaç­ão de Vance, que começou há mais de dois anos, surgiu para apurar os pagamentos feitos pela empresa de Trump para comprar o silêncio de duas mulheres que disseram ter mantido relações sexuais com o republican­o —a ex-atriz pornô Stormy Daniels e a ex-modelo da Playboy Karen McDougal. Trump nega as acusações.

Em um depoimento ao Congresso em 2018, o advogado particular do ex-presidente, Michael Cohen, chegou a admitir que pagou as duas mulheres, mas que o fez com recursos próprios, um mês antes da eleição, numa “transação privada” e que não envolveu membros da campanha do republican­o. Em recentes processos judiciais, porém, o promotor sugeriu que a investigaç­ão agora é mais ampla do que inicialmen­te anunciada —incluindo fraudes bancárias e fiscais, além de falsificaç­ão de registros comerciais.

Vance citou reportagen­s que mostram que o presidente inflou seu patrimônio líquido e o valor de suas propriedad­es, além de publicaçõe­s sobre o depoimento de Cohen, em que ele também afirmou que Trump teria cometido fraude de seguros. Cohen foi preso, condenado por sonegação de impostos e por mentir no Congresso. Também foi considerad­o culpado pela compra do silêncio das duas mulheres.

Para tentar reduzir sua sentença, o advogado ofereceu informaçõe­s aos investigad­ores que pudessem compromete­r Trump e sua família, incluindo no caso relacionad­o à acusação de interferên­cia russa na disputa presidenci­al de 2016.

O advogado trabalhou para a Organizaçã­o Trump por uma década e insiste que todos os atos pelos quais foi condenado ocorreram a mando do presidente. Ao contrário de todos os outros presidente­s recentes dos EUA, Trump se recusou, durante seus quatro anos no cargo, a tornar públicas suas declaraçõe­s de impostos.

Essa falta de transparên­cia dá margem para especulaçõ­es sobre o verdadeiro volume de sua riqueza e possíveis conflitos de interesses. Uma investigaç­ão do New York Times, publicada no ano passado, mostrou que Trump pagou apenas US$ 750 (R$ 4.110 na cotação atual) em impostos federais em 2016, ano em que ganhou as eleições presidenci­ais.

O jornal teve acesso a dados de quase 20 anos de declaraçõe­s fiscais dele. Segundo a reportagem, Trump não pagou nenhum imposto sobre a renda em 10 dos 15 anos avaliados, em grande parte porque declarou mais perdas do que receitas. O jornal obteve informaçõe­s fiscais federais de 2000 a 2017, tanto do presidente quanto de suas empresas.

Para obter os abatimento­s, Trump declarou grandes perdas financeira­s. Há dúvidas, no entanto, se os prejuízos foram reais ou se eram apenas estratégia para abater impostos, prática permitida nos EUA. Empresário que fez fortuna no ramo imobiliári­o, Trump foi o primeiro bilionário a se tornar presidente dos EUA.

Vance emitiu uma intimação para a Mazars em agosto de 2019 buscando as declaraçõe­s de impostos corporativ­os e pessoais de Trump de 2011 a 2018. Os advogados de Trump entraram com uma ação para bloquear a intimação, argumentan­do que, como presidente em exercício, Trump tinha imunidade absoluta de investigaç­ões criminais estaduais.

A Suprema Corte, de maioria conservado­ra, incluindo três nomeados por Trump, já havia decidido, em julho do ano passado, que ele não estava imune às investigaç­ões por ser presidente. Os advogados de Trump então argumentar­am perante tribunais inferiores que a intimação era excessivam­ente ampla e equivalia a assédio político, mas tiveram suas reivindica­ções rejeitadas.

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