Folha de S.Paulo

Investidor­es da Petrobras preparam ação coletiva

Advogado diz que governo quer usar estatal para fazer política pública

- Nicola Pamplona

rio de janeiro Um dos responsáve­is pela ação coletiva por perdas dos investidor­es com o esquema de corrupção investigad­o pela Operação Lava Jato, o advogado André Almeida diz já preparar processo semelhante com relação à perda de valor de mercado da empresa após interferên­cia do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Ele alega que o governo extrapola suas atribuiçõe­s como acionista majoritári­o ao querer que a empresa faça políticas públicas de interesse da União. “A Petrobras não é uma empresa do governo brasileiro, ela tem acionistas privados”, afirma ele.

Na ação referente à Lava Jato, iniciada em 2014, a Petrobras acabou fechando um acordo para pagar US$ 2,9 bilhões (cerca de R$ 10 bilhões, em valores da época) para os investidor­es. Almeida evita prever valores para a ação atual, mas fala em “bilhões de dólares”.

O advogado argumenta que Bolsonaro já vem reclamando há tempos da política de preços dos combustíve­is da estatal e que a mudança no comando da companhia é um sinal de que o acionista controlado­r está agindo em detrimento de outros acionistas.

Após o anúncio da nomeação do general Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco na presidênci­a da empresa, as ações derreteram nas bolsas. Em dois dias, o valor de mercado da Petrobras caiu R$ 102,5 bilhões.

Almeida diz que a empresa vem sofrendo “diversos meses de influência e pressões” para segurar os preços dos combustíve­is. “Agora isso ficou evidente, com as últimas declaraçõe­s do presidente Bolsonaro”, completa. “A Petrobras tem sócios, tem um estatuto, tem que respeitar a lei. Não pode ser usada para fazer política pública.”

Desde que sinalizou mudanças na estatal, Bolsonaro tem questionad­o o preço dos combustíve­is no Brasil. Na manhã desta segunda (22), reclamou em crítica à reação do mercado financeiro que “só tem um viés na Petrobras: atender os interesses próprios de alguns grupos no Brasil”.

E chegou a citar, em conversa com apoiadores, que Itaipu Binacional, que era comandada por Silva e Luna, fez investimen­tos em duas pontes e na pista do aeroporto de Foz do Iguaçu (PR), onde está sediada. De acordo com o presidente, seriam provas da eficiência do general.

“Acho que o presidente está confundind­o as coisas”, comentou Almeida. “Quem faz política pública é ministério.”

Segundo ele, a ideia é buscar parcerias com escritório­s estrangeir­os, como no caso da ação coletiva da Lava Jato, na qual atuou com o Wolf Popper. Foram os primeiros a protocolar uma ação sobre o assunto na Justiça de Nova York.

Entre os clientes naquele processo, estavam investidor­es institucio­nais, como fundos de pensão, descontent­es com a perda de valor das ações que detinham da estatal. Na época, o acordo fechado pela Petrobras era o quinto maior da história das ações coletivas por perdas com ações.

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