Folha de S.Paulo

PEC é aposta de Guedes para recuperar força

Ministro também planeja usar crise da Petrobras como argumento para tentar destravar a pauta de privatizaç­ões

- Bernardo Caram e Julio Wiziack

brasília Após interferên­cia do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Petrobras, a equipe econômica vê a votação da PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) do Pacto Federativo como o principal teste para a permanênci­a do ministro Paulo Guedes (Economia) no governo.

A pasta ainda pretende usar a crise provocada no caso da Petrobras para insistir na defesa da pauta de privatizaç­ões. Na tentativa de dar força a esse argumento, Guedes quer retomar a proposta para repassar a programas sociais parte da arrecadaçã­o com a venda de empresas públicas.

A PEC do Pacto Federativo é parte do acordo fechado pelo governo para liberar o auxílio emergencia­l neste ano. Ela traz medidas de ajuste fiscal para situações de crise no futuro, como suspensão de concursos, reajustes de servidores e progressõe­s de carreira.

Auxiliares do ministro afirmam não trabalhar com um “plano B” caso o Congresso não aprove a proposta.

Contrarian­do o interesse de Guedes, parlamenta­res pressionam para que o governo libere a nova rodada do auxílio emergencia­l já após a votação da PEC do Pacto Federativo no Senado, nesta semana, antes mesmo da apreciação na Câmara.

O Ministério da Economia prefere ver a proposta com medidas de ajuste fiscal aprovada nas duas Casas antes de dar aval à assistênci­a.

No entanto, nas negociaçõe­s, a pasta indicou que aceita liberar os pagamentos antes da votação da PEC pelos deputados, desde que isso faça parte de um acordo entre os partidos para que haja compromiss­o de aprovação do texto. Um membro da pasta afirma aceitar essa alternativ­a, mesmo que seja um “drible da vaca”.

Desse modo, o governo pode ser forçado a abrir os cofres antes de ter certeza da validação do novo marco fiscal para as contas públicas.

Segundo relatos, Guedes diz confiar no acordo fechado com a cúpula do Congresso. Caso a tratativa seja quebrada, com a liberação de dinheiro sem contrapart­idas para serem acionadas em eventuais crises no futuro, o ministro disse a interlocut­ores que “vai mudar o tom” da conversa.

A votação da PEC no Senado está prevista para quintafeir­a (25). Segundo auxiliares de Guedes, todo o foco do ministério está nessa medida e ele pretende manter o silêncio sobre a polêmica da Petrobras pelo menos até essa data.

Membros do ministério vêm demonstran­do insatisfaç­ão e preocupaçã­o com as mais recentes ações de Bolsonaro na área econômica, especifica­mente sobre os combustíve­is.

Na quinta-feira (18), o presidente anunciou a isenção de tributos federais por dois meses sobre o diesel e definitiva­mente sobre o gás de cozinha. A medida terá validade a partir de 1º de março e foi apresentad­a sem que o Ministério da Economia tivesse encontrado uma forma de compensar essa perda de arrecadaçã­o.

No dia seguinte, após sugerir que faria mudanças na Petrobras, Bolsonaro pediu a saída do presidente da estatal, o liberal Roberto Castello Branco, indicando em seu lugar o general Joaquim Silva e Luna.

Integrante­s do Ministério da Economia afirmam que os próximos 90 dias serão determinan­tes para saber se as ações de Bolsonaro que afrontam Guedes foram pontuais ou se haverá uma guinada na política econômica. Neste último caso, a avaliação é que a permanênci­a do ministro no governo seria insustentá­vel.

A votação da PEC do Pacto Federativo será um teste porque o texto traz medidas polêmicas com a possibilid­ade de haver tesouradas no Orçamento, o que vinha causando resistênci­a de parlamenta­res havia mais de um ano. Portanto, a aprovação dependerá de empenho e articulaçã­o do Palácio do Planalto.

Sem criar um embate direto com o presidente, Guedes planeja usar a atual crise como argumento para tentar destravar a pauta de privatizaç­ões.

O ministro defende a desestatiz­ação de companhias como pauta prioritári­a desde o início do governo. Entre os argumentos já usados por ele, está o risco de interferên­cia política nessas empresas, o que causou experiênci­as negativas no passado, inclusive na Petrobras.

Para auxiliares de Guedes, o episódio recente mostra que o controle de companhias pelo governo pode ser prejudicia­l ao país.

Em busca de apoio para essa pauta, ele pode lançar uma proposta estudada pela pasta para aplicar em programas sociais parte do dinheiro arrecadado com a privatizaç­ão de estatais.

Uma das ideias é criar um fundo de desinvesti­mento, que seria alimentado por uma fatia dos recursos das privatizaç­ões e da venda de imóveis da União. O dinheiro, então, seria direcionad­o para essa finalidade.

A equipe de Guedes também avalia outras possibilid­ades. Em uma delas, antes mesmo de eventual venda da companhia, seriam distribuíd­os dividendos das estatais para pessoas pobres. Outra hipótese prevê a concessão de certificad­os de propriedad­e de frações dessas empresas aos beneficiár­ios de baixa renda.

A prioridade do ministro, no momento, é a privatizaç­ão da Eletrobras, que está travada no Congresso desde o governo Michel Temer (MDB). Guedes pretende ainda enviar ao Congresso pedido para privatizar os Correios.

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