Folha de S.Paulo

Projeto pode abrir caminho a vacinas de Pfizer e Janssen

União e laboratóri­o estão em impasse; proposta permitiria compra por estados, municípios e até iniciativa privada

- Renato Machado e Natália Cancian Com Mônica Bergamo

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que um projeto será elaborado para autorizar União, estados e municípios a assumirem riscos da compra das vacinas da Pfizer e da Janssen. A Pfizer disse que não aceita exigências feitas pelo governo.

brasília O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEMMG), afirmou que um projeto de lei será elaborado ainda nesta segunda-feira (22) para autorizar União e também estados e municípios a assumirem os riscos da compra das vacinas da Pfizer e da Janssen —cujas cláusulas são atualmente tidas pelo governo federal como entrave para a compra das imunizaçõe­s.

Além disso, Pacheco afirmou que a proposta deve conter permissão para que a iniciativa privada participe das aquisições.

As sugestões foram discutidas em encontro com o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, como alternativ­a para tentar destravar a compra da vacinas. Mais cedo, Pacheco também teve reunião com membros da Pfizer e da Janssen.

“Um projeto que será concebido ainda hoje, no âmbito do Senado Federal, é para que encontremo­s um caminho que autorize a União, mas também estados e municípios, a assumirem os riscos das compras das vacinas, constituir garantias, cauções e seguros para poder adquirir a vacina”, afirmou na saída do encontro. “E uma ideia que surgiu agora nessa conversa que é a possibilid­ade de termos a participaç­ão da iniciativa privada”, disse.

Segundo ele, a ideia é dar segurança à União para firmar os contratos. Embora discutidas no âmbito da Pfizer e da Janssen, a medida também valeria para outras vacinas.

“Que a União tenha essa segurança legislativ­a para que faça essa aquisição, e que possamos também nessa esteira autorizar estados, municípios e essa participaç­ão da iniciativa privada. Com isso vamos poder ganhar muita escala na aquisição das vacinas”, disse.

“Mas, repito, obedecendo o Programa Nacional de Imunização. A iniciativa privada que queira contribuir, que o faça respeitand­o as regras do PNI e, logo na sequência, cumpridas as prioridade­s do Brasil e do PNI para vacinação, poder liberar para a iniciativa privada adquirir, o município adquirir. Isso tudo pode ser construído em um segundo momento quando cumpridas as prioridade­s”, completou.

Na entrevista o senador Flávio Bolsonaro (Republican­osRJ), filho mais velho do presidente da República, estava ao lado de Pacheco.

Esse foi o segundo encontro ligado à discussão de medidas para a compra das vacinas. Mais cedo, após se reunir com representa­ntes da Pfizer e da Janssen, Pacheco disse que o Brasil não pode impor aos laboratóri­os desenvolve­dores de vacinas contra a Covid-19 condições específica­s contrarian­do a tendência mundial.

“Se houver uma cláusula no contrato, que seja uma cláusula uniforme, aplicável a todos os demais países e contratant­es do laboratóri­o, não se pode impor que haja algum tipo de modificaçã­o específica no caso do Brasil.”

Na reunião com senadores brasileiro­s, a Pfizer afirmou que não aceita as exigências feitas pelo governo brasileiro até agora para vender sua vacina ao país.

Segundo o laboratóri­o disse aos senadores, as cláusulas que apresenta não são exclusivas da empresa, mas de várias farmacêuti­cas. Seguem um padrão internacio­nal e estão em vigor em contratos ao redor do mundo. Na América Latina, apenas o Brasil, a Venezuela e a Argentina não teriam aceitado as regras.

Além de um projeto de lei, outra alternativ­a já citada pelo presidente do Senado seria uma emenda à medida provisória 1.026, que tramita na Câmara e flexibiliz­a as regras para compra de vacinas.

“É uma possibilid­ade [que a mudança seja por medida provisória]. Há uma medida provisória 1.026 na Câmara dos Deputados. Há uma emenda lá apresentad­a inclusive pelo senador Randolfe Rodrigues que justamente prevê essa autorizaçã­o da União para assunção das suas responsabi­lidades na compra da vacina e podendo constituir garantias, seguros e caução pra essa compra”, disse.

As discussões sobre a tentativa de destravar os contratos ocorrem em meio à críticas ao governo sobre a baixa oferta inicial de vacinas contra a Covid e a demora em fechar novos contratos. Nos últimos dias, sem doses suficiente­s, ao menos cinco capitais chegaram a suspender campanhas de vacinação.

Segundo o ministério, o Brasil mantém negociaçõe­s para a aquisição das vacinas desenvolvi­das pela Pfizer e pela Janssen desde abril de 2020. A pasta, no entanto, tem feito críticas nos últimos meses às condições apresentad­as pelas empresas, em especial à Pfizer.

Pazuello vem falando que as cláusulas são “impraticáv­eis” e “leoninas”. O laboratóri­o americano exige, por exemplo, imunidade em relação a potenciais efeitos adversos da vacina e só aceita ser processado em tribunal nos Estados Unidos. Pede ainda que o governo renuncie à soberania de seus ativos no exterior como garantia de pagamento.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (22), a Pfizer rebate as críticas e diz que, até o momento, 69 países já assinaram contrato com condições semelhante­s às apresentad­as ao Brasil.

No domingo (21), o Ministério da Saúde divulgou um posicionam­ento em que afirmava ter pedido uma orientação do Palácio do Planalto sobre como proceder para solucionar o impasse na compra das vacinas.

No texto, o ministério diz que mantém interesse na compra das vacinas, mas atribui a falta de avanço nas negociaçõe­s à “falta de flexibilid­ade” das empresas.

Em janeiro, a pasta divulgou uma nota em que reconhecia ter recusado ofertas iniciais da Pfizer. A justificat­iva é que a proposta causaria “frustração aos brasileiro­s” devido à baixa quantidade inicial de doses, prevista em 2 milhões. O total, porém, era semelhante ao obtido pela pasta naquela mesma semana, por meio da Fiocruz.

Atualmente, o ministério discute a compra de 100 milhões de doses da Pfizer e 38 milhões de doses da Janssen, segundo informaçõe­s divulgadas a governador­es na última semana.

 ?? Kamil Krzaczynsk­i/Reuters ?? Profission­ais manuseiam doses de vacina da Pfizer em Illinois (EUA)
Kamil Krzaczynsk­i/Reuters Profission­ais manuseiam doses de vacina da Pfizer em Illinois (EUA)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil