Prestação da mansão é meia renda de Flávio e sua mulher
Compra do imóvel de R$ 6 milhões é tida como inoportuna; reação de bolsonaristas foi tímida em defesa do senador
A escritura pública da compra da mansão de Flávio Bolsonaro (RepublicanosRJ), por R$ 6 milhões, mostra que a parcela inicial do financiamento imobiliário equivale a mais da metade da renda declarada do senador e de sua mulher, a dentista Fernanda Bolsonaro.
O parlamentar afirmou que usou recursos da venda de um apartamento na Barra da Tijuca, no Rio, para adquirir o imóvel em Brasília.
Jair Bolsonaro tem se mobilizado para evitar que a revelação da compra de seu filho afete a popularidade do governo.
brasília O presidente Jair Bolsonaro tem se mobilizado desde a segunda-feira (1º) para evitar que a revelação de que o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) comprou uma mansão de R$ 6 milhões em Brasília afete a popularidade de seu governo.
Segundo assessores palacianos, a ordem repassada a integrantes da equipe ministerial é que eles evitem comentar o assunto em público, em uma tentativa de afastar o caso do Palácio do Planalto e do próprio presidente.
A avaliação em caráter privado, no entanto, é que foi desnecessária e inoportuna a compra do imóvel pelo filho do presidente da República.
Ela ocorreu às vésperas de o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anular a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador no âmbito da investigação do suposto esquema das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.
A opinião, segundo aliados do presidente, também é compartilhada por ele.
É por isso que na própria segunda-feira, de acordo com relato feito à Folha, Bolsonaro e Flávio se falaram ao telefone e concordaram sobre a necessidade de o senador divulgar uma nota pública para afastar suspeitas sobre o negócio.
O documento, divulgado nesta terça-feira (2), ressalta que Flávio usou recursos da venda de um imóvel no Rio de Janeiro para comprar a mansão em Brasília. Ele salienta que tudo está registrado em escritura pública.
O senador também gravou um vídeo que foi divulgado em redes sociais para se explicar sobre o negócio, no qual também fez críticas aos veículos de comunicação.
“Eu lamento que a imprensa exponha o endereço onde eu moro e exponha a minha família”, afirma Flávio Bolsonaro na gravação.
“Eu não vou deixar de fazer nada na minha vida por medo de como a imprensa vai explorar ou distorcer isso. Estou sendo bastante objetivo. Eu vendi um imóvel que eu tinha no Rio de Janeiro, vendi uma franquia que eu possuía também no Rio de Janeiro e dei entrada numa casa aqui em Brasília. E a maior parte do valor dessa casa está sendo financiada num banco, numa taxa que foi aprovada conforme o regimento familiar, como qualquer pessoa no Brasil pode fazer”, declarou.
“Eu lamento essa exploração com um fato simples. Isso tudo está numa escritura pública, portanto acessível a qualquer brasileiro, acessível a qualquer imprensa”, acrescentou o senador.
Apesar da preocupação com o desgaste do episódio, Jair Bolsonaro tem minimizado a assessores e aliados a importância da compra da mansão e repetido que seus filhos são perseguidos pelos veículos de imprensa para prejudicá-lo politicamente.
A necessidade de uma reação rápida de Flávio, segundo assessores palacianos, se deu após a constatação de que o episódio provocou reação tímida da base bolsonarista nas rede sociais, um indicativo de que ele foi malvisto pelos próprios eleitores do presidente.
Na segunda-feira, segundo constataram integrantes do bunker digital do Palácio do Planalto, a maior parte dos comentários sobre o assunto era negativa, assim como a decisão de anulação da quebra de sigilo bancário e fiscal do senador pelo STJ.
O receio do governo é que o episódio, sobretudo as imagens internas da mansão, seja usado por opositores do presidente para associar à gestão federal uma imagem de corrupção, enfraquecendo o discurso explorado na campanha eleitoral contra o PT.
A revelação da compra da mansão também prejudicou a indicação do nome do presidente do Banco de Brasília, Paulo Henrique Costa, para assumir o Banco do Brasil. O nome dele, defendido pelo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), era considerado o favorito na semana passada.
A escritura do imóvel informa que R$ 3,1 milhões do valor do imóvel foram financiados pela instituição financeira.
O episódio foi avaliado no Palácio do Planalto como um fator que inviabiliza uma nomeação. O receio do presidente, segundo assessores palacianos, é que uma indicação para o Banco do Brasil passe a impressão de que houve uma troca de favores.
Hoje, a tendência é que Bolsonaro adote uma solução caseira para a instituição financeira.
Com o apoio do ministro Paulo Guedes (Economia), ele avalia colocar no posto o vice-presidente corporativo do Banco do Brasil, Mauro Neto. A expectativa é que o anúncio seja feito até sexta (5).
A mansão em Brasília é o 20º imóvel que Flávio Bolsonaro adquire em um intervalo de 16 anos, considerandose um andar com 12 salas comerciais de que foi proprietário. A intensa atividade imobiliária do senador foi revelada pela Folha em 2018.
A escritura de compra e venda foi feita em um serviço notarial de Brazlândia, cidade do Distrito Federal distante cerca de 45 km do Plano Piloto. A matrícula do imóvel, por sua vez, é de responsabilidade do 1º Ofício de Registro de Imóveis do Distrito Federal, a poucos quilômetros do Congresso Nacional.
Na denúncia oferecida contra o senador no caso das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio, o Ministério Público apontou que operações de compra e venda de dois imóveis foram usadas para lavagem de dinheiro.
O salário de Flávio no Senado é de R$ 25 mil líquidos. Sua mulher é dentista e tem consultório em Brasília. São casados em regime de comunhão parcial de bens. De acordo com a certidão do imóvel, o negócio foi fechado com a RVA Construções e Incorporações, empresa do advogado e empresário Juscelino Sarkis. Leia mais nas págs. 6, 8 e 9