O Advogado Polvo
Recentemente, a Netflix lançou na plataforma o filme sul-africano “Professor Polvo”, vencedor do Oscar 2021 como melhor documentário longa-metragem.
Professor Polvo retrata o aprendizado de um produtor ao acompanhar diariamente a vida de um polvo durante um ano.
No filme, ele demonstra a inteligência descentralizada do polvo espalhada pelos seus milhares de sensores, sua capacidade intuitiva de perceber a chegada do perigo com antecedência, sua adaptabilidade ao meio para se proteger dos predadores e seu auto sacrifício em prol das próximas gerações.
INTELIGÊNCIA DESCENTRALIZADA
Quando os advogados assumem um novo cliente, ou são confrontados diante de uma nova situação, o primeiro movimento deve ser mergulhar em cada área da empresa contratante, como os tentáculos de um polvo que possuem mais de 1,5 mil sensores atuando independentemente no monitoramento completo do ambiente onde ele está inserido.
É desta forma que é possível uma “fotografia” fidedigna da empresa, diagnosticando como ela se encontra no momento inicial: nos seus aspectos jurídicos, comerciais, de gestão e econômicos.
Esse panorama faz parte do trabalho de um jurídico estratégico e interdisciplinar, permitindo uma melhor compreensão sobre os problemas e as oportunidades no planejamento.
MAPEAMENTO DOS RISCOS
Esse movimento de compreender profundamente as áreas de forma simultânea e direta, junto com a fotografia inicial, contribui efetivamente na identificação célere e assertiva dos riscos jurídicos e de negócios.
Assim como o polvo antevê os perigos e adota medidas de prevenção, esse mapeamento permite que seja desenvolvido um plano estratégico com soluções jurídicas a serem analisadas e implementadas junto com o cliente.
ADAPTABILIDADE AO MEIO
Assim como o polvo tem uma capacidade de se adaptar ao meio, os advogados precisam se inserir na cultura e na realidade de cada cliente, respeitando os movimentos microambientais e acompanhando as tendências macroambientais, cada vez mais dinâmicas e aceleradas em virtude da reverberação coercitiva digital. Para isso, além da dedicação ao estudo jurídico na busca das melhores alternativas para os conflitos, é fundamental ampliar o conhecimento em economia, negócios, novas tecnologias, marketing etc.
Essa formação contínua além do Direito amplia a visão como advogados estratégicos e permite compreender melhor os problemas e necessidades dos clientes.
SOBREVIVÊNCIA PARA PRÓXIMAS GERAÇÕES
Aqui vale ressaltar a necessidade latente de trabalharmos alternativas para as próximas gerações, assim como o polvo, mas sem autossacrifício. Pelo contrário, estimular a reflexão da responsabilidade inerente que todos nós temos em transmitir para as gerações futuras a melhor forma de gestão da inteligência jurídica, reforçando a nobreza e compromisso social inerente da nossa magnífica profissão.
O cerne é apontarmos caminhos reflexivos para os novos operadores do Direito no diálogo com outras ciências, iniciativa ainda resistente para alguns advogados e no ambiente acadêmico, mas vital na construção de resultados perenes. *Bruno Pedro Bom, advogado e publicitário, autor de “Marketing Jurídico na Prática”, publicado pela editora Revista dos Tribunais **Nelson Wilians, advogado e empreendedor. Presidente do Nelson Wilians Advogados