Kerry diz que precisa falar com Brasil para Amazônia não sumir
SÃO PAULO Em audiência com o comitê de relações exteriores do Congresso americano, o enviado de Joe Biden para o clima, John Kerry, disse na quarta (12) que, se não discutir a preservação da Amazônia com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), “a floresta vai desaparecer”.
“Estamos dispostos a conversar com eles, não com tapa-olhos, mas sabendo onde já estivemos”, disse o ex-secretário de Estado, que chamou de positivas as conversas, iniciadas semanas atrás. “Esperamos que a intenção possa ser traduzida em ação que seja efetiva e verificável.”
Kerry reconheceu que o Brasil vinha diminuindo os níveis de desmatamento entre 2004 e 2012 e disse que o país estava “fazendo progressos”. Mas pontuou que as proteções ao ambiente foram revertidas sob o que chamou de “regime Bolsonaro” —usando termo normalmente aplicado, por exemplo, à ditadura de Maduro na Venezuela.
Sobre o avanço das negociações com o governo brasileiro, o ex-secretário afirmou que o objetivo dos Estados Unidos é montar uma nova estrutura de fiscalização das ações na floresta em que todos “tenham confiança”. “Tivemos essa conversa. Eles dizem que estão comprometidos em aumentar o orçamento e montar uma nova estrutura”, afirmou.
Um dia após prometer mais verba para fiscalização na Cúpula de Líderes sobre o Clima convocada por Biden, em abril, Bolsonaro oficializou corte de recursos para a área relacionada a mudanças do clima e conservação ambiental.
Em discurso no encontro virtual, o presidente afirmou ter determinado a duplicação dos recursos destinados a ações de fiscalização ambiental no Brasil. De acordo com interlocutores de Bolsonaro, estimava-se que o aumento de recursos para a fiscalização ambiental ficasse em torno de R$ 115 milhões.
O Orçamento de 2021 sancionado por ele, no entanto, não incluiu o incremento prometido e cortou quase R$ 240 milhões da pasta do Meio Ambiente.
Há duas semanas, o governo americano tinha questionado o Brasil sobre o corte de recursos.
Durante reunião com os ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Carlos França (Relações Exteriores), no dia 30, Kerry mostrou preocupação com as notícias sobre a diminuição do orçamento e quis saber o que havia acontecido.
Salles e França argumentaram que uma recomposição orçamentária do Ministério do Meio Ambiente deve ocorrer em breve.
No Congresso americano, Kerry citou preocupação com pesquisas científicas que dizem que a Amazônia já libera mais carbono do que consome e que há risco de que ela deixe de ser uma floresta tropical.
Questionado pela deputada Susan Wild se os EUA estavam negociando diretamente com indígenas brasileiros, Kerry disse que não houve encontros diretos, mas que representantes têm sido consultados.
“As preocupações deles são primordiais. Eles têm muita voz e precisam ser ouvidos”, afirmou Kerry.