Inflação dispara nos EUA em abril é a mais alta em 13 anos
Índice supera previsões, avança 4,2% em 12 meses e amplia preocupações sobre efeitos de pacote de estímulo
Os preços ao consumidor subiram 4,2% nos EUA em abril em relação ao mesmo mês de 2020, aumento superior ao previsto pelos economistas e que pode alimentar preocupações sobre o surgimento de pressões inflacionárias.
O indicador de inflação dos EUA atrai atenção especial em razão dos temores de alguns investidores, economistas e analistas de que o robusto pacote de estímulo, os gargalos no abastecimento e a demanda elevada gerada pelo avanço rápido da vacinação contra o coronavírus possam conduzir a uma disparada perigosa dos preços, nos próximos meses.
Os 4,2% representam a maior alta desde 2008 e um salto significativo ante a alta de 2,6% registrada em março.
A questão representa um desafio para as autoridades econômicas dos EUA, tanto no Fed (Federal Reserve, o banco central) quanto no governo Biden, que ainda promovem medidas vigorosas de estímulo monetário e fiscal a fim de ajudar o país a se recuperar da pandemia, e presumem que os aumentos de preços atuais serão temporários.
Desconsiderados preços voláteis como os dos alimentos e combustíveis, o índice de preços ao consumidor subiu 3% abril, ante 1,6% em março. Na comparação com o mês anterior, a inflação geral subiu 0,8%, e a subjacente, 0,9%. Os maiores aumentos de preços, em base anualizada, foram registrados nos carros e caminhões usados, serviços de transporte e custos de energia.
Dirigentes do Fed e economistas de primeiro escalão no governo Biden, entre os quais a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disseram que a alta da inflação é passageira.
Não só os números mais altos do índice de preços ao consumidor se devem em parte ao “efeito base” —ou seja, eles estão sendo comparados a um período de queda na inflação, em 2020, quando começou a crise do coronavírus— como as autoridades econômicas americanas acreditam também que as pressões deflacionárias que dominaram a economia mundial nas últimas décadas tenham persistido.
Muitos economistas concordam com essa avaliação.
“Compartilhamos da visão do Fed de que não estamos vendo o início de uma espiral inflacionária. O desequilíbrio entre oferta e procura será corrigido gradualmente, e o ritmo da inflação deve esfriar, a caminho de 2022”, disseram Kathy Bostjancic e Gregory Daco, da Oxford Economics.
“O Fed não vai entrar em pânico depois de um relatório surpreendente de preços ao consumidor, e por isso devemos esperar ouvir ainda mais sobre pressões inflacionárias transitórias relacionadas a gargalos de suprimento, nas próximas semanas”, disse Ian Shepherdson, da Pantheon Macroeconomics.
“Mas esse relatório significa que a primeira parte de uma história de alta na inflação —a estilingada inicial— já aconteceu. Não estamos mais falando só de projeções, e novos aumentos pesados devem vir.”
Os dirigentes do Fed passaram a tolerar mais a inflação em parte porque os preços ao consumidor em muitos momentos ficaram abaixo da meta de 2% anuais do banco central. Mesmo em um período de política monetária frouxa, as autoridades tiveram dificuldades para gerar alta da inflação.
“Na medida em que o congestionamento da cadeia de suprimento e outras fricções de reabertura são transitórios, é improvável que gerem inflação persistentemente mais alta por conta própria”, disse Lael Brainard, integrante do conselho do Fed, na terça (11).
Quando se trata de inflação, como devemos avaliar o grau de firmeza do Fed?
“Um aumento material persistente da inflação requereria não só que os salários ou preços subissem por algum tempo, depois da reabertura, mas também uma expectativa generalizada de que eles continuarão a subir em ritmo persistentemente mais alto.”