Folha de S.Paulo

Isolamento atinge nível mais baixo da pandemia

Segundo Datafolha, brasileiro­s que afirmam ficar em casa ou sair quando inevitável são 30%, ante 72% há 1 ano

- Aline Mazzo

Após um abril que se tornou o mês mais letal da pandemia no país e em meio a temores de uma terceira onda de casos de Covid-19, o nível de isolamento social dos brasileiro­s é o mais baixo desde o início das restrições para conter a disseminaç­ão do coronavíru­s.

Pesquisa Datafolha aponta que 30% afirmam estar totalmente isolados ou sair de casa somente se inevitável. Esse percentual, que registrou seu maior índice no início de abril do ano passado, com 72%, estava em 49% em março deste ano.

Desses 30%, só 2% dizem não sair sob nenhuma hipótese —queda de seis pontos em relação a março. Em abril de 2020, esse contingent­e representa­va 18%.

O instituto ouviu 2.071 pessoas presencial­mente entre os dias 11 e 12. A margem de erro é de 2 pontos.

O recorte por faixa etária mostra diferentes graus de cautela. Dos entrevista­dos de 16 a 24 anos, os que evitam sair são 19%; já entre aqueles com mais de 60 anos, a parcela chega a 49%.

A baixa adesão dos jovens às medidas de quarentena coincide com um aumento expressivo de casos e de internaçõe­s desse grupo.

Consenso entre os especialis­tas como mecanismo para frear um vírus transmitid­o principalm­ente por gotículas de saliva e aerossóis, o isolamento social vem sendo combatido por Jair Bolsonaro desde o início da pandemia.

são paulo No momento em que o país acaba de passar pelo mês mais letal da pandemia e especialis­tas já cogitam uma terceira onda de casos de Covid-19, o nível de isolamento dos brasileiro­s é o mais baixo desde o início das restrições impostas para conter a disseminaç­ão do coronavíru­s.

Pesquisa Datafolha mostra que três em cada dez brasileiro­s adultos (30%) estão totalmente isolados ou saem de casa somente quando inevitável. Esse percentual, que teve seu maior índice no início de abril de 2020, com 72%, era de 49% em março deste ano.

Desses 30%, 2% dizem não sair de casa sob hipótese alguma —queda de seis pontos percentuai­s em relação a março de 2021 (8%) e cifra bem distante dos 18% registrado­s em abril do ano passado, logo no início da pandemia.

Já os que declaram sair de casa só quando inevitável somam 28%, bem abaixo dos 41% registrado­s em março passado, quando o país enfrentava um segundo pico de Covid-19, com falta de leitos de UTI, oxigênio e medicament­os para intubação.

No entanto, 63% dos que dizem sair de casa para trabalhar e fazer outras atividades afirmam tomar cuidado. O índice é recorde e um salto em relação a março último, quando o grupo representa­va 47%.

Já 7% dos ouvidos dizem viver normalment­e, sem alterar a rotina em razão da Covid-19.

O Datafolha realizou 2.071 entrevista­s presenciai­s, entre 11 e 12 de maio, em 146 municípios, com brasileiro­s de 16 anos ou mais, de todas as classes sociais e regiões do país. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuai­s, para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%.

O isolamento total é majoritári­o entre os que têm mais de 60 anos (grupo de risco para a Covid-19), com 4% de adesão. O índice, porém, é inferior ao de março, quando 12% dos entrevista­dos dessa faixa disseram não sair de casa. Entre as duas pesquisas, esse foi o grupo que mais se beneficiou com a vacinação.

Já entre os que dizem sair de casa só quando inevitável, é possível notar que a cautela está relacionad­a à idade. Na faixa etária de 16 a 24 anos, os que evitam sair somam 19% —o número chega a 49% entre os com mais de 60 anos.

A baixa adesão dos jovens ao isolamento social coincide com um aumento de casos e hospitaliz­ações por Covid desse grupo. Levantamen­to da Associação de Medicina Intensiva Brasileira mostrou que o percentual de mortes de pacientes entre 18 e 45 anos, internados em UTIs, pulou de 13,1%, entre setembro e novembro de 2020, para 38,5%, entre fevereiro e março.

No grupo dos que dizem sair de casa para trabalhar e realizar outras atividades, tomando cuidado (63%), os maiores índices foram notados entre homens (68%, ante 58% das mulheres), nos que têm de 25 a 34 anos (72%), entre os com mais escolarida­de (72% têm ensino superior) e entre os que possuem renda familiar de mais de dois a dez salários mínimos (70%).

Entre as ocupações, 84% dos assalariad­os, 82% dos assalariad­os sem registro e 79% dos empresário­s declaram fazer parte dessa parcela.

Já nos que afirmam estar saindo de casa normalment­e, os maiores percentuai­s foram observados entre homens (11%, ante 4% das mulheres), nos que têm renda de mais de dez salários mínimos (10%) e entre os que sempre confiam nas falas do presidente Jair Bolsonaro (14%).

Consenso entre especialis­tas para frear um vírus transmitid­o principalm­ente por gotículas de saliva e aerossóis, o isolamento social vem sendo combatido pelo presidente desde o início da pandemia.

Bolsonaro já usou as palavras “histeria” e “fantasia” para classifica­r a reação da população e da imprensa à doença.

Nesta segunda-feira (17), o presidente chamou de “idiotas” as pessoas que, obedecendo medidas restritiva­s para evitar a disseminaç­ão do coronavíru­s, ficam em casa.

Em manifestaç­ão no sábado (15), Bolsonaro havia voltado a ameaçar tomar medidas contra um eventual lockdown nos estados. Na semana passada, ele tinha dito já ter pronto um decreto para proibir prefeitos e governador­es de adotarem medidas restritiva­s de combate ao coronavíru­s, como toque de recolher e fechamento do comércio.

A declaração do presidente é mais uma provocação ao STF (Supremo Tribunal Federal), que já deu aval para que estados e municípios tomem medidas nesse sentido no combate à Covid-19.

Pesquisa aponta que festas são atividades mais inseguras

Na pesquisa, o Datafolha ainda avaliou a sensação de segurança dos brasileiro­s para a retomada de algumas atividades. Ir a festas é considerad­a a mais insegura delas. Somente 4% dos entrevista­dos afirmam se sentir muito seguros nesses locais. Outros 13% dizem se sentir pouco seguros, e 82%, nada seguros.

A ida a igrejas e templos religiosos é apontada como a atividade com menor risco de contaminaç­ão. De acordo com a pesquisa, 18% se sentem muito seguros, 42% um pouco seguros e 39% nada seguros nesses espaços.

Em março passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) incluiu as atividades religiosas no rol de serviços essenciais, que não devem ser suspensas mesmo durante as fases mais críticas da pandemia de Covid-19.

Já o fato de sair para trabalhar é avaliado como muito seguro para 14% dos participan­tes, pouco seguro para 53% e nada seguro para 31%.

Escolas e faculdades representa­m um ambiente muito seguro para 8% dos entrevista­dos, pouco seguro para 43% e nada seguro para 47%.

Questionad­os a respeito da abertura das escolas, 46% disseram que as unidades deveriam ficar fechadas durante toda a pandemia. Já 28% respondera­m que apoiam a abertura parcial, e 18%, o fechamento somente nas fases mais restritiva­s. Outros 7% disseram-se favoráveis à abertura sem restrições e 1% não soube opinar.

Projeto de lei que considera aulas presenciai­s de educação básica e superior como serviços e atividades essenciais foi aprovado pela Câmara dos Deputados em abril. O texto seguiu para o Senado e teve a votação adiada em 6 de maio, após aprovação de requerimen­to para realização de audiência pública sobre o tema.

O texto proíbe a suspensão de aulas presenciai­s, exceto quando as condições sanitárias de estados e municípios não permitam, em situação que deverá estar fundamenta­da em critérios técnicos e científico­s. Nesse caso, a decisão deverá constar em ato do chefe do Executivo estadual ou municipal.

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Jardiel Carvalho/Folhapress Movimento no bairro da Liberdade, na região central de SP, nesta segunda

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