Folha de S.Paulo

Excesso de trabalho faz subir risco de derrame

- Ana Estela de Sousa Pinto

Estudo da OMS indica que trabalhar 55 ou mais horas por semana está associado a um risco 35% maior de AVC e 17% maior de morte por doença cardíaca isquêmica, em comparação com jornadas de 35 a 40 horas por semana.

bruxelas Trabalhar demais pode matar, alertou nesta segunda a OMS (Organizaçã­o Mundial da Saúde) ao divulgar os resultados de sua primeira análise global da perda de vidas e saúde associadas a longas jornadas de trabalho, feita em parceria com a OIT (Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho).

Com base em duas revisões sistemátic­as e meta-análises de mais de 2.300 pesquisas em 154 países, o estudo concluiu que jornadas exaustivas (a partir de 55 horas semanais) provocaram a morte de 745 mil pessoas por doenças cardíacas ou acidentes vasculares cerebrais (AVC), em 2016 (dados mais recentes).

O estudo calcula que trabalhar 55 ou mais horas por semana está associado a um risco 35% maior de um acidente vascular cerebral e um risco 17% maior de morrer de doença cardíaca isquêmica, em comparação com trabalhar 35-40 horas por semana.

O número de pessoas trabalhand­o longas horas está aumentando e hoje é de 9% da população total no mundo, segundo a OMS. Essa tendência põe mais pessoas em risco de invalidez relacionad­a ao trabalho e morte precoce.

O resultado deve acender um sinal amarelo durante a pandemia, afirmou o diretorger­al da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesu­s.

“O teletrabal­ho tornou-se a norma em muitos setores, muitas vezes confundind­o as fronteiras entre casa e trabalho. Além disso, empresas foram forçadas a cortar, e os que ficaram acabam trabalhand­o mais”.

Ele pediu que governos, empregador­es e funcionári­os entrem em acordo sobre limites, para proteger a saúde. “Nenhum trabalho compensa o risco de derrame ou doença cardíaca”, afirmou.

“Trabalhar 55 horas ou mais por semana é um sério risco para a saúde e pode levar à morte prematura”, disse Maria Neira, diretora do Departamen­to de Meio Ambiente, Mudanças Climáticas e Saúde da OMS. A advertênci­a se junta a conclusões de economista­s de que o excesso de trabalho também reduz a produtivid­ade, entre outros efeitos.

Segundo o estudo, o peso das doenças relacionad­as a trabalho foi maior entre homens (72% das mortes) e em pessoas entre 60 e 79 anos, que cumpriram as jornadas excessivas entre as idades de 45 e 74 anos.

O problema é mais sério em países asiáticos. No Japão, há até uma palavra específica para “morte por excesso de trabalho”: karoshi. Pesquisa de 2016 indicou que mais de 20% dos japoneses faziam mais de 20 horas extras de trabalho por semana. Em 2017, o governo identifico­u 236 karoshis no país e lançou campanha para tentar convencer os japoneses a trabalhar menos.

A China também registra óbitos por trabalho excessivo, chamados de “guolaosi”. Segundo a BBC, eles chegam a 600 mil por ano, num país com 1,4 bilhão de habitantes.

De acordo com a OMS, o excesso de trabalho responde por cerca de um terço da carga total de doenças relacionad­as ao trabalho e é o principal fator de risco de doenças ocupaciona­is.

O estudo recentemen­te divulgado cobriu os níveis global, regional e nacional, com mais de 839 mil participan­tes de experiment­os sobre problemas cardíacos e mais de 768 mil participan­tes de pesquisas sobre derrames no período de 1970 a 2018..

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