Folha de S.Paulo

Cármen manda Salles entregar passaporte à PF

- Mônica Bergamo

A ministra do Supremo Cármen Lúcia determinou ontem que o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles entregue o passaporte à Polícia Federal.

O novo titular da pasta, Joaquim Pereira Leite, cancelou reunião com Hamilton Mourão.

SÃO PAULO A ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia determinou que o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles entregue o passaporte à Polícia Federal. Com isso, ele não pode sair do país.

Os advogados dele já foram intimados e vão cumprir a ordem judicial, mas afirmam que ela era desnecessá­ria.

“Uma vez exonerado do cargo de ministro, ele não deveria mais estar sob a jurisdição do STF, já que perdeu o foro privilegia­do”, diz o advogado Roberto Podval, que representa o ex-ministro. “A politizaçã­o do Supremo Tribunal Federal é ruim para qualquer um dos lados”, segue ele.

Podval afirma ainda que vai agravar da decisão, “absolutame­nte contrária à jurisprudê­ncia da corte”.

Antes de decidir, a magistrada abriu vista para a Procurador­ia-Geral da República (PGR), que deu o parecer favorável à apreensão do passaporte. Eles argumentar­am que a medida era necessária para preservar as investigaç­ões.

Salles pediu demissão do cargo nesta semana. Ele está sendo investigad­o sob suspeita de envolvimen­to em um esquema de exportação ilegal de madeira.

O ministro do STF Alexandre de Moraes já tinha autorizado buscas e apreensões em endereços de Salles e até autorizado o envio do celular dele aos EUA para que a senha do aparelho seja quebrada.

Salles é alvo de inquérito no STF por operação da Polícia Federal que mira suposto favorecime­nto a empresário­s do setor de madeiras por meio da modificaçã­o de regras com o objetivo de regulariza­r cargas apreendida­s no exterior.

A demissão de Salles foi anunciada no mesmo dia em que as investigaç­ões de compras suspeitas da vacina Covaxin chegaram ao nome de Bolsonaro na CPI da Covid. O caso elevou a temperatur­a política no Planalto na quarta (23).

Salles deixa a Esplanada criticado por ambientali­stas pelo avanço do desmatamen­to na Amazônia.

A Polícia Federal apura suspeitas de crimes de corrupção, advocacia administra­tiva, prevaricaç­ão e facilitaçã­o de contraband­o que teriam sido praticados por agentes públicos e empresário­s do ramo madeireiro.

Salles também é alvo de um inquérito que investiga sua suposta atuação para atrapalhar a apuração da maior apreensão de madeira do Brasil, feita na Operação Handroanth­us.

Sua gestão foi marcada por ações contrárias ao objetivo da pasta, que é a preservaçã­o ambiental. Em dois anos e meio no cargo, enfraquece­u ou destruiu mecanismos de proteção das florestas, minimizou o impacto das queimadas, combateu quem fiscalizav­a infratores e reduziu a participaç­ão da sociedade civil na elaboração e implementa­ção de políticas para o setor.

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