Com vergonha e medo, crianças fecham câmeras durante aulas online
Alunos falam das suas motivações e professores explicam que aparecer na tela do computador é importante
são paulo Além de aprender operações matemáticas e as capitais do Brasil, toda vez que Jullia entra na aula online ela tem mais algumas preocupações em mente. Será que alguém vai aparecer atrás quando sua câmera estiver ligada? Será que ela está feia? Será que está todo mundo reparando no seu cabelo?
A Jullia tem 13 anos e, assim como grande parte das crianças e adolescentes brasileiros, precisou transformar o quarto em sala de aula depois que sua escola fechou temporariamente, por causa do coronavírus. E essa adaptação não tem sido fácil para ela.
Jullia até tem a estrutura que precisa para estudar: computador, cadeira, mesa. O que falta, na verdade, é confiança. “Eu não deixo a câmera aberta porque tenho vergonha. Vergonha da minha cara e tudo mais”, conta, dizendo que às vezes até toma coragem de ligar o aparelho, mas deixa a lente virada para o teto.
“Tenho medo de travar e eu ficar com uma cara estranha”, diz Valentin, 12 anos. Assim como Jullia, ele também conta ter vergonha de ligar a câmera. As únicas vezes em que topou abrir a imagem foi porque os pais fizeram pressão.
“Tenho medo de alguma hora parar pra conversar com minha mãe, ou olhar pra algum lugar e acharem que não tô prestando atenção. E se eu fizer algum gesto, como bocejar?”, questiona Valentin.
Ele explica que a sensação é muito diferente daquela de
Valentin, sobre aula presencial estar presencialmente na escola. “Lá não fica tudo fixado em mim. No online, quando eu falo, fica um amarelo em volta.”
“Todo ser humano sente vergonha, sejam as crianças, os pais, os avós”, afirma a psicóloga Camila Cury, especialista em comportamento humano e fundadora do programa de inteligência socioemocional Escola da Inteligência.
Camila explica que, quando seé pequeno, apre ocupaçãoémen orco moque os outros vão pensar ou falar da gente. Mas, ao chegar mais perto da adolescência, essa sensação vai mudando.
“Geralmente, os jovens que se escondem por trás das câmeras desligadas são os mesmos que não gostam de comentar sobre seus sentimentos e vivências pessoais. Nesses casos, família e escola precisam conversar sobre este comportamento com eles.”
No Oswald de Andrade, um colégio de São Paulo, esse tipo de conversa já aconteceu algumas vezes. Teve um dia, inclusive, que os professores entraram para dar aula com suas próprias câmeras fechadas. Por quê?
“Para os alunos sentirem a diferença”, responde o coordenador Fernando Pimentel. “São muitas as estratégias que usamos. Fizemos pesquisas e combinados com as turmas. Dia de seminário, por exemplo, é câmera aberta!”.
“Foram discussões muito interessantes, que nos permitiram perceber que, em momentos previamente combinados, em que eles chegam preparados para abrira câmera, o número de câmeras abertas aumenta bastante”, garante Fernando.
João Guilherme, 12, e Maria Vitória, 11, estudam no mesmo colégio em Bragança Paulista, no interior de São Paulo. Os dois asseguram que deixam a câmera ligada. “Deixo ligada para o professor saber que eu estou ali”, fala João.
“Deixo porque acho que é uma questão de você estar vendo o professore ele poder te ver, como se você estivesse em u masal ade aula mesmo.Édifícil, principalmente no começo, mas, quando agentes e acostuma,acaba sendo divertido. Ajuda aficar mais concentrado, mais focado ”, completa a amiga.
Livia, 12, que estuda na capital, conta que, depois que acorda, arruma o cabelo, e entra na aula online quase do mesmo jeitinho que dormiu. “Não é necessariamente um pijama, porque às vezes eu durmo de roupa”, esclarece.
Ela liga a câmera quase sempre, exceto quando está “com preguiça”. No colégio dela, também houve conversas dos professores com as crianças sobre a importância de aparecer virtualmente nas reuniões. E ela mesma ajudou a conscientizar os colegas.
“Disse pra eles que todo mundo tá cansado da quarentena e do EAD (ensino à distância), só que também é muita falta de respeito agente ficar de câmera fechada sendo que os professores também estão cansados e precisam da nossa colaboração pra continuar dando certo as aulas.”
Vivian Gusmão trabalha no Oswald junto com o coordenador Fernando —ela é professora de língua portuguesa. Vivian conta quais são as desculpas mais frequentes dos alunos para desligara câmera.
“Alguns mencionam que, ao abrira câmera, o desempenho do computador fica prejudicado, outros dizem que acordaram atrasado senão se arrumar ampara aparecer, há quem diga que sente vergonha e prefere interagir só por voz”, enumera.
Para a psicóloga Camila, há, ainda, mais alguns motivos possíveis para atela pretana aula .“Muitas vezes acriança ou adolescente não quer que os colegas vejam o seu quarto ou outro espaço de sua casa. Ou, ainda, não querem que descubram que pode estar fazendo outra tarefa não relacionada à escola”, diz.
É claro que nenhum professor tem poderes mágicos para descobrira razão verdadeira que leva um aluno anão deixar a câmera aberta, mas Camila diz que poder ter uma relação de confiança com os mestres é mais importante que qualquer investigação a esse respeito.
“A educação não acontece no campo minado, ou seja, com mentiras e distanciamento afetivo”, explica, mostrando que professoras e professoras não são inimigos dos alunos. Pelo contrário: eles estão ali para ajudar.
“As duas partes precisam agir com sinceridade. O professor se esforça muito. E o aluno, do ou trolado da tela e sem aparecer, desestimula a dedicação do professor. E agente só consegue avançar na aprendizagem quando está numa relação de confiança, com interesse e respeito pelo outro.”
“Lá não fica tudo fixado em mim. No online, quando falo, fica amarelo em volta