Folha de S.Paulo

O ‘vacinagate’ de Bolsonaro

- Cristina Serra helio@uol.com.br

brasília A veloz evolução dos acontecime­ntos na CPI da Covid abalou os nervos do contaminad­or-geral da República. Suas explosões perante repórteres são o que lhe restam diante dos questionam­entos sobre o que já pode ser chamado de escândalo da Covaxin ou o “vacinagate” de Bolsonaro.

O fio da meada foi puxado por esta Folha, que revelou o depoimento do servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, sobre pressões para compra da Covaxin, do laboratóri­o indiano Bharat Biotech. As tratativas ocorreram na gestão catastrófi­ca do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde e envolvem dirigentes da pasta indicados por ele. O irmão do servidor, deputado Luís Miranda (DEM-DF), disse que alertou Bolsonaro sobre o caso suspeito.

Neste enredo, tudo cheira mal: a rapidez da negociação, o preço da vacina, as condições do contrato, a triangulaç­ão de empresas e os personagen­s da trama. O dono das empresas envolvidas, Francisco Maximiano, tem antecedent­e de negócios nebulosos com o Ministério da Saúde, na época em que o titular da pasta era Ricardo Barros, no governo Michel Temer. O mesmo Ricardo Barros (PP-PR), agora líder do governo na Câmara, foi autor de uma alteração na medida provisória que facilitou o contrato com as empresas de Maximiano.

Sabe-se agora também, conforme a revista Veja, que o senador e filho 01, Flávio Bolsonaro, franqueou a Maximiano o acesso ao gabinete do presidente do BNDES, Gustavo Montezano, para tratar de outros negócios. O “vacinagate” está dentro do Palácio do Planalto. Bolsonaro sabe disso, daí seu descontrol­e.

Ficou famoso o conselho de Mark Felt, fonte dos repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal The Washington Post, na cobertura do caso Watergate: “Follow the money (siga o dinheiro)”. A orientação foi certeira. Como se sabe, o escândalo levou à renúncia do presidente Richard Nixon.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil