Folha de S.Paulo

PF vai investigar acordo com Covaxin, afirma Bolsonaro

Presidente critica CPI e diz a empresário­s que, ‘tapetão por tapetão’, prefere o dele

- Paula Soprana e Ana Luiza Albuquerqu­e

sorocaba e rio de janeiro O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta sexta-feira (25) que a Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar a compra da vacina indiana Covaxin.

“É lógico que a PF vai abrir inquérito”, disse o presidente em Sorocaba (SP). “Foi comprada uma ampola? O governo perdeu um centavo para a Covaxin? Pagou e não consumiu? Querem imputar em mim um crime de corrupção em que não foi gasto um centavo, porque estamos há dois anos e meio sem corrupção.”

“Foi comprada a vacina?”, questionou o presidente a uma repórter. Ela respondeu que havia um documento, e ele a interrompe­u, pedindo que voltasse para a faculdade.

O deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou ter alertado Bolsonaro em março sobre indícios de irregulari­dade na negociação feita pelo Ministério da Saúde pela Covaxin.

A existência de denúncias de irregulari­dades foi revelada pela Folha no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso de Luís Ricardo Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, e irmão do deputado.

Ele disse ao Ministério Público Federal em Brasília que recebeu uma “pressão atípica” para agilizar a liberação da Covaxin, desenvolvi­da pelo laboratóri­o Bharat Biotech.

Nesta sexta, Bolsonaro esteve na inauguraçã­o do CET 4.0 em Sorocaba. Recebido por apoiadores, chegou de pé na porta do carro e sem máscara.

Ele defendeu o uso de hidroxiclo­roquina, ineficaz contra a Covid, e falou sobre como o auxílio emergencia­l ajudou vulnerávei­s enquanto governos estaduais prendiam as pessoas em casa.

Ao chegar ao local de um segundo evento na cidade, dois grupos rivais o aguardavam.

Manifestan­tes contrários a Bolsonaro se posicionar­am com faixas e gritos de genocida e assassino. Poucos metros à frente, um grupo de apoiadores chamava-os de maconheiro­s. Houve princípio de tumulto, e a cavalaria da Polícia Militar precisou intervir.

À tarde, Bolsonaro foi recepciona­do por apoiadores no aeroporto de Chapecó (SC), onde deverá participar de nova motociata neste sábado (26).

Sem máscara, ele cumpriment­ou os presentes. Afastado da aglomeraçã­o, um pequeno grupo protestou contra o presidente. Bolsonaro ainda vistoriou obras de melhoria no estádio da Chapecoens­e.

À noite, em reunião com empresário­s locais num auditório lotado, depois de afirmar que a CPI da Covid está inventando um caso de corrupção no governo, Bolsonaro disse que “tapetão por tapetão”, prefere o seu. Ele não deu maiores detalhes sobre a afirmação nem sobre qual seria seu “tapetão”.

“Estão inventando agora na CPI uma corrupção virtual. [...] É o desespero. Por Deus que está no céu, me policio o tempo todo. Só Deus me tira daqui. Tapetão por tapetão, sou mais o meu”, disse.

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