Folha de S.Paulo

STF forma maioria para limitar poder de comissão de apurar verba a estados

Após barrar convocação de governador­es, ministros voltam a esvaziar foco governista na CPI

- Matheus Teixeira

brasília O STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria nesta sexta (25) para proibir a CPI da Covid de investigar a aplicação de verba federal nos estados, esvaziando ainda mais as pretensões de senadores governista­s.

No dia anterior, a maioria dos ministros já havia votado também para estabelece­r que a CPI não pode convocar governador­es para depor.

O julgamento ocorre no plenário virtual e os dez ministros que votaram até a conclusão desta edição se posicionar­am para vetar a convocação de gestores estaduais a prestar depoimento.

Seis deles, porém, foram além do pedido feito por 19 governador­es na ação protocolad­a no Supremo e também resolveram limitar os poderes de investigaç­ão da CPI em relação aos estados.

Edson Fachin, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowsk­i, Dias Toffoli e Luiz Fux acompanhar­am a relatora, Rosa Weber, para afirmar que a competênci­a para analisar o uso de verbas federais repassadas a estados é exclusiva do TCU (Tribunal de Contas da União).

Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes e Marco Aurélio votaram para autorizar a comissão parlamenta­r de inquérito em curso no Senado a investigar a aplicação desses recursos.

Ainda faltava a posição do ministro Kassio Nunes Marques, que tinha até 23h59 desta sexta-feira para incluir seu voto no sistema da corte.

A decisão dele, porém, não altera o resultado do julgamento, uma vez que 10 dos 11 ministros já proibiram a convocação de governador­es, sendo que seis deles também limitaram o alcance dos poderes de investigaç­ão da CPI.

Prevaleceu a posição de Rosa de que “a competênci­a para julgar as contas dos governador­es em relação a verbas repassadas pela União cabe ao Tribunal de Contas da União e não ao Congresso Nacional”.

Segundo ela, a investigaç­ão de gestões estaduais por uma CPI federal não é compatível com a Constituiç­ão.

“Os governador­es de estado prestam contas perante a Assembleia Legislativ­a local (contas de governo ou de gestão estadual) ou perante o Tribunal de Contas da União (recursos federais), jamais perante o Congresso”, afirmou.

Rosa disse que os senadores foram além de seus poderes ao aprovarem a convocação de gestores estaduais.

“A amplitude do poder investigat­ivo das CPIs do Senado e da Câmara dos Deputados coincide com a extensão das atribuiçõe­s do Congresso, caracteriz­ando excesso de poder a ampliação das investigaç­ões parlamenta­res para atingir a esfera de competênci­as dos estados-membros ou as atribuiçõe­s exclusivas do TCU”, disse.

Os cinco ministros que a seguiram não incluíram seus votos no sistema e se limitaram a acompanhar o voto de Rosa.

Os outros quatro, porém, publicaram votos por escrito. Moraes afirmou que a competênci­a do TCU para julgar contas sobre recursos públicos “não exclui a ampla possibilid­ade de a CPI tratar de fatos relacionad­os à utilização desses mesmos recursos, respeitado, entretanto, o princípio federativo”.

Barroso afirmou que “a fundamenta­ção adotada impõe limitação ao objeto da CPI da Pandemia de forma desassocia­da com os pedidos formulados na ação” e que, por isso, não iria aderir a essa corrente.

O resultado do julgamento representa uma derrota para o governo de Jair Bolsonaro, que apostava no depoimento e na investigaç­ão de governador­es para dividir o desgaste pelos trabalhos da CPI com as gestões estaduais.

O STF, porém, resolveu esvaziar metade da CPI, criada por ordem do próprio tribunal e tinha dois focos: a gestão do governo federal no combate da pandemia e o uso de verbas repassadas aos estados.

Agora, a comissão deve retomar uma agenda focada em depoimento­s e apurações de pessoas ligadas ao governo Bolsonaro.

A convocação dos governador­es ocorreu após muita negociação entre senadores aliados do Planalto e oposicioni­stas. No fim de maio, a CPI acabou aprovando a convocação de todos os gestores que tiveram seus governos atingidos, de alguma forma, por operações da Polícia Federal —Wilson Lima (PSC-AM), Helder Barbalho (MDB-PA), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Mauro Carlesse (PSL-TO), Carlos Moisés (PSL-SC), Waldez Góes (PDTAP), Wellington Dias (PT-PI) e Marcos Rocha (PSL-RO).

A cúpula da CPI, que não tem maioria governista, acabou cedendo nas negociaçõe­s justamente por apostar que o Supremo barraria a convocação. A aposta deu certo, uma vez que, agora, nenhum governador precisará comparecer à comissão.

“Os governador­es prestam contas perante a Assembleia Legislativ­a local (contas de governo ou de gestão estadual) ou perante o Tribunal de Contas da União (recursos federais), jamais perante o Congresso Nacional Rosa Weber ministra do STF

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Felipe Sampaio - 27.mai.21/Divulgação STF A ministra Rosa Weber em sessão do STF no mês passado

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