Fazendeiro é condenado de novo por morte de semterra, mas seguirá solto
curitiba O fazendeiro Marcos Prochet, ex-presidente da UDR (União Democrática Ruralista) no noroeste do Paraná, foi condenado nesta quinta-feira (24) a 14 anos e 3 meses de prisão pelo assassinato do trabalhador sem terra Sebastião Camargo, em 1998.
É a terceira vez que Prochet é submetido a júri popular por envolvimento no crime. Os julgamentos de 2013 e 2016 foram anulados pelo Tribunal de Justiça do Paraná. Ele ainda pode recorrer da decisão em liberdade.
Camargo tinha 65 anos quando foi morto com um tiro na nuca, durante despejo forçado em um acampamento do MST na fazenda Boa Sorte, em Marilena (PR).
O local estava ocupado por cerca de 300 famílias havia três meses. Outras 17 pessoas, incluindo crianças, ficaram feridas na ação. Segundo testemunhas, pistoleiros e proprietários rurais encapuzados tentaram expulsar os invasores a tiros, numa ação durante a madrugada.
A camponesa Antônia França, uma das testemunhas ouvidas, disse que ela e Camargo foram obrigados a deitar no chão, mas que ele não pôde seguir a ordem por sofrer de problema na coluna; por isso foi baleado. Vestígios de pólvora no corpo dela foram atestados em perícia.
Antônia disse que reconheceu a voz de Prochet. Depois do disparo, segundo ela, o fazendeiro levantou o capuz e ela conseguiu identificá-lo.
Mas seis pessoas dizem ter visto Prochet —quatro o apontaram como o autor do disparo que matou Camargo.
Como nos outros julgamentos, Prochet negou ter participado da ação e disse que estava em casa no momento do despejo, apresentando funcionários como testemunhas. Para a Promotoria, contradições nos depoimentos e nas versões da defesa enfraqueceram o álibi.
A Folha não teve retorno da defesa do fazendeiro até a conclusão desta edição.
A morte de Camargo e de integrantes do movimento levou o Estado a ser responsabilizado na Corte Interamericana de Direitos Humanos em 2012, pela lentidão do processo. O primeiro júri ocorreu 14 anos após o crime.
Prochet foi a quarta pessoa a ir a júri popular pelo assassinato de Camargo, segundo a assessoria do MST.
O dono da fazenda, Teissin Tina, foi condenado a seis anos de prisão, mas a pena prescreveu. Osnir Sanches, pistoleiro apontado como comandante da ação, recebeu 13 anos de pena e cumpre prisão domiciliar.
Augusto Barbosa da Costa recorreu da condenação e segue em liberdade. Integrante da UDR, Tarcísio Barbosa de Souza foi denunciado em 2013 sob suspeita de ser responsável pela contratação e pelo armamento da ação, mas, em 2019, o TJ-PR anulou decisão que o levaria a júri popular.