Há risco de que uma variante escape dos imunizantes atuais, diz OMS
BRUXELAS A rápida expansão da variante Delta (B.1.617.2, identificada primeiro na Índia) em países que já estavam com imunização contra a Covid avançada —como Reino Unido e Israel— exige que governos redobrem as medidas básicas de prevenção de contágio e acelerem a vacinação, antes que apareça uma versão capaz de escapar das atuais vacinas e tratamentos.
O alerta foi feito nesta sexta (25) a OMS (Organização Mundial da Saúde), em entrevista em Genebra. O órgão acompanha a evolução de quatro variantes consideradas “preocupantes” (entre elas a Delta) e outras sete “de interesse”.
“O vírus vai continuar a evoluir. A Delta é perigosa porque é extremamente transmissível. Por enquanto, nossos diagnósticos, vacinas e tratamentos funcionam contra ela. Mas pode haver um momento em que surja nova variante que escape das ferramentas de combate que já temos”, disse a líder técnica para Covid-19, Maria van Kerkhove.
Com maior contaminação, aumenta a possibilidade de que apareçam novos mutantes e de que parte deles seja mais perigosa que as linhagens anteriores. O risco é especialmente preocupante na América Latina, onde há um “nível alto de transmissão comunitária contínua”, segundo a diretora-geral-assistente da OMS, Mariângela Simões.
No relatório mais recente da OMS, de terça (22), o Brasil foi o país com o maior número de novos casos reportados (505.344 novos casos em uma semana, alta de 11%), à frente da Índia, onde a infecção está caindo (441.976 novos casos, queda de 30%). O número brasileiro é mais que o dobro da terceira colocada, a Colômbia (193.907 novos casos, alta de 10% ).
“A Delta tem provocado curva de novos casos quase vertical [em que os números se multiplicam várias vezes a cada dia] em muitos países, com crescimento entre os que ainda não estão vacinados”, afirmou Van Kerkhove.
Há várias formas pelas quais uma variante pode ser mais contagiosa que as anteriores, diz o diretorexecutivo da OMS, Mike Ryan: o vírus pode sobreviver mais tempo nas gotas de saliva, pode fazer com que a pessoa infectada desenvolva carga maior de vírus ou pode reduzir a “dose infecciosa” (o número necessário de coronavírus para que aconteça a transmissão).
Também há casos em que ele consegue penetrar mais facilmente no corpo (em áreas mais superficiais) ou alterar a rota de contágio.
“Cada vez que o vírus melhora, ele substitui os anteriores, como estamos vendo em muitos países. Se ele fica mais eficiente, precisamos intensificar os cuidados, ser mais diligentes, redobrar a atenção”, afirma Ryan.
Van Kerkhove ressaltou que “isso não quer dizer confinamento”, mas o uso correto de medidas básicas como distanciamento, uso de máscara quando a distância for impossível, ventilação de locais fechados, higiene das mãos, teste para identificar infectados, rastreamento de contatos e isolamento.