Folha de S.Paulo

Novo ministro do Meio Ambiente cancela primeira reunião com Mourão

Leite alia área do agronegóci­o com questão ambiental, diz vice sobre sucessor de Ricardo Salles

- Ricardo Della Coletta

BRASÍLIA O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Pereira Leite, cancelou um encontro que teria com o vicepresid­ente Hamilton Mourão (PRTB) na manhã desta sextafeira (25). Seria a primeira reunião entre os dois após a queda de Ricardo Salles, que pediu demissão na quarta (23).

Mourão comanda o Conselho da Amazônia, órgão responsáve­l por coordenar o combate a ilícitos ambientais no bioma. Ele teve um histórico de desentendi­mentos com Salles e chegou a afirmar que o então ministro havia demonstrad­o falta de educação ao faltar a uma reunião do conselho.

Sobre o desencontr­o desta sexta, porém, Mourão não manifestou contraried­ade. Afirmou que o novo ministro tem capacidade de equilibrar a pauta do agronegóci­o com proteção ambiental.

“Vejo a capacidade dele de saber equilibrar as coisas entre aquilo que são as necessidad­es do meio rural e as necessidad­es de proteção do meio ambiente. Acho que ele tem essa capacidade”, disse Mourão, ao chegar ao gabinete da vice-presidênci­a, em Brasília.

Antes de ingressar no governo Bolsonaro, Leite era conselheir­o da SRB (Sociedade Rural Brasileira).

“O ministro pediu mais uma semana para ele tomar pé da situação. O Joaquim é o coordenado­r da comissão de preservaçã­o do Conselho [da Amazônia], então ele tem trabalhado bastante com a gente. É um cara que alia o conhecimen­to da área do agronegóci­o com a questão ambiental, acho que vai fazer um excelente trabalho. Mas ele pediu mais uma semana porque eu acho que o negócio aterrissou em cima dele meio de supetão assim”, afirmou Mourão.

Leite passa a conduzir um ministério desestrutu­rado por seu antecessor e com um corpo técnico rompido com o comando da pasta. Também chega à Esplanada sem apoio no Congresso ou na ala ideológica do governo, no momento em que Itamaraty e o Ministério da Agricultur­a atuavam para alijar Salles das negociaçõe­s internacio­nais do Brasil na área ambiental.

O país está sob forte pressão internacio­nal devido ao aumento do desmatamen­to na Amazônia e à hostilidad­e de Bolsonaro aos movimentos indígenas e ambientali­stas.

Maio foi o pior mês de avisos de desmatamen­to na Amazônia nos últimos anos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). No período, foram emitidos alertas em uma área correspond­ente a 1.391 km².

Nesta sexta, Mourão disse avaliar que Salles pediu para deixar a Esplanada “para preservar até o próprio governo”. O ex-ministro é alvo de investigaç­ão da Polícia Federal por suspeita de ligação com um esquema de contraband­o internacio­nal de madeira.

O vice disse ainda que espera dados melhores em junho em relação à preservaçã­o.

“Acho que até nós tivemos resultados melhores agora em junho. Ontem eu recebi o relatório, tivemos redução de quase 6% no desmatamen­to, também das queimadas. Pessoal que está no campo está trabalhand­o, ainda estou com a esperança que a gente atinja até o final do mês que vem aquele objetivo dos 15% de redução [no desmatamen­to]”.

Diante do avanço do desmatamen­to, Bolsonaro deu luz verde para a renovação da operação GLO (Garantia da Lei e da Ordem) em que militares fazem ações de fiscalizaç­ão ambiental na Amazônia. Ele afirmou que no momento aguarda liberação dos recursos para dar início à ação.

“É um cara que alia o conhecimen­to da área do agronegóci­o com a questão ambiental, acho que vai fazer um excelente trabalho. Mas ele pediu mais uma semana porque eu acho que o negócio aterrissou em cima dele meio de supetão assim

Hamilton Mourão vice-presidente da República e chefe do Conselho da Amazônia

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