Comissão convoca Braga Netto para tratar de ameaças
Câmara convoca ministro da Defesa para esclarecer declaração que condicionaria pleito ao voto impresso
Uma comissão da Câmara convocou o ministro da Defesa, general Braga Netto, para explicar declarações de que as eleições de 2022 só ocorrerão com voto impresso.
brasília Uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (3) a convocação do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, para dar explicações sobre supostas ameaças às eleições de 2022 se o voto impresso não for aprovado pelo Congresso.
O requerimento, do deputado Rogério Correia (PT-MG), foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público. O general deve comparecer no colegiado no próximo dia 17.
O objetivo é que Braga Netto esclareça “supostas afirmações feitas a interlocutores, conforme publicação do jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 de julho, condicionando a realização de eleições à adoção do voto impresso como forma de promoção de auditoria da referida eleição”.
“O ministro da Defesa não pode chantagear uma nação, nem deixar dúvidas sobre o processo democrático, e insinuar que isso pode ser substituído por um fechamento autoritário, especialmente sendo ele um general da reserva”, disse Correia. “O Parlamento brasileiro não pode também deixar que essa dúvida paire sobre a cabeça do povo.”
“Se pairar dúvida sobre isso, ele tem que simplesmente sair, porque não seria digno de ocupar um Ministério da Defesa, que, em outras questões, precisa também defender a democracia no nosso país”, afirmou o deputado.
A reportagem de O Estado de S. Paulo dizia que o ministro teria mandado recado por meio de um interlocutor ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que, sem a aprovação do voto impresso, não haveria eleições em 2022.
Lira teria dito ao interlocutor que não participaria de nenhuma ruptura institucional.
Em nota no mesmo dia, o general fez coro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e disse que há no país uma demanda por legitimidade e transparência nas eleições.
Segundo ele, a discussão sobre o “voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima”.
“Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias”, afirmou o militar.
“A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo governo federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”, disse Braga Netto na nota, em recado indireto a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).
O tema tem sido reiterado por Bolsonaro para fazer ameaças golpistas contra o pleito de 2022. Ele já afirmou, várias vezes, que, se a mudança não ocorrer, não haverá eleições.
Em live no último dia 29, após três anos denunciando supostas fraudes nas eleições, Bolsonaro só trouxe teorias que circulam há anos na internet, já desmentidas.
Ao longo de sua fala, mudou o discurso e admitiu que não pode comprovar se as eleições foram ou não fraudadas.
“Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios”, declarou. Ao final da exposição, disse a jornalistas que havia mostrado suspeitas. “Suspeitas fortíssimas. As provas você consegue com a somatória de indícios. Apresentamos um montão de indícios”.
A comissão que analisa a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso deve apreciar o relatório do deputado Filipe Barros (PSLPR) nesta quinta-feira (5). A expectativa é que o texto seja derrotado no colegiado.