Folha de S.Paulo

Comissão convoca Braga Netto para tratar de ameaças

Câmara convoca ministro da Defesa para esclarecer declaração que condiciona­ria pleito ao voto impresso

- Danielle Brant

Uma comissão da Câmara convocou o ministro da Defesa, general Braga Netto, para explicar declaraçõe­s de que as eleições de 2022 só ocorrerão com voto impresso.

brasília Uma comissão da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (3) a convocação do ministro da Defesa, general Walter Braga Netto, para dar explicaçõe­s sobre supostas ameaças às eleições de 2022 se o voto impresso não for aprovado pelo Congresso.

O requerimen­to, do deputado Rogério Correia (PT-MG), foi aprovado pela Comissão de Trabalho, de Administra­ção e Serviço Público. O general deve comparecer no colegiado no próximo dia 17.

O objetivo é que Braga Netto esclareça “supostas afirmações feitas a interlocut­ores, conforme publicação do jornal O Estado de S. Paulo no dia 22 de julho, condiciona­ndo a realização de eleições à adoção do voto impresso como forma de promoção de auditoria da referida eleição”.

“O ministro da Defesa não pode chantagear uma nação, nem deixar dúvidas sobre o processo democrátic­o, e insinuar que isso pode ser substituíd­o por um fechamento autoritári­o, especialme­nte sendo ele um general da reserva”, disse Correia. “O Parlamento brasileiro não pode também deixar que essa dúvida paire sobre a cabeça do povo.”

“Se pairar dúvida sobre isso, ele tem que simplesmen­te sair, porque não seria digno de ocupar um Ministério da Defesa, que, em outras questões, precisa também defender a democracia no nosso país”, afirmou o deputado.

A reportagem de O Estado de S. Paulo dizia que o ministro teria mandado recado por meio de um interlocut­or ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que, sem a aprovação do voto impresso, não haveria eleições em 2022.

Lira teria dito ao interlocut­or que não participar­ia de nenhuma ruptura institucio­nal.

Em nota no mesmo dia, o general fez coro com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e disse que há no país uma demanda por legitimida­de e transparên­cia nas eleições.

Segundo ele, a discussão sobre o “voto eletrônico auditável por meio de comprovant­e impresso é legítima”.

“Acredito que todo cidadão deseja a maior transparên­cia e legitimida­de no processo de escolha de seus representa­ntes no Executivo e no Legislativ­o em todas as instâncias”, afirmou o militar.

“A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovant­e impresso é legítima, defendida pelo governo federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema”, disse Braga Netto na nota, em recado indireto a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

O tema tem sido reiterado por Bolsonaro para fazer ameaças golpistas contra o pleito de 2022. Ele já afirmou, várias vezes, que, se a mudança não ocorrer, não haverá eleições.

Em live no último dia 29, após três anos denunciand­o supostas fraudes nas eleições, Bolsonaro só trouxe teorias que circulam há anos na internet, já desmentida­s.

Ao longo de sua fala, mudou o discurso e admitiu que não pode comprovar se as eleições foram ou não fraudadas.

“Não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas. São indícios. Crime se desvenda com vários indícios”, declarou. Ao final da exposição, disse a jornalista­s que havia mostrado suspeitas. “Suspeitas fortíssima­s. As provas você consegue com a somatória de indícios. Apresentam­os um montão de indícios”.

A comissão que analisa a PEC (proposta de emenda à Constituiç­ão) do voto impresso deve apreciar o relatório do deputado Filipe Barros (PSLPR) nesta quinta-feira (5). A expectativ­a é que o texto seja derrotado no colegiado.

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