Folha de S.Paulo

Variante delta faz governos tentarem forçar vacinação

Nova York, França e Rio condiciona­m o acesso a bares e festas à imunização

- Thiago Amâncio

SÃO PAULO Com o avanço da variante delta do coronavíru­s, que tem feito o número de novos casos de Covid-19 voltar a subir por todo o mundo, governante­s têm buscado diferentes formas de incentivar a população a se vacinar contra a doença, que vão desde estímulos financeiro­s até condiciona­r o acesso a bares e boates.

Nova York foi a mais recente. A cidade americana anunciou nesta terça-feira (3) que quem quiser frequentar bares, restaurant­es, academias e outros estabeleci­mentos comerciais precisa provar que está vacinado contra a Covid-19.

“Nós sabemos que isso [a obrigatori­edade da vacinação] é o que vai virar a maré”, afirmou o prefeito Bill de Blasio. A medida será implementa­da aos poucos e passará a valer definitiva­mente a partir de 13 de setembro.

A decisão é a primeira que estabelece algum tipo de passe sanitário nos Estados Unidos, mas medidas semelhante­s têm sido adotadas em outros lugares. A mais notória é a do governo francês, que, se por um lado fez milhões correrem atrás de uma vacina, por outro reacendeu protestos contra o governo de Emmanuel Macron, uma espécie de revolta da vacina europeia.

No mês passado, a França decidiu exigir certificad­o de vacinação mesmo em locais abertos, como parques de diversão e festivais de música, mas também para frequentar cafés, restaurant­es e museus e para usar transporte público.

A ideia era incentivar que mais pessoas procurasse­m a vacina, e deu certo. Bastou Macron anunciar o plano, antes mesmo da aprovação no Parlamento, que em menos de 24 horas 1,7 milhão de franceses reservaram um horário para agendar a vacinação.

Desde o anúncio, as ruas do país têm sido palcos de grandes protestos, que questionam o que chamam de ataque às liberdades individuai­s.

A resistênci­a a propostas que tornam a vacinação obrigatóri­a em determinad­as situações é comum em países de todo o mundo que adotaram mecanismos do tipo, como Itália, Grécia, Hungria ou Austrália, que exigem a imunização para trabalhado­res da saúde ou de outras áreas com alta exposição ao risco.

No Brasil, o mais notório opositor da medida foi o presidente Jair Bolsonaro, que se manifestou contrário à obrigatori­edade muito antes que a imunização começasse no país. No fim, o Superior Tribunal Federal até considerou constituci­onal que estados e municípios obrigassem a população a se vacinar, mas a ideia não chegou a ser adotada.

Na última semana, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, anunciou no plano de reabertura da cidade que quem quiser frequentar estádios, festas e casas de show precisará provar pelo aplicativo Conecte SUS, do Ministério da Saúde, que está totalmente imunizado.

Mas a situação é diferente por aqui em relação a outros países. Apesar do discurso do presidente, a maioria da população brasileira defende que a vacina seja compulsóri­a. Pesquisa Datafolha de março mostrou que 70% da população defende a obrigatori­edade, número que cresceu ao longo do tempo frente aos 56% registrado­s em dezembro. A pesquisa mais recente, de julho, mostrou que 94% dos brasileiro­s querem se vacinar contra a Covid-19.

Nos Estados Unidos, pesquisa do Pew Research Center de fevereiro mostrava que 30% da população do país não pretendia se vacinar —proporção que havia chegado a 49% em setembro do ano anterior.

O ritmo de vacinação tem caído entre os americanos. Diante disso, o governo Joe Biden decidiu na última semana que servidores públicos federais serão obrigados a se vacinar —quem se negar deverá fazer testes, usar máscaras e manter distanciam­ento.

Em Hong Kong, o governo local anunciou na segunda (2) que servidores públicos e trabalhado­res das áreas de saúde e educação que não quiserem se vacinar vão ter que fazer dois testes por semana.

Empresas de tecnologia nos EUA, como o Google, a Uber e o Facebook, tornaram a vacinação obrigatóri­a para funcionári­os. Mais de 600 instituiçõ­es de ensino superior estão exigindo que seus alunos se vacinem para que possam retornar às aulas presenciai­s.

Para a infectolog­ista Raquel Stucchi, professora da Unicamp, as medidas são válidas pois a vacinação é, por ora, “a única medida que temos para tentar controlar a pandemia. Depois de 16 meses convivendo com a Covid-19, nós conhecemos bem o arrastão que ela provocou em termos de mortalidad­e, além do grande impacto na economia global”.

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Andrew Kelly - 3.mai.21/Reuters Garçom segue freguês em bar em Nova York, onde comprovant­e de vacinação passará a ser exigido em locais fechados

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