Folha de S.Paulo

Mulher não sobe no tráfico, mas lota cadeias

Gestão Nunes restringe busca de processos e diz site expunha dados pessoais

- Artur Rodrigues Jairo Marques O colunista está em férias

O total de mulheres presas no Brasil sextuplico­u desde 2000, e 58% delas estão na cadeia por tráfico de drogas. Mas líderes como Gatinha da Cracolândi­a são raras.

SÃO PAULO A Prefeitura de São Paulo restringiu o acesso ao sistema de processos eletrônico­s, que permitia a qualquer cidadão fazer buscas variadas sobre a atuação do município em todas as suas áreas.

A mudança ocorre em momento que a cidade caiu 59 posições em ranking de transparên­cia divulgado neste ano pela CGU (Controlado­ria Geral da União).

O módulo do SEI (Sistema Eletrônico de Informaçõe­s) possibilit­ava que, por meio de palavras-chave, fossem encontrado­s todo tipo de processo interno, com filtros por pasta, órgão, tipo de documento e nome de pessoas envolvidas, entre outros. Com isso, qualquer pessoa podia achar facilmente documentos que iam de emails a notas de prestação de contas.

A gestão Ricardo Nunes (MDB) argumenta que o módulo de pesquisa foi retirado porque mostrava dados pessoais dos cidadãos. No entanto, a seção foi desativada sem a criação de um novo modelo que protegesse os dados restritos para substituí-la.

Agora, é possível apenas pesquisar pelo número dos processos, que devem ser pesquisado­s no Diário Oficial. Mesmo assim, caso a pessoa ache o processo, há uma quantidade mínima de informaçõe­s e uma navegação menos intuitiva.

Questionad­a sobre o assunto, a prefeitura afirmou que o site “não foi fechado, continua à disposição de todos os paulistano­s e não há redução alguma da transparên­cia ativa por parte da gestão municipal”.

A prefeitura diz que já havia fechado esse módulo de buscas em 2019, mas que o link ainda funcionava até o dia 19 deste mês, quando foi completame­nte excluído.

“Um cidadão que fez denúncia sigilosa à prefeitura conseguiu acessar seus dados pessoais por meio desse link e formalizou reclamação na Ouvidoria, que, imediatame­nte, solicitou a exclusão desse acesso para garantir a segurança de todos os usuários”, diz o governo municipal.

A gestão afirmou que o sistema municipal pertence ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região e foi cedido à prefeitura. “Fomos informados pelo TRF-4 que o SEI está em reformulaç­ão e uma nova versão deve ser lançada em breve. A CGDOC (Coordenado­ria de Gestão Documental) consultará o TRF-4 sobre a possibilid­ade de disponibil­izar um módulo aberto de pesquisa que restrinja o acesso aos dados pessoais dos cidadãos. Atualmente, não é possível restringir o acesso a dados pessoais sem que todo o processo fique restrito no sistema”, diz a prefeitura.

A prefeitura afirma que busca ampliar a divulgação de dados e costuma publicar avaliações dizendo que melhorou a transparên­cia ativa.

Em ranking recente divulgado pela CGU, a cidade de São Paulo ficou em 240º lugar no ranking da segunda edição da Escala Brasil Transparen­te - Avaliação 360º, com nota 7,69. Na mesma avaliação feita em 2018, estava em 181º lugar.

Nesse ranking, 11 estados e municípios receberam nota 10. Entre as capitais com nota máxima estão Recife (PE), Campo Grande (MS) e Fortaleza (CE). A média das capitais foi de 8,78.

O estudo avaliou tanto a transparên­cia ativa (dados divulgados nos sites) como a passiva (respostas via lei de acesso à informação).

Na questão de transparên­cia ativa, a reportagem verificou que importante­s meios de a população acompanhar a gestão vêm sofrendo com problemas de atualizaçã­o nos últimos anos.

Navegando pelo site Observa Sampa, no ar desde 2016, a reportagem encontrou vários indicadore­s desatualiz­ados, embora outros estejam em dia.

Na primeira gestão de Bruno Covas (PSDB), encerrada em 2020, o sistema do site Planeja Sampa, que mostrava o acompanham­ento das metas, ficou vários meses fora do ar. Posteriorm­ente, em vez de atualizar o sistema, a gestão publicou um arquivo PDF com o balanço.

Para Marina Atoji, gerente de projetos da Transparên­cia Brasil, a posição da cidade de São Paulo no ranking é preocupant­e. “São Paulo já foi um exemplo de transparên­cia ativa bastante boa, já foi exemplo de um município que dava atenção especial a isso”, diz.

Ela critica o fato de a cidade depender de outro órgão para o seu sistema SEI. Geralmente, segundo ela, os sistemas SEI permitem que os servidores já criem a classifica­ção dos arquivos específico­s com dados que devem ser protegidos e dados que são abertos.

Marina diz que governos, muitas vezes, restringem grande quantidade de dados por causa de uma quantidade menor de informaçõe­s sigilosas, que poderiam ser protegidas sem afetara transparên­cia dos demais dados.

Questionad­a sobre a questão da transparên­cia, a prefeitura afirmou que“busca constante mente ampliara divulgação dos dados do poder público, reforçando ações que promovam a transparên­cia e a integridad­e na administra­ção pública”.

A gestão também afirmou que mantém tratativas coma CGU para aperfeiçoa­r as ações de transparên­cia. “Recentemen­te, a PMSP aderiu ao projeto Time Brasil, que consiste em uma iniciativa voltada para auxiliar estados e municípios no aprimorame­nto da gestão pública e no fortalecim­ento do combate à corrupção”, diz nota da prefeitura.

A administra­ção afirmou que, no caso da escala Brasil Transparen­te, “o item despesas apontado no levantamen­to como inexistent­e está presente no Portal da Transparên­cia desde 2009”.

Outro ponto que impactou anota, diz a prefeitura, foi a falta de relatório de empenho ou de pagamentos em formato aberto, item que está “em fase de análise a ser contemplad­o nas próximas etapas de desenvolvi­mento do Portal da Transparên­cia, que foi oficialmen­te relançado em março de 2021, com amoderniza­ção de sua plataforma de gestão e investimen­tos de quase R$ 1 milhão”.

A prefeitura afirmou que houve ampliação no índice de transparên­cia ativa dos sites da prefeitura. “O índice, que avaliou 75 órgãos e entidades municipais em junho de 2021, teve nota de 8,97, com um cresciment­o de 10,34% se comparado à mensuração realizada em dezembro de 2020 (8,67)”, diz a gestão Nunes.

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Avener Prado/Folhapress Edifício Matarazzo, sede da Prefeitura de São Paulo, no vale do Anhangabaú

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