Folha de S.Paulo

Resposta vigorosa

Ao reagir a ataques à democracia, Judiciário estreita os limites em que Bolsonaro se move

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Sobre reação da cúpula do Judiciário a Bolsonaro.

As mistificaç­ões de Jair Bolsonaro e sua celerada ofensiva contra as instituiçõ­es democrátic­as e o processo eleitoral receberam resposta vigorosa da cúpula do Poder Judiciário na segunda-feira (2).

Na reabertura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Fux cobrou respeito aos limites demarcados pela ordem constituci­onal e reafirmou o papel exercido pela corte que preside como guardiã das regras do jogo.

Todos os ex-presidente­s do Tribunal Superior Eleitoral ainda vivos vieram a público defender as urnas eletrônica­s que há duas décadas garantem a lisura das eleições brasileira­s —e que o chefe do Executivo busca desacredit­ar com suas patranhas.

Coube ao atual presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, expressar de forma mais veemente o repúdio aos ataques reiterados do mandatário. “Conspurcar o debate público com desinforma­ção, mentiras, ódio e teorias conspirató­rias é conduta antidemocr­ática.”

Reforçando palavras com ações, tomaram-se duas providênci­as para que a conduta de Bolsonaro seja investigad­a e ele possa ser responsabi­lizado por suas ofensas.

O corregedor-geral eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, abriu inquérito administra­tivo para examinar não só as investidas contra as urnas eletrônica­s mas também abusos de poder e outros crimes associados à campanha golpista que o presidente empreende.

Os responsáve­is pelas averiguaçõ­es terão poderes para realizar buscas e convocar testemunha­s, incluindo autoridade­s participan­tes do espetáculo ultrajante da semana passada em que Bolsonaro usou a internet para minar a confiança da população nas urnas.

Barroso pediu ainda que o ministro Alexandre de Moraes, que há dois anos conduz investigaç­ões sobre a disseminaç­ão de notícias falsas e ataques contra o STF, amplie o escopo do inquérito criminal para escrutinar os atos de Bolsonaro.

Causa incômodo a opção por abrir investigaç­ões de ofício, sem consulta prévia ao Ministério Público Federal, mas cumpre apontar que se trata de resposta à complacênc­ia com que a Procurador­iaGeral da República e o presidente da Câmara dos Deputados tratam os desmandos do presidente.

A reação do Judiciário define com firmeza os limites cada dia mais estreitos em que o chefe do Executivo se movimenta e aumenta os riscos da sua aposta na confusão.

Bolsonaro pode até continuar propagando suas teses alucinadas e incitando fanáticos a tumultuar as eleições, como voltou a fazer nesta terça-feira (3). Entretanto não poderá mais se furtar a prestar contas de suas ações temerárias contra as instituiçõ­es que até aqui agrediu impunement­e.

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