Folha de S.Paulo

Martine Grael e Kahena Kunze velejam até o ouro e são bicampeãs

Dupla da vela repete Rio-2016 na ilha de Enoshima para se igualar a Adhemar Ferreira da Silva

- Leandro Colon

enoshima Cinco anos depois da Baía de Guanabara, foi a vez de a ilha de Enoshima, no Japão, ser o palco da medalha de ouro das velejadora­s Martine Grael e Kahena Kunze.

A dupla brasileira conquistou o bi olímpico em Tóquio, nesta terça (3), na regata final da categoria 49er FX, após a prova ter sido adiada em um dia por questões meteorológ­icas. As velejadora­s terminaram a regata decisiva em terceiro, o suficiente para o título após 12 etapas na semana. As alemãs Tina Lutz e Susann Beucke (prata) e as holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz (bronze) completara­m o pódio.

No Rio, as brasileira­s saíram carregadas do barco pela torcida. Agora, sem espectador­es devido à Covid, deixaram a água de Enoshima, uma ilha a 50 km de Tóquio, sob gritos e aplausos da equipe brasileira da vela, incluindo Torben Grael, pai de Martine, cinco vezes medalhista olímpico e chefe do time nos Jogos.

“Aqui [Enoshima], proporcion­almente, foi muito bom, todos os nossos amigos estavam ali”, disse Martine logo após conquistar o segundo ouro. “Ter as pessoas que a gente admira tanto, que estão nessa batalha por ser atleta olímpico na vela... É muito difícil trilhar esse rumo.”

A vitória em dois Jogos consecutiv­os confirma o favoritism­o e reafirma o status da dupla: as brasileira­s, parceiras desde 2013, tornaramse nos últimos anos um fenômeno da vela, esporte no qual o Brasil acumula 19 medalhas olímpicas. Com exceção das modalidade­s coletivas, antes do bicampeona­to de Martine e Kahena apenas Adhemar Ferreira da Silva havia conquistad­o dois ouros na sequência. A façanha do atleta no salto triplo foi alcançada em Helsinque-1952 e Melbourne-1956.

Desde então, nem mesmo Robert Scheidt e Torben Grael, cada um com cinco medalhas olímpicas na vela, duas das quais de ouro, conseguira­m cumprir esse difícil roteiro. “É uma honra estar ao lado dos que fizeram nome no esporte. Ainda não caiu a ficha”, disse Kahena após a conquista.

As velejadora­s, ambas com 30 anos, têm dado sequência a uma tradição familiar. Pai de Martine, Torben Grael é recordista de medalhas olímpicas entre brasileiro­s —ao lado de Scheidt. Para ele, a vitória da filha vale muito mais do que as medalhas que conquistou. “Você, quando está competindo, está entretido. Não tem muito espaço para emoção. Não tem nada para fazer [de fora], só torcer. E é muito mais emocionant­e ver uma medalha dela do que ganhar uma, porque ver meus filhos bemsucedid­os é muito bom.”

Nesta terça, na regata da medalha, as velejadora­s foram ousadas na estratégia, ao partirem na direção oposta à das demais. Assim, conseguira­m tirar a pequena vantagem obtida pelas holandesas Annemiek Bekkering e Annette Duetz ao fim das 12 regatas que precederam a disputa decisiva.

“Dei uma olhada no píer, onde estavam torcendo, antes de a gente descer com o barco, e vi uma diferença de corrente bem grande. Sou do Rio, de Niterói, conheço bem a baía de Guanabara, e sabemos que a diferença de corrente favorece um lado ou outro”, explicou Martine, sobre a estratégia de última hora.

“Conseguimo­s ir bem livre na direita, e acho que ter ido rápido e livre foi a chave, porque estava com pouco vento. Se você fica no bolo, acaba não tendo muito o que fazer”, acrescento­u a medalhista.

De acordo com as regras olímpicas, as velejadora­s disputam um número determinad­o de regatas antes da prova decisiva. No caso da categoria 49er FX, foram 12. A dupla vencedora de cada uma das corridas ganha um ponto, a segunda colocada leva dois, e assim por diante. Se um barco não terminar uma regata ou for desclassif­icado, recebe pontuação equivalent­e ao total de competidor­es, além de um ponto adicional.

Assim, se 20 barcos estão na competição, quem é penalizado leva 21 pontos. A pior pontuação nas regatas é descartada, e a “medal race” conta em dobro. Ganha quem tem menos pontos ao fim da disputa.

Martine e Kahena chegaram à prova final dependendo só delas. Durante as regatas da semana, as brasileira­s terminaram em primeiro lugar em duas oportunida­des e ainda conseguira­m uma segunda colocação. Na corrida final, chegaram em terceiro lugar. Além das duas medalhas, elas acumulam o ouro no Mundial de 2014 e quatro pratas na mesma competição, em 2013, 2015, 2017 e 2019. Ainda colecionam um ouro (2019) e uma prata (2014) em Pan-Americanos.

Há cinco anos, a primeira vitória olímpica veio em casa, no Rio, na presença de familiares e amigos, e elas foram carregadas nas areias da Baía de Guanabara. Nos Jogos de Tóquio, viveram outra realidade, com isolamento na chegada ao Japão e falta de público devido à pandemia de Covid-19.

Em comum, no entanto, além do calor e da beleza das duas praias, a medalha de ouro, reafirmand­o a dupla brasileira como uma das mais talentosas da vela mundial.

Dei uma olhada no píer, onde estavam torcendo, antes de a gente descer com o barco, e vi uma diferença de corrente bem grande. Sou do Rio, de Niterói, conheço bem a baía de Guanabara, e sabemos que a diferença de corrente favorece um lado ou outro

Martine Grael velejadora bicampeã olímpica

É uma honra estar ao lado dos que fizeram nome no esporte. Ainda não caiu a ficha

Kahena Kunze velejadora bicampeã olímpica sobre os dois ouros em sequência; a última vez que um brasileiro conseguiu o feito foi em 1956, com Adhemar Ferreira da Silva

 ?? Olivier Morin/AFP ?? Martine Grael e Kahena Kunze celebram junto com a torcida após a conquista do bicampeona­to olímpico, em Tóquio
Olivier Morin/AFP Martine Grael e Kahena Kunze celebram junto com a torcida após a conquista do bicampeona­to olímpico, em Tóquio

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