Folha de S.Paulo

Kassio ficou fora de nota por nunca ter integrado a corte eleitoral

- Julia Chaib, Matheus Teixeira, Ricardo Della Coletta, Washington Luiz e Mateus Vargas Matheus Teixeira

Nesse caso, Bolsonaro também teria de apontar o dedo para o Congresso para justificar a derrota do projeto, algo politicame­nte complicado em um momento em que ele consolidou sua aliança com o centrão.

Ainda nesta terça, Bolsonaro voltou a sugerir que há um complô para eleger Lula em eleições fraudadas no próximo ano e repetiu a retórica anticomuni­sta que marcou sua campanha em 2018.

Em tom de ameaça, disse que pode convocar e participar de manifestaç­ões em resposta ao presidente do TSE.

“Repito, o último recado para que eles entendam o que está acontecend­o, passem a ouvir o povo, eu estarei lá”, disse Bolsonaro.

Se funciona como mobilizado­r da base mais radical, a escalada golpista preocupa parlamenta­res que querem encaminhar pautas no Congresso. O receio é que a permanente tensão institucio­nal contamine os trabalhos.

Alguns aliados de Bolsonaro se dizem receosos com os efeitos da escalada da crise sobre a votação, no Senado, da indicação de André Mendonça para uma vaga no STF.

Candidato “terrivelme­nte evangélico” para um assento na corte, o atual advogadoge­ral da União já encontra resistênci­as na Casa.

Mendonça passou esta terça no Senado em busca de apoio. Ele conversou com o senador Lucas Barreto (PSDAP) e esteve na liderança do governo no Congresso.

Questionad­o se as falas de Bolsonaro poderiam atrapalhar sua aprovação no Senado, respondeu que as afirmações feitas pelo presidente “são discussões naturais da política, que vão se resolver certamente com respeito”.

O ministro do STF Dias Toffoli aproveitou a volta aos trabalhos da Primeira Turma da corte, nesta terça, para também enviar recados.

Ele fez uma analogia com as Olimpíadas para ressaltar a importânci­a de manter o “genuíno respeito às regras do jogo, ao papel dos árbitros e à aceitação dos resultados”.

Para o ministro, atletas demonstram que o “respeito às regras do jogo e à autoridade dos que zelam pelas regras é a base de qualquer convivênci­a pacífica” e disse que essa fórmula “funciona não só no esporte, mas na convivênci­a entre as diferenças”.

Em relação aos ataques de Bolsonaro à urna eletrônica, Toffoli lembrou que novas ferramenta­s têm sido cada vez mais usadas em competiçõe­s esportivas e afirmou que quando há mais tecnologia, “há mais justiça na aferição dos resultados”. brasília O ministro Kassio Nunes Marques não foi convidado para assinar a carta a favor da urna eletrônica divulgada na segunda-feira (2) por nunca ter integrado o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Como os demais integrante­s do STF (Supremo Tribunal Federal) já foram da corte eleitoral, o primeiro indicado do presidente Jair Bolsonaro foi o único ministro a ficar fora da nota contra o voto impresso.

A carta foi articulada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, para demonstrar que o movimento contrário à mudança no sistema de votação defendida por Bolsonaro não se restringe ao comando do tribunal eleitoral.

Barroso ligou para os oito colegas que já foram do TSE e para outros nove ex-magistrado­s que presidiram a corte e convenceu a todos da importânci­a de mostrar unidade a favor da urna eletrônica para se contrapor à ofensiva do presidente da República.

Após a divulgação da carta e de surgirem questionam­entos sobre a ausência de Kassio da lista, porém, Barroso ligou para o colega para explicar o motivo de não tê-lo convidado para assinar a nota.

O indicado de Bolsonaro ao STF reagiu bem e ambos tiveram uma conversa amigável. Mais tarde, no entanto, o gabinete de Kassio divulgou uma nota para justificar por que não assinou o texto e desagradou integrante­s do Supremo pelo tom usado em sua explicação.

O texto diz que Kassio “não foi consultado previament­e em nenhum momento a fim de que pudesse concordar, ou não, com o teor da nota publicada pelo TSE“.

Kassio disse que “considera legítimo o posicionam­ento externado” pelos colegas, mas antecipou que votará a favor da mudança do sistema eletrônico de votação caso seja aprovada pelo Congresso e posteriorm­ente julgada pelo Supremo.

“Feita tal ponderação, o ministro Nunes Marques reconhece que o debate acerca do voto impresso auditável se insere no contexto nacional como uma preocupaçã­o legítima do povo brasileiro”, disse.

Parte do incômodo gerado no STF ocorreu pela expressão “voto impresso auditável” adotada por Kassio e que é amplamente usada por Bolsonaro.

Isso porque o TSE tem feito um esforço para explicar à população que a urna eletrônica já é passível de auditoria e que não é a impressão do voto que tornará o sistema auditável.

Esse argumento, inclusive, foi apresentad­o na carta divulgada na segunda ao ressaltar que todos os passos da implementa­ção do modelo são acompanhad­os por entidades públicas, pela Procurador­ia-Geral da República e por partidos políticos.

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