Folha de S.Paulo

Deputado afirma à PF que Pazuello relatou pressão de Lira por repasses

General nega teor de depoimento de Miranda; presidente da Câmara vai acionar Conselho de Ética

- Constança Rezende

BRASÍLIA O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse à Polícia Federal que o exministro da Saúde Eduardo Pazuello lhe relatou ter sofrido pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para enviar recursos da pasta para regiões que desejava.

O depoimento foi divulgado pelo jornal O Globo e confirmado por Miranda à Folha.

No relato, Miranda contou que ouviu o desabafo de Pazuello durante um voo, poucos dias antes de ser exonerado da pasta. Ele teria dito ter sofrido pressão de Lira e que não sabia como resolver.

“Arthur Lira botou o dedo na minha cara e falou assim: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’ porque eu não quis liberar a grana para a listinha que ele me deu dos municípios e lugares que ele queria que recebesse”, teria dito Pazuello a Miranda, segundo o deputado.

A Secom (Secretaria Especial de Comunicaçã­o Social) emitiu nota negando a pressão sobre Pazuello. Lira, também em nota, disse que o exministro deveria ser questionad­o sobre o assunto.

Miranda disse à PF que teria perguntado a Pazuello se o presidente Jair Bolsonaro sabia que o então ministro teria sofrido essa abordagem. Segundo o deputado, Pazuello teria respondido que sim.

“Eu falei, mas o presidente sabe disso? [Suposta resposta:] ‘Lógico que o presidente sabe, eu falei pro presidente’”, depôs o deputado.

“Eu falei: ‘Pazuello, você não tem noção do que você está falando para mim’. Aí, ele: ‘Luis, eu não duro essa semana, eu tô fora, eles vão me tirar, o cara falou para me tirar’”, prosseguiu Miranda no relato do suposto diálogo.

Surpreso com a resposta, o deputado perguntou se esta seria a referência que Pazuello teria feito sobre o “pixulé”, em seu discurso de despedida do ministério. Na ocasião, ele ligou a saída a pedidos negados por “pixulé”.

“Aí, eu falei: ‘Ah, isso é então aquele desabafo que você fez do pixulé?’ E ele falou: ‘É, porra, aquela história que eu falei, do tal do pixulé”, disse Miranda à PF sobre a conversa com o então ministro.

Em nota, Lira afirmou que questionam­entos deveriam ser feitos a Pazuello e que vai acionar Miranda no Conselho de Ética da Casa.

“A respeito das declaraçõe­s dadas pelo deputado Luis Miranda, as mesmas devem ser respondida­s pelo ex-ministro Eduardo Pazuello. Sobre as demais informaçõe­s propagadas, o deputado deverá responder no foro adequado, que é o Conselho de Ética da Câmara”, afirmou.

“O secretário de Estudos Estratégic­os da Secretaria de Assuntos Estratégic­os da Presidênci­a da República, Eduardo Pazuello, esclarece que não sofreu qualquer pressão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, durante sua gestão no Ministério da Saúde, para disponibil­izar recursos da pasta em atendiment­o a demandas do parlamenta­r”, disse a Secom.

Miranda disse à CPI ter relatado a Bolsonaro suposta irregulari­dade na compra da vacina Covaxin. Seu irmão, servidor da Saúde, relatou à Procurador­ia ter sofrido pressão atípica para liberar a importação da vacina.

No dia 2 de julho, a Folha mostrou que Pazuello disse a aliados que sofreu pressão de Lira e do atual ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, para liberar dinheiro ao centrão.

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