Deputado afirma à PF que Pazuello relatou pressão de Lira por repasses
General nega teor de depoimento de Miranda; presidente da Câmara vai acionar Conselho de Ética
BRASÍLIA O deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse à Polícia Federal que o exministro da Saúde Eduardo Pazuello lhe relatou ter sofrido pressão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para enviar recursos da pasta para regiões que desejava.
O depoimento foi divulgado pelo jornal O Globo e confirmado por Miranda à Folha.
No relato, Miranda contou que ouviu o desabafo de Pazuello durante um voo, poucos dias antes de ser exonerado da pasta. Ele teria dito ter sofrido pressão de Lira e que não sabia como resolver.
“Arthur Lira botou o dedo na minha cara e falou assim: ‘Eu vou te tirar dessa cadeira’ porque eu não quis liberar a grana para a listinha que ele me deu dos municípios e lugares que ele queria que recebesse”, teria dito Pazuello a Miranda, segundo o deputado.
A Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social) emitiu nota negando a pressão sobre Pazuello. Lira, também em nota, disse que o exministro deveria ser questionado sobre o assunto.
Miranda disse à PF que teria perguntado a Pazuello se o presidente Jair Bolsonaro sabia que o então ministro teria sofrido essa abordagem. Segundo o deputado, Pazuello teria respondido que sim.
“Eu falei, mas o presidente sabe disso? [Suposta resposta:] ‘Lógico que o presidente sabe, eu falei pro presidente’”, depôs o deputado.
“Eu falei: ‘Pazuello, você não tem noção do que você está falando para mim’. Aí, ele: ‘Luis, eu não duro essa semana, eu tô fora, eles vão me tirar, o cara falou para me tirar’”, prosseguiu Miranda no relato do suposto diálogo.
Surpreso com a resposta, o deputado perguntou se esta seria a referência que Pazuello teria feito sobre o “pixulé”, em seu discurso de despedida do ministério. Na ocasião, ele ligou a saída a pedidos negados por “pixulé”.
“Aí, eu falei: ‘Ah, isso é então aquele desabafo que você fez do pixulé?’ E ele falou: ‘É, porra, aquela história que eu falei, do tal do pixulé”, disse Miranda à PF sobre a conversa com o então ministro.
Em nota, Lira afirmou que questionamentos deveriam ser feitos a Pazuello e que vai acionar Miranda no Conselho de Ética da Casa.
“A respeito das declarações dadas pelo deputado Luis Miranda, as mesmas devem ser respondidas pelo ex-ministro Eduardo Pazuello. Sobre as demais informações propagadas, o deputado deverá responder no foro adequado, que é o Conselho de Ética da Câmara”, afirmou.
“O secretário de Estudos Estratégicos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Eduardo Pazuello, esclarece que não sofreu qualquer pressão do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, durante sua gestão no Ministério da Saúde, para disponibilizar recursos da pasta em atendimento a demandas do parlamentar”, disse a Secom.
Miranda disse à CPI ter relatado a Bolsonaro suposta irregularidade na compra da vacina Covaxin. Seu irmão, servidor da Saúde, relatou à Procuradoria ter sofrido pressão atípica para liberar a importação da vacina.
No dia 2 de julho, a Folha mostrou que Pazuello disse a aliados que sofreu pressão de Lira e do atual ministro da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, para liberar dinheiro ao centrão.