Folha de S.Paulo

Seca, geada e soja criam tempestade perfeita sobre o milho

- Mauro Zafalon

são paulo O avanço da soja nas últimas décadas empurrou o plantio do milho para um período do ano de grande risco, principalm­ente no Paraná.

Maior produtor nacional até a safra 2011/12, os paranaense­s foram reduzindo a área de plantio no verão e aumentando a de inverno, um período mais suscetível a interferên­cias climáticas.

Na safra de 2006/07, os paranaense­s já dedicavam um espaço maior para o milho semeado no inverno, a chamada safrinha, do que para o plantado no verão.

No âmbito nacional, a perda de área de verão para a safrinha só ocorreu em 2011/12.

Os efeitos dessa transferên­cia de plantio para um período de maior risco aparece de vez em quando, como neste ano.

Foi uma tempestade perfeita para o cereal. Começou com o atraso da soja, que retardou o plantio do milho para um período menos ideal, tanto no Paraná como em Mato Grosso, os dois maiores produtores.

Na sequência, vieram a seca, que reduziu a produtivid­ade, e as intensas geadas, principalm­ente no Paraná, em São Paulo e em Mato Grosso do Sul.

Os efeitos dessa conjugação de fatores negativos começam a aparecer com maior evidência nos números de produção. Nesta terça (3), o Deral (Departamen­to de Economia Rural) do Paraná mostrou que, após colheita de 12,2 milhões de toneladas de milho em 2020, a produção da safrinha deste ano está estimada, por ora, em apenas 6,1 milhões no estado.

O Paraná não é exceção. A AgRural, de Curitiba, reavaliou os números da safra do cereal e, agora, prevê uma produção de apenas 51,6 milhões de toneladas durante a safrinha na região centro-sul.

Computando-se as regiões Norte e Nordeste, a produção nacional deverá ficar em 54,6 milhões de toneladas, ante 70,5 milhões da safra de 2020.

Com a quebra da safra de inverno, a produção de milho do país recua para 82,2 milhões de toneladas neste ano, distante dos 102,6 milhões de 2020.

A quebra de produção modifica o cenário para o mercado brasileiro. A oferta foi reduzida para as indústrias, os preços dispararam e a necessidad­e de importação cresce.

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