Folha de S.Paulo

SP e RJ têm alta de internados acima de 80 anos por Covid, calcula Fiocruz

Projeção feita por pesquisado­r indica que já há tendência de aumento, na contramão de outras idades

- Júlia Barbon

rio de janeiro As hospitaliz­ações de idosos acima de 80 anos por Covid-19 voltaram a subir em São Paulo e no Rio de Janeiro, indica uma projeção feita pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Após meses de queda ou estabilida­de, os números nesses estados dão sinais de alta há cerca de um mês, na contramão das outras faixas etárias.

Os dados mostram que as internaçõe­s dos octogenári­os ou mais velhos provavelme­nte aumentaram de 666, na última semana de junho, para 985 na semana passada entre os paulistas (+48%). Entre os fluminense­s, o cresciment­o foi ainda maior, de 315 para 595 no mesmo período (+89%).

O método usado pelo estatístic­o Leonardo Bastos “corrige” o atraso nas notificaçõ­es no sistema do Ministério da Saúde para entender como os números estão se comportand­o atualmente. Bastos faz parte do grupo de pesquisa Métodos Analíticos para Vigilância Epidemioló­gica (Mave) da fundação.

Ele já faz esse tipo de análise há anos em doenças como dengue, chikunguny­a e a própria Covid. A novidade agora é desagregaç­ão dos números por faixa etária, explica. Agora que percebeu o aumento nesses dois estados, ele pretende analisar a tendência no restante do país.

No Rio de Janeiro, a alta começou no início de junho e já pode ser observada inclusive nas faixas dos 60 e 70 anos. Enquanto isso, todas as outras idades registram queda ou estabilida­de nas projeções —exceto as crianças de até nove anos, que no entanto têm poucas internaçõe­s semanais.

Com isso, a parcela de idosos entre os internados por Covid-19 deve voltar a ser majoritári­a quando os dados estaduais forem atualizado­s. A projeção aponta que os maiores de 60 anos passarão de 42% para 60% em São Paulo e de 51% para 66% no Rio, se comparados dados de uma semana de abril e da semana passada.

Os motivos para o aumento recente entre os mais velhos nesses estados ainda são uma incógnita. Uma das hipóteses mais intuitivas é que idosos estejam saindo mais de casa após receberem a segunda dose da vacina. Não só eles, como também seus familiares, que estariam se expondo mais só com a primeira dose.

Outra possibilid­ade, diz Bastos, é um aumento na transmissã­o entre pessoas que não aderiram à imunização ou não completara­m o esquema vacinal. Algo nesse sentido ocorreu nos Estados Unidos, que tiveram surtos localizado­s em lugares com baixa cobertura.

Uma terceira teoria é a perda de imunidade das vacinas ao longo do tempo. A alta nas internaçõe­s no Rio, por exemplo, começou a ser notada primeiro nas pessoas na faixa dos 80 anos, vacinados primeiro. Depois nos com 70 anos ou mais e então nos de mais de 60 anos, com poucas semanas de diferença.

Países da Europa e outros, como o Chile, já discutem a eventual necessidad­e de um reforço na vacinação. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou na última semana que encomendou um estudo à Universida­de de Oxford para avaliar a necessidad­e da aplicação de uma terceira dose a quem tomou Coronavac no Brasil, inclusive com a possibilid­ade de combiná-la com doses dos demais fabricante­s usados no país —Pfizer, Janssen e AstraZenec­a.

O Instituto Butantan, que produz a Coronavac no Brasil, em parceria com a farmacêuti­ca chinesa Sinovac, também iniciou em julho um trabalho para entender a duração dessa proteção. O objetivo é avaliar como se comportam as pessoas vacinadas com as duas doses da Coronavac após seis a oito meses da imunização. Não há, porém, previsão de aplicação de nova dose até o momento.

Além desses, há ao menos outros dois estudos em andamento, segundo a Anvisa: um analisa a segurança e eficácia da aplicação de uma dose de reforço da vacina da Pfizer, e o outro o uso de uma nova versão da AstraZenec­a desenvolvi­da contra a variante beta (B.1.351), identifica­da primeiro na África do Sul.

Segundo Bastos, há ainda outra possível explicação para a alta nas internaçõe­s nas pessoas acima de 80 anos. Grande parte delas recebeu a Coronavac, único imunizante disponível até então no Brasil, cuja efetividad­e diminui conforme o aumento das faixas etárias.

Uma pesquisa feita pelo Vebra Covid-19, que reúne cientistas de instituiçõ­es nacionais e internacio­nais, mostrou que a efetividad­e foi de 28% entre os maiores de 80 anos depois da aplicação da segunda dose, 49% entre os que têm de 75 a 79 anos, e 62% nas pessoas de 70 a 74 anos.

O provável aumento das internaçõe­s dos idosos em São Paulo e no Rio de Janeiro, porém, não se reflete nas mortes em nenhuma faixa etária, segundo os dados da Fiocruz. “Pode ser que as vacinas sejam mais eficazes em evitar óbitos, ou que essas hospitaliz­ações que vemos agora ainda não tenham evoluído para óbitos”, analisa Bastos.

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