Folha de S.Paulo

Exótica, fez sucesso como encantador­a de serpentes

TERESA COUTO RIBEIRO BASSELLA (1937-2021)

- Patrícia Pasquini coluna.obituario@grupofolha.com.br

são paulo A vida da índia Maluá foi cheia de incertezas e dissabores. Não se sabe ao certo seu nome verdadeiro, o local e a data de nascimento. Um documento antigo a apresenta como Maria Primavera, nascida na Bahia no dia 24 de agosto de 1931. Em outro, ela aparece como Teresa, nascida em Goiás no dia 24 de agosto de 1937.

Quanto ao nome artístico Índia Maluá, veio da cantora e atriz Vanja Orico, na década de 1950.

As informaçõe­s de sua trajetória são do escritor e pesquisado­r Alberto Camarero, 70, que tem um blog sobre Maluá. Os dois eram amigos desde 1972.

Da história sabe-se que sua mãe, Anelina, era índia; o pai não. Antes de completar um ano de idade, ele as levou para Bom Conselho, em Pernambuco. Anelina tornou-se alcoólatra e a maltratava. Assim, Maluá foi entregue a um orfanato e depois à uma família no Rio de Janeiro.

Uma série de dificuldad­es a acompanhou até que um olheiro a viu na praia e a levou para Luz del Fuego, uma vedete que se apresentav­a no teatro e em circos dançando com cobras. Luz a acolheu. Maluá tornou-se uma encantador­a de serpentes.

Em 1953, veio o convite para atuar no filme italiano “Yalis, a Flor Selvagem” com Vanja Orico.

Maluá apresentou-se com as serpentes em circos, teatros e boates no Brasil e na América Latina.

Em 1972, no Café dos Artistas, no Largo do Paissandu (centro), Maluá foi convidada para participar da peça teatral “A Viagem”, no Teatro Ruth Escobar, onde conheceu Camarero.

“Ela era um doce de pessoa, tímida, falava baixinho. Pessoa resignada com o que a vida lhe apresentou. Sofreu muitos abusos, mas nunca perdeu a dignidade”, diz.

Em 2012, mudou-se para Florianópo­lis e passou a viver com a filha, que é um capítulo à parte na história.

Crystal é fruto do relacionam­ento com um músico paraguaio no início dos anos 1960. Maluá a entregou, ainda criança, para ser cuidada por uma família, mas nunca a abandonou.

O fim da vida da índia Maluá afastou as mágoas e recuperou o amor. Ela morreu dia 29 de julho. Ela deixa uma filha e dois netos.

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