Folha de S.Paulo

Inspetoria da Guarda Civil Metropolit­ana terá fuzis e carabinas

- Alfredo Henrique

SÃO PAULO | AGORA A Prefeitura de São Paulo planeja comprar 20 fuzis e dez carabinas para a GCM (Guarda Civil Metropolit­ana), conforme publicado na edição de sextafeira (30) do Diário Oficial do Município. A compra do armamento custará R$ 400 mil e o recurso será disponibil­izado por meio de uma emenda parlamenta­r do vereador Delegado Palumbo (MDB).

Especialis­tas em segurança pública ouvidos pela reportagem são contrários à compra pela gestão Ricardo Nunes (MDB). Eles afirmam que esse tipo de armamento já é utilizado por forças especiais da Polícia Militar e que desvirtua as atribuiçõe­s da Guarda —criada para zelar pelo patrimônio público da cidade, segundo consta no próprio site da Secretaria Municipal de Segurança Urbana.

“É uma aquisição importante para o bom atendiment­o da população. A cidade de São Paulo tem 12,5 milhões de habitantes e a ação da prefeitura tem que ser de acordo com sua população”, disse o prefeito sobre a compra, por meio de sua assessoria, na sexta, durante vistoria à seda da Iope (Inspetoria Regional de Operações Especiais), da GCM.

A inspetoria especial, segundo Nunes, ajuda a combater o comércio ilegal, a pirataria, fazendo “um trabalho excepciona­l na cracolândi­a”, no centro da cidade, “combatendo o traficante, que é inimigo da cidade, da prefeitura, da Iope e da GCM”.

A secretária municipal da Segurança Urbana, Elza Paulina, afirmou que a futura compra está respaldada por legislação federal.

“Essas armas não serão utilizadas pelo efetivo normal. Somente pelo Iope, que tem uma carateríst­ica diferente das demais unidades da GCM. Eles terão treinament­o e as armas só serão usadas em situações específica­s”, disse.

Segundo a prefeitura, o Iope atua em apoio às outras unidades em “situações de crise, patrulhame­nto em regiões onde a mancha de criminalid­ade se acentua, controle de multidões, desocupaçã­o de prédios e instalaçõe­s ocupadas de formas alheias à lei.”

O pesquisado­r Dennis Pacheco, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ressaltou que a GCM cuida do patrimônio, ordem e espaços públicos.

“De maneira nenhuma a função da guarda está ligada a noção de policiamen­to, que é voltada para o enfrentame­nto. Na cracolândi­a, as questões a serem trabalhada­s pela prefeitura estão muito mais ligadas à gestão urbana, com pessoas em situação de vulnerabil­idade, do que de policiamen­to.”

Ele acrescento­u que fuzis são armas de “potencial destrutivo imenso”. “Isso [fuzil] é exatamente o que não precisa ter em São Paulo e na GCM.”

Para o professor Rafael Alcadipani, integrante do fórum, a compra dos fuzis é “um problema de redundânci­a”, pois segundo ele a Polícia Militar já conta com batalhões especializ­ados nas mesmas situações mencionada­s pela prefeitura, como a Rota, o Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) e os Baeps (Batalhões de Ações Especiais de Polícia).

“Isso [comprar fuzis para a GCM] me parece um desperdíci­o de dinheiro público, uma coisa muito mais para o marketing do que para a realidade”, destacou.

O analista criminal Guaracy Mingardi, também membro do fórum, dá força ao coro de especialis­tas, questionan­do as atribuiçõe­s da GCM.

“Se a Guarda faz o mesmo que a PM, tem de estar bem armada. O problema é que ela deveria trabalhar mais no policiamen­to de proximidad­e, comunitári­o. Se é para fazer o que a PM faz, não precisaría­mos da Guarda e, se os dois fazem a mesma coisa, ficam se atropeland­o”, afirmou.

A própria Secretaria Municipal da Segurança Urbana afirma, em seu site, ser a missão da GCM proteger bens, serviços e instalaçõe­s municipais.

“A corporação atua em toda a capital paulista e tem como principais atividades os seguintes programas: Proteção Escolar, Controle do Público, Proteção Ambiental, Proteção aos Agentes Públicos, Proteção ao Patrimônio Público e Proteção às pessoas em situação de risco”, diz trecho do texto de apresentaç­ão da instituiçã­o.

Questionad­a, a pasta não respondeu sobre as armas atualmente usadas pela GCM.

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