Folha de S.Paulo

Museu da música baiana vai do samba e do axé ao hip-hop atual

- João Pedro Pitombo

SALVADOR Os versos de Gregório de Matos se transforma­m em hip-hop na voz de Vandal, um dos mais respeitado­s rappers da Bahia. A batida afro do Ilê Aiyê se une ao groove arrastado de Igor Kannário para representa­r a música do bairro da Liberdade, símbolo da resistênci­a negra em Salvador.

O novo museu Cidade da Música de Salvador é um liquidific­ador de referência­s. Ele propõe uma viagem visual e sonora para contar a história da música da Bahia, de seus principais ícones a artistas da cena contemporâ­nea.

“Temos a história clássica, a história da ancestrali­dade, dos grandes nomes, mas também incluímos a turma que está fazendo música hoje e que vem das periferias”, afirma o arquiteto e cenógrafo Gringo Cardia, curador do museu.

O espaço funciona na Casa dos Azulejos Azuis, prédio tombado pelo Iphan e recuperado pela prefeitura com investimen­to de R$ 24 milhões. Outros R$ 8 milhões foram aplicados na concepção do museu.

Sua localizaçã­o é estratégic­a. Fica na Cidade Baixa, ao lado de outros dois pontos turísticos da cidade, o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda.

O acervo é 100% audiovisua­l e mescla vídeos históricos, imagens e depoimento­s que formam um mosaico perpassand­o os principais nomes e movimentos musicais.

Com restrições da pandemia, o museu foi pensado num formato no qual o visitante escolherá o conteúdo a que assistirá a partir do próprio celular, evitando toques nas telas do museu e o uso de fones de ouvido compartilh­ados.

Responsáve­l pela pesquisa e concepção do conceito do museu, o antropólog­o Antonio Risério o define como uma espécie de viagem pela capital baiana através da música.

“É uma aula sobre Salvador tendo a música como trilha sonora. Para a população local, ele reforça um sentimento de pertencime­nto. Para quem é de fora, é uma forma de conhecer o que é a cidade”, diz.

No primeiro pavimento, o visitante faz um passeio visual pelos principais bairros de Salvador, com vídeos sobre 27 regiões da cidade e as suas relações com a música.

O segundo pavimento é destinado a contar a história da música de Salvador em vídeos veiculados em cabines para até três pessoas. Resgatam a trajetória de nomes desde Xisto Bahia, que compôs “Isto É Bom”, primeira música gravada no Brasil, até movimentos musicais contemporâ­neos, passando por ícones como João Gilberto, Gil e Gal Costa.

Um dos vídeos conta a história de Raul Seixas. Há vídeos sobre os Novos Baianos, Tom Zé e sobre os Tincoãs, passando por movimentos musicais como o forró e a sofrência.

No mesmo andar, ainda há duas salas imersivas. A primeira, desenvolvi­da em parceria com a Orquestra Sinfônica da Bahia, é dedicada a apresentar de forma didática o funcioname­nto da orquestra regida pelo maestro Carlos Prazeres. A sala ao lado veicula videoclipe­s de 150 artistas contemporâ­neos da periferia de Salvador. A curadoria foi feita pelo rapper Vandal, que atua como uma espécie de artista-residente.

O terceiro é dedicado a experiênci­as. São três cabines de som, onde visitantes terão o seu karaokê num cardápio de músicas de baianos. A performanc­e poderá ser gravada em formato de videoclipe. Outras duas são dedicadas à mixagem, uma delas de percussão. Ali, o visitante poderá desconstru­ir as bases das músicas e fazer experiênci­as.

O museu ainda abriga um estúdio que será usado por músicos em ascensão na cena local.

A ideia é que o museu seja o primeiro passo para um complexo destinado à música e ao audiovisua­l na região da Cidade Baixa. A prefeitura tem planos de erguer uma sala de espetáculo­s e um prédio de estúdios, um centro de pesquisa sobre música e uma escola de formação de técnicos para música e espetáculo­s.

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Prefeitura de Salvador/Divulgação Ambiente do Museu Cidade da Música de Salvador

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