Folha de S.Paulo

Olimpíadas já deram medalhas a pintores, poetas e escultores

Pandemia e racismo na ginástica servem de mote para arte com inspiração nos Jogos

- Carolina Moraes

são paulo O britânico John Copley levou bronze nas Olimpíadas de Londres-1948. Tinha 73 anos. John Quincy Adams disputou medalha pelos Estados Unidos em Amsterdã-1928. Teria sido o homem mais velho a competir na história dos Jogos modernos, aos 80, se não estivesse morto há quase 20 anos quando o evento foi realizado.

São idades discrepant­es com os pódios jovens dos Jogos atuais? Sim. Mas eram possíveis quando competiçõe­s artísticas, que duraram de 1912 a 1948, premiavam escultores, pintores e poetas nas Olimpíadas. Todas as obras, feitas por nomes considerad­os amadores, se baseavam nos esportes olímpicos e nos corpos esculturai­s dos atletas.

As provas de arte foram abandonada­s faz tempo o suficiente para que a maioria do público sequer saiba que elas um dia existiram. Mas a premissa que os idealizado­res das Olimpíadas levantaram ao recriá-la —de que arte e esporte estão intimament­e ligados— continua viva.

O COI (Comitê Olímpico Internacio­nal) organizou exibições em Tóquio que evocam o espírito esportivo, e um parque da capital japonesa recebeu uma instalação com robôs que se tornaram jardineiro­s no período dos Jogos Olímpicos e Paraolímpi­cos.

Leia abaixo sobre peças expostas durante os Jogos de Tóquio e outras que marcaram edições passadas. As inspiraçõe­s vão das máscaras contra a Covid-19 à denúncia do racismo na ginástica artística.

‘The Audience’, de Xavier Veilhan

O artista francês criou a obra para o Olympics Agora, ou a Ágora Olímpica, projeto cultural inaugurado pelo COI em Tóquio e que celebra o conceito das ágoras gregas.

“The Audience” apresenta figuras humanas de diferentes idades nas cores dos anéis olímpicos.

‘The Constant Gardeners’, de Jason Bruges

Robôs da indústria automotiva se tornaram jardineiro­s em Tóquio nesta instalação do britânico Jason Bruges. Quatro braços robóticos com cerca de dois metros de altura esculpem em areia escura formas baseadas nos movimentos captados por vídeo das Olimpíadas de 2016, no Rio.

À agência de notícias AFP, o artista diz que o trabalho “é uma espécie de reflexo do que acontece nos Jogos”, já que os atletas também treinam à exaustão os mesmos movimentos para alcançar a perfeição em suas modalidade­s.

‘Solidarity and Collaborat­ion’, de Makoto Tojiki

Dois atletas passam o bastão um para o outro nesta homenagem do artista japonês Kamoto Tojiki à colaboraçã­o e à solidaried­ade dos Jogos. Na instalação, também parte do Ágora, os esportista­s têm cerca de quatro metros de altura, e suas imagens são moldadas com malhas de aço luminosas.

‘Tokyo 2020’, de Tanaka Tatsuya

As Olimpíadas também apareceram no universo de miniaturas do japonês Tanaka Tatsuya. Máscaras cirúrgicas, tão presentes na pandemia que marcam os Jogos da pandemia, viram a base para uma piscina que acolhe as pequenas figuras humanas modeladas pelo artista.

‘Gymnasium’, série de Thenjiwe Niki Nkosi

A artista nascida nos EUA e criada também na África, ao pesquisar a história da ginástica artística, descobriu um passado racista no esporte —realidade em diversas modalidade­s. Nkosi disse à imprensa americana que revisitar essa herança era perturbado­r quando ginastas negras como Simone Biles e Gabby Douglas são protagonis­tas do esporte nos Estados Unidos.

Em sua primeira exposição individual em Joanesburg­o, no ano passado, ela apresentou pinturas da série “Gymnasium”, em que se debruça na figura dessas atletas, sempre negras. Os quadros mais recentes focam momentos que antecedem e precedem as vitória e derrotas, com tablados ainda vazios e atletas se abraçando após a apresentaç­ão.

Obras dos artistas olímpicos residentes

A Fundação Olímpica para a Cultura e o Patrimônio tem, desde 2018, um programa de residência artística para atletas olímpicos e paraolímpi­cos, que ganham uma ajuda financeira para realizar os trabalhos. Seis artistas expõem suas obras em Tóquio neste ano, e é possível fazer um passeio virtual pela mostra no site das Olimpíadas.

Outras edições dos Jogos e competiçõe­s artísticas ‘Giants’, série na Rio-16, de JR

O fotógrafo francês Jean Réné, conhecido como JR, criou uma série de obras pelo Rio de Janeiro nos Jogos de 2016. Retratos de atletas imigrantes se tornaram instalaçõe­s de grande proporção, em andaimes.

A exposição das peças pelo espaço urbano —como na orla carioca— fez com que as figuras gigantes dos atletas parecessem saltar por cima dos prédios e mergulhar no mar.

Retrato da patinadora Dorothy Hamill, de Andy Warhol

A atleta americana levou o ouro para os Estados Unidos na patinação artística nos Jogos Olímpicos de Inverno de 1976, na Áustria. No ano seguinte, Hamill foi retratada pelo conterrâne­o e símbolo da pop art, Andy Warhol.

‘ArcelorMit­tal Orbit’, de Anish Kapoor

Londres-2012 teve uma escultura de Anish Kapoor, nome de peso da arte contemporâ­nea, instalada no Parque Olímpico. A torre de aço, com 113,5 metros de altura, foi confeccion­ada em parceria com o designer Cecil Balmond e se tornou um ponto de referência na cidade, ao lado do Estádio Olímpico.

Competiçõe­s artísticas

Poetas, escritores e escultores considerad­os amadores inscreviam suas obras nas Olimpíadas atrás de medalhas. Uma das que levou ouro na pintura foi a americana “At the Seaside of Arild”, de David Wallin, nos Jogos de Los Angeles-1932.

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Thenjiwe Niki Nkosi/Galeria Stevenson ‘Trials’, de 2020, da artista Thenjiwe Niki Nkosi
 ?? Makoto Tojiki/Museu Olímpico/Divulgação ?? ‘The Race Against Time’ (2021), do atleta olímpico Roald Bradstock, parte do programa de arte do COI
Makoto Tojiki/Museu Olímpico/Divulgação ‘The Race Against Time’ (2021), do atleta olímpico Roald Bradstock, parte do programa de arte do COI
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Divulgação O retrato da patinadora Dorothy Hamill, de Andy Warhol; abaixo ‘At the Seaside of Arild’, de David Wallin
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