Vão argentino
Sobre derrota do governo peronista em primárias.
Se um mau desempenho da coalizão governista já era antecipado nas eleições parlamentares argentinas em novembro, quando metade das cadeiras da Câmara e um terço do Senado estarão em disputa, as primárias realizadas no domingo (12) deram materialidade à rejeição da gestão atual.
No sistema argentino, as primárias servem como uma prévia qualificada, uma manifestação concreta dos humores da população —que se mostram desfavoráveis para o presidente Alberto Fernández e o peronismo que o sustenta.
No âmbito nacional, a coalizão oposicionista Juntos por el Cambio obteve 40% dos votos, contra 31% obtidos pela Frente de Todos, de situação. Regionalmente, a alteração é dramática, com vitória da oposição em 17 das 23 províncias e na cidade de Buenos Aires. Há apenas dois anos, o governo havia vencido em 19 províncias.
Na capital do país, os três candidatos que disputam a liderança da oposição obtiveram 48,2% dos votos, ante 24,7% do peronismo. Já o polêmico postulante libertário Javier Milei atingiu 13,7% com sua pregação em favor do Estado mínimo.
O resultado prenuncia uma derrota em novembro e uma potencial perda da maioria peronista no Senado, o que deve dificultar o restante do mandato do presidente. O baque foi forte a ponto de levar à renúncia de cinco ministros, numa tentativa difícil de reverter danos no pleito efetivo.
Começa a se imaginar mudança mais ampla nas eleições para a Casa Rosada em 2023, que poderiam pender mais uma vez para os liberais. Os resultados do governo são pífios na economia e pouco convincentes no combate à pandemia.
Em 2020 a economia argentina encolheu 10%, e a expectativa para este ano é de crescimento de não mais de 6%. Enquanto isso a inflação permanece em torno de 50% ao ano, com enorme déficit público financiado por emissão de moeda.
O receituário típico do populismo de esquerda cobra sua conta. Nem mesmo o congelamento de tarifas públicas e restrições às exportações de alimentos, como carne, conseguem conter os preços. Não se vê coerência de gestão das políticas monetária e fiscal.
Depois do desempenho sofrível de Mauricio Macri, a vida dos argentinos em nada melhorou com a volta do peronismo, que há muito não oferece saídas viáveis para os enormes problemas do país.