Folha de S.Paulo

Alcolumbre condiciona sabatina de Mendonça à certeza de derrota

Ante resistênci­a de presidente da CCJ, evangélico­s se reúnem com Bolsonaro em favor do ex-AGU

- Julia Chaib, Renato Machado e Marianna Holanda

brasília Escanteado da articulaçã­o política do Palácio do Planalto, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP) indicou a aliados que segue disposto a só iniciar a análise da indicação de André Mendonça ao STF (Supremo Tribunal Federal) quando tiver a certeza de que o nome do ex-ministro de Jair Bolsonaro será derrotado.

Nos cálculos de pessoas próximas de Alcolumbre e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), a Casa, com 81 integrante­s, está hoje praticamen­te dividida ao meio sobre o tema. Mendonça foi indicado por Bolsonaro em 13 de julho.

Governista­s buscam convencer Alcolumbre a pautar a sabatina e a votação na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça), que preside.

Um motivo de resistênci­a do ex-presidente do Senado é a perda de poder. Quando comandou a Casa (2019-2021), Alcolumbre ficou responsáve­l por coordenar a distribuiç­ão de emendas parlamenta­res. Agora, perdeu a tarefa, que ainda não foi designada a outro senador.

Bolsonaro recebeu lideranças evangélica­s e parlamenta­res no Planalto nesta quarta (15) para discutir a indicação. Após o encontro, o pastor Silas Malafaia disse que o presidente mantém o apoio a Mendonça e que não há “segunda opção” para a vaga no STF. Mendonça também participou do encontro, convidado por Bolsonaro, segundo os evangélico­s. Mais cedo, o grupo esteve com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Ainda de acordo com Malafaia, Pacheco teria dito que iria ajudar o ex-advogado-geral da União. “Vai falar com o Alcolumbre, vai pautar para resolver logo essa história”.

Apesar dos acenos tanto de Bolsonaro quanto do presidente do Senado, não há qualquer previsão ainda para a sabatina de Mendonça, que já bate recorde de espera na Casa.

O pastor disse não ter discutido prazo de sabatina com Bolsonaro, mas disse acreditar que em “uma semana, quatro dias, cinco dias”, Alcolumbre paute a indicação na CCJ.

Estiveram no encontro o presidente da bancada evangélica, deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), o bispo Abda ner Ferreira, da Assembleia de Deus (Madureira), pastor Samuel Camara, da Assembleia de Deus (Geral), o apóstolo Renê Terra Nova, do Ministério Internacio­nal da Restauraçã­o, entre outros. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) também acompanhou a conversa.

Se quando foi indicado Mendonça buscou se afastar da pecha de evangélico, hoje ele se agarra aos religiosos como última forma de pressionar o Congresso por sua indicação.

Os dois movimentos dos evangélico­s nesta quarta revelam que eles entraram no circuito para tentar garantir a realização da sabatina. A resistênci­a no Senado, contudo, não é só de Alcolumbre, segundo ministros de Bolsonaro.

Ainda que o presidente insista no nome de Mendonça para a vaga, o governo não fez uso até o momento das formas de pressão mais fortes que tem: emendas e cargos. Uma das principais missões do senador licenciado Ciro Nogueira ao assumir a Casa Civil foi tentar pacificar a indicação de Mendonça no Senado.

Para aprovação de Mendonça, é necessária a maioria simples na comissão. Mesmo se forem rejeitadas na CCJ, as indicações são submetidas ao plenário do Senado, onde dependem de maioria absoluta (41 dos 81 senadores). A votação também será secreta.

Kassio Nunes Marques, o último indicado ao STF, foi aprovado por 22 votos a 5 na CCJ. No plenário, o placar ficou em 57 a 10.

Hoje, segundo pessoas próximas de Alcolumbre, governista­s veem poucas chances de o clima melhorar para destravar a sabatina de Mendonça na CCJ. Até mesmo ministros reconhecem que a situação desfavoráv­el não mudou.

O governo chegou a colocar na mesa a possibilid­ade de Alcolumbre voltar a ter ingerência na distribuiç­ão de emendas. O Planalto desistiu da ideia, porém, depois de o senador ajudar na articulaçã­o da rejeição da minirrefor­ma trabalhist­a no Senado, configuran­do uma das maiores derrotas para Bolsonaro na Casa.

De acordo com aliados, a estratégia do senador é postergar a sabatina e tentar emplacar no seu lugar o procurador­geral da República, Augusto Aras. O atual procurador-geral tem trânsito maior no Senado —prova disso foi a aprovação sua recondução com certa facilidade. Aras teria o apoio de grande parte da oposição em razão da posição contrária à Operação Lava Jato.

Mendonça, por sua vez, é um nome fortemente ligado a Bolsonaro e sua indicação cumpre a promessa de ter no STF um nome “terrivelme­nte evangélico”. A situação do exAGU não deu sinais de melhora mesmo após a diminuição tensão entre os Poderes, na semana passada.

Logo após a divulgação da nota retórica de Bolsonaro, líderes governista­s buscaram aproveitar o bom momento para destravar a pauta de interesse do governo, em particular as medidas econômicas.

Senadores apontam que os líderes do governo pouco articulam para angariar apoio a Mendonça ou mesmo para aumentar a pressão sobre Alcolumbre para colocar a indicação em pauta na CCJ.

Em um possível novo gesto em busca de aproximaçã­o, Alcolumbre foi um dos 54 agraciados nesta terça (14) pelo prêmio Marechal Rondon, do Ministério das Comunicaçõ­es.

O prêmio foi entregue a praticamen­te todos os ministros do governo, a ministros do Supremo, aos presidente­s das duda as Casas legislativ­as, Pacheco e o deputado Arthur Lira (PPAL), e a outros congressis­tas.

Entre os senadores, receberam, além de Pacheco e Alcolumbre, o líder do governo, Fernando Bezerra (MDB-PE) e Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ).

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Marcos Oliveira - 17.dez.20/Agência Senado Davi Alcolumbre durante sessão no Senado

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